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A porca lactante e a suinocultura brasileira: desafios e oportunidades para atingir o sucesso produtivo e reprodutivo

Diego Duran Araujo é Zootecnista (UNESP, Botucatu-SP) e  Analista Nutrição Júnior Suínos, Vaccinar  

A porca lactante e a suinocultura brasileira: desafios e oportunidades para atingir o sucesso produtivo e reprodutivo

Releases EmpresasO advento do melhoramento genético forneceu à suinocultura mundial porcas extremamente prolíficas e com alta produção de leite que, em virtude da alta demanda de nutrientes, muitas vezes não conseguem consumir a quantidade adequada de ração que as atenda. Em função disso, essa categoria animal vivencia pronunciada mobilização de reservas corporais durante a lactação para suprir a produção de leite necessária aos aproximados 13-14 leitões nascidos vivos atuais. Diversos fatores colaboram para agravar ainda mais a perda de peso das lactantes e devem ser combatidos conjuntamente e sistematicamente nos sistemas de produção brasileiros.

Alguns ajustes fisiológicos e metabólicos precisam, em menos de uma semana, transformar a fêmea gestante em lactante, da maneira mais equilibrada possível, tendo em vista que subitamente ela passará da priorização de crescimento fetal intrauterino para produção láctea e crescimento mamário. As dietas de gestação e lactação, a composição corporal das fêmeas, a ambiência das instalações e o manejo diário adotado são fatores que, se bem geridos, podem ser desafios transformados em soluções.

A alimentação da fêmea suína gestante tem íntima relação com seu estado corporal e fisiológico no momento do parto e reflete diretamente seu desempenho subsequente. Porcas que parem muito gordas apresentam menor desenvolvimento dos tetos e reduzido consumo durante a lactação, ao passo que aquelas que vivenciam partos excessivamente magras apresentam baixo desempenho reprodutivo e maior mortalidade de leitões. Durante a gestação, o controle do arraçoamento (limitando ou estimulando o consumo em função do escore), a manipulação dos níveis nutricionais (principalmente no terço final) e a utilização de fibra na nutrição (minimização de constipação) são imprescindíveis para o sucesso do parto e lactação que estão por vir.

Após expulsar o último leitão pelo canal do parto, a porca precisa (em menos de dois dias) elevar seu padrão de consumo para aumentar a produção de leite para seus leitões. Para a realidade de nosso país, algumas estratégias nutricionais são interessantes para auxiliar a fêmea a ingerir todos os nutrientes dos quais necessita. O consumo de uma reprodutora de 200 kg tende a aumentar em 800 g/d para cada leitão lactente adicional e muitas vezes a ingestão voluntária não garante essa quantidade. Para isso, a utilização de óleos e palatabilizantes torna-se oportuna: o primeiro com a prerrogativa de adensar energeticamente a dieta e o segundo de estimular maior consumo e consequentemente maior absorção de nutrientes. O óleo de soja, matéria prima mais comumente utilizada como fonte energética, é suplementado em 3% a 5% e as fontes palatáveis são variadas, como melaço, resíduo de biscoito, açúcar e fontes sintéticas.

Invariavelmente, muitas propriedades suinícolas ainda passam por problemas de ambiência nas instalações e as porcas lactantes talvez sejam a categoria mais afetada por essa questão. Estima-se que o aumento de 1ºC acima da zona de conforto agrava em aproximadamente 1,5 kg a perda de peso na lactação, diminui 250 g da produção diária de leite, o que leva a uma redução de 50 g no ganho de peso diário (GPD) da leitegada. No âmbito do arraçoamento, o fornecimento de ração durante as horas mais frescas do dia potencializa a ingestão dessa categoria, assim como a manutenção de comedouros sempre limpos e bebedouros de fácil acesso e com um fluxo de água adequado. Dentre os investimentos diretos em ambiência, algumas medidas como pisos resfriados, arborização em torno das salas de maternidade, ventilação individual para as porcas e climatização podem colaborar para o desempenho da fêmea.

O padrão de consumo, capacidade de produção de leite, mobilização de reservas e as exigências nutricionais diferem dependendo da genética trabalhada dentro do sistema de produção. O respeito a essas características é essencial para que a fêmea possa ser longeva e expressar seu máximo desempenho e a combinação das oportunidades citadas podem auxiliar nesse sucesso. 

*Diego Duran Araujo é Zootecnista (UNESP, Botucatu-SP) e Analista Nutrição Júnior Suínos, Vaccinar