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Comentário

Brachyspira spp.: existe alguma influência da nutrição e do ambiente gastrointestinal na dinâmica dessa bactéria?

Apesar de não determinante, a suplementação de alguns ingredientes, bem como a característica da dieta tem potencial de influenciar a multiplicação e consequentemente a excreção desses patógenos pelo suíno

Brachyspira spp.: existe alguma influência da nutrição e do ambiente gastrointestinal na dinâmica dessa bactéria?

OutubroA resposta é sim! Apesar de não determinante, a suplementação de alguns ingredientes, bem como a característica da dieta tem potencial de influenciar a multiplicação e consequentemente a excreção desses patógenos pelo suíno. A Brachyspira é uma bactéria que causa uma infecção intestinal em animais de 60 a 95 dias com quadro de acometimento no ceco e cólon e manifesta-se de duas maneiras: diarreia mucohemorrágica severa (B. hyodysenteriae, “Disenteria Suína) e diarreia mucoide de menor gravidade (B. pilosicoli, “Colite Espiroquetal”). Este comentário abordará a suplementação de soja, óleos essenciais, ácidos graxos e inulina, além do impacto da viscosidade da dieta na multiplicação e excreção da Brachyspira pelo hospedeiro.

Particularmente nos últimos anos, tem-se dado muita atenção à “Formulação por Proteína Ideal”. Formular sob esse conceito significa reduzir a porcentagem de proteína bruta na dieta (basicamente manipulando – reduzindo – a inclusão de soja, em condições brasileiras), suplementando aminoácidos sintéticos com intuito de reduzir a excreção de nitrogênio no ambiente, melhorando, concomitantemente, o desempenho dos animais.

Nesse sentido, dietas com menor inclusão de soja alteram menos o ambiente intestinal, não criando, assim, condições favoráveis para a multiplicação da B. hyodysenteriae, uma bactéria proteolítica. Nesse âmbito, altas inclusões dessa matéria-prima podem aumentar o conteúdo proteico intestinal, que favorecem a proliferação de B. hyodysenteriae, aumentando sua excreção. Esse fato é relevante, tendo em vista a correlação positiva que parece existir entre a ocorrência/severidade de diarreia apresentada pelos animais e o montante de B. hyodysenteriae excretada nas fezes.

Os ácidos graxos de cadeia média (AGCM – cáprico, caprílico, láurico etc.) e os óleos essenciais (OE – timol, eugenol, carvacrol etc.) têm sido pesquisados como alternativas interessantes ao uso de antibióticos em suínos, agindo contrariamente à atividade microbiana. Os AGCM e seus derivados comumente apresentam cheiro característico e desagradável, o que pode reduzir a atratividade e em decorrência o consumo dos suínos. Uma alternativa, nesse caso, é a combinação dos AGCM e OE, que além de evitar aversão dos animais à dieta, pode modular a microbiota gástrica e reduzir a replicação de agentes indesejados nesse ambiente. Estudos recentes apresentaram evidências dessa redução para B. hyodysenteriae in vitro, o que pode sinalizar positivamente para futuras intervenções dietéticas que colaborem para o combate a esse agente.

Atuando, em termos práticos, na mesma linha dos ingredientes citados no parágrafo anterior, está a inulina. Ela é um polissacarídeo não amiláceo composto por unidades de frutose acopladas em uma molécula de glicose, sendo encontrada em diversas espécies de plantas, como carboidrato de reserva. Efeitos prebióticos da inulina já foram comprovados, através do favorecimento seletivo de microbiota benéfica como Bifidobacterium, Lactobacillus e Bacteroides, inibindo a replicação de agentes patogênicos como E. coli e clostrídeos. A inclusão de 80 g de inulina por quilo de dieta apresentou, experimentalmente, efeitos positivos na inibição da ação da B. hyodysenteriae. O mecanismo de ação parece estar relacionado ao maior aporte de carboidratos fermentáveis no intestino, favorecendo as bactérias que o degradam, em detrimento das bactérias proteolíticas como a Brachyspira. Isso pode levar tanto à redução direta da multiplicação de B. hyodysenteriae, quanto à redução de replicação de bactérias que facilitam sua colonização.

Alimentos como trigo, centeio, cevada, aveia, triticale e farelo de arroz são considerados viscosos. A utilização de enzimas como xilanases e glucanases tem o intuito primário de diminuir essa característica viscosa da dieta. E como esse fato se relaciona com o comportamento da Brachyspira no trato gastrointestinal? Dietas mais viscosas que potencialmente irão resultar em digestas mais viscosas podem causar estase da digesta no intestino delgado, concentrando substrato para multiplicação da bactéria em uma matriz. Ademais, alguns componentes do muco podem apresentar quimiotaxia à B. pilosicoli e B. hyodysenteriae (a última apresenta movimento livre através da camada de muco para atingir o epitélio).

A nutrição e modulação do trato intestinal, particularmente de leitões, tem sido alvo de diversos grupos de pesquisa ao redor do mundo e provavelmente será o carro chefe da nutrição de suínos nos próximos anos. Explorar seu potencial colaborativo no controle de replicação e disseminação de patógenos entéricos será de grande valia nos próximos anos e a longo prazo.