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Cálcio e fósforo digestível para avicultura e suinocultura

Por Alexandre Barbosa de Brito, médico veterinário, PhD em nutrição animal

Cálcio e fósforo digestível para avicultura e suinocultura

Os minerais compreendem cerca de 4% da composição corporal dos animais vertebrados; o Cálcio (Ca) e o Fósforo (P) respondem por mais da metade desta quantia. Ca e P são elementos intimamente associados ao metabolismo, ocorrendo no organismo combinados entre si na maioria das vezes, de modo que a carência de um ou de outro na dieta limita o valor nutritivo de ambos (Sá et al., 2004). Os nutricionistas tradicionalmente trabalham associando estes dois minerais em proporção 2,00 Ca : 1,00 P disponível (Pdisp.) para frangos, poedeiras em cria e recria e suínos, ou até 10 Ca : 1,00 Pdisp. para poedeiras em produção.

Para relatar como estas relações são importantes no desempenho animal, Walk et al. (2004) realizaram um experimento avaliando a influência de uma fonte de Ca altamente solúvel no desempenho de frangos de corte em quatro diferentes relações de Ca:P.disp., sendo eles: 1.41, 1.88, 2.34 e 2.81, respectivamente. Tanto o consumo de ração quanto o ganho de peso das aves aos 21 dias de idade foram afetados negativamente pelo uso de relações elevadas de Ca:P disp., demonstrando que mesmo com um custo relativamente baixo das fontes de Ca, o ideal é sempre mantê-lo em controle, pois seu excesso influencia na performance do animal. Estes autores também concluíram que a digestibilidade de P e o volume de P nos ossos foram aumentados em frangos de corte alimentados com dieta reduzida de Ca na presença de fitase.

Visto isso, trabalhar em sistemas que limitam tais variabilidades, em especial nas relações entre estes minerais, possuem uma importância cada vez mais relevante para o sistema de formulação moderno. Porém, antes de seguirmos com este raciocínio, se faz importante discutirmos como se processa a determinação destes valores de Ca e P.disp. que normalmente utilizamos na elaboração de dietas de aves e suínos.

De acordo com UFV (2017), tradicionalmente o valor de Ca é expresso pelo conteúdo total presente no ingrediente, sendo que este dado formulado em um alimento completo é utilizado como base para a determinação do requerimento animal de Ca em experimentos especialmente trabalhados para esta finalidade.

Já o conteúdo de P.disp., para os ingredientes de origem vegetal, são determinados realizando uma relação entre o conteúdo de fósforo na forma de fitato e o fósforo total do ingrediente, ou seja, o conteúdo de fósforo não fítico (PTotal – PFitico) dos produtos de origem vegetal são frequentemente considerados como P.disp., ou seja, com 100% de disponibilidade para os animais. O P.disp. dos produtos de origem animal, geralmente são calculados a partir do fósforo total, considerando-se com 100% de disponibilidade, exceto para as farinhas de carne e ossos, que as pesquisas demostraram ser somente 90% disponíveis.

Desta forma, atualmente realiza-se uma associação entre Ca na forma total e P na forma não fítica para a geração de dietas para aves e suínos. Esta é a grande questão que se discute neste momento, pois novas publicações caminham para considerar a matriz de digestibilidade destes nutrientes. Este ponto possui grande relevância porque a digestibilidade destes minerais pode variar entre os ingredientes da mesma origem nutricional (vegetal, animal ou mineral), pela alteração da forma física (ex.: calcário grosso x fino), pelo uso de fitases de cinéticas distintas e finalmente pela forma de determinação desta digestibilidade (coleta ileal ou total). Com isso estaríamos refinando os mecanismos de ajuste entre estas relações, reduzindo excessos em especial do volume de Ca, diminuindo perdas zootécnicas atreladas a esta ocorrência, como já discutindo no trabalho de Walk et al. (2004).

Estamos na fase de padronização da melhor metodologia para gerar os níveis de digestibilidade destes macrominerais. Para frangos de corte, o melhor caminho parece ser a determinação da digestibilidade verdadeira por meio de coleta ileal, retirando assim o efeito externo da urina que é parte integrante da excreta destes animais (Anwar et al., 2017). Já para suínos, parece não haver distinção entre o mecanismos de coleta ileal e total das fezes, sendo que a coleta total deverá prevalecer pela praticidade da avaliação (Zhang et al., 2017).

Atualmente existe uma ação em duas frentes de trabalho: a) determinação do padrão de digestibilidade destes macrominerais para aves e suínos; b) gênese de requerimentos e relações de Ca e P digestível para as espécies. Para o item “a”, existe uma gama importante de trabalhos já publicados para aves e suínos como os exemplos que seguem: Frangos (milho e farelo de canola – Mutucumarana et al. (2015), fontes de minerais inorgânicos e farinhas de peixe, canola e de vísceras de frangos – Anwar et al., 2018, fosfato bicálcico Zhang et al. 2018); e Suínos (dietas a base de milho e farelo de soja – She et al. 2018, farelo de soja – Dilger & Adeola 2006, diferentes genéticas de milho e farelo de soja milho – Bohlke et al. 2005, .

Já para o ítem “b”, realmente os trabalhos de suínos estão mais avançados, inclusive contemplando tabelas de requerimentos nutricionais (Ekpe et al. 2002, Vega-González et al., 2016) bem como sugestão de relações ideais de Ca digestível x P digestível que podem chegar até 1.35:1,00 (Stein 2016).

De qualquer maneira, ainda existe um caminho a ser percorrido para a utilização desta tecnologia. Em um trabalho recente, Rodehutscord et al. (2017) realizaram um estudo global com o objetivo de desafiar a padronização da metodologia de determinação da digestibilidade de P em frangos de corte de amostras de farelo de soja utilizando o protocolo de ensaio proposto pela World’s Poultry Science Association. Para isso os autores produziram três dietas com diferentes níveis de inclusão de farelo de soja e transportaram estes alimentos para 17 estações de pesquisa ao redor do mundo. O conteúdo de P digestível ileal do farelo de soja foi determinado por regressão linear e obteve uma variação significativa entre as estações experimentais, com resultados compreendendo entre 19 a 51% de digestibilidade. Desta forma, os autores concluem que este protocolo de determinação do conteúdo de P digestível, em especial em aves, precisa ser melhor avaliado, sugerindo cautela com a sua utilização destes dados atualmente.

Por isso, acredito que esta tecnologia ainda necessita de um maior investimento, porém caminha a passos largos para a implementação, em especial para suínos e aves de postura. Isso trará aos nutricionistas uma ferramenta importante para controlar ainda mais as relações entre os macrominerais e reduzir com isso problemas de relações nutricionais.