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Carboidratos na nutrição de suínos: velhos e novos conceitos, importantes para seu aproveitamento - Por Lucas Alves Rodrigues

Conhecer a estrutura química de carboidratos é essencial para entender como são utilizados pelos animais

Carboidratos na nutrição de suínos: velhos e novos conceitos, importantes para seu aproveitamento - Por Lucas Alves Rodrigues

AgostoDietas de suínos no Brasil são compostas, de maneira prática, por 20% a 30% de soja como fonte proteica e 50% a 60% de milho como fonte de energia, ficando os 10% a 30% restantes preenchidos por aditivos, minerais, vitaminas e demais matérias primas. Entretanto, mesmo considerando o importante papel de milho e soja na formulação, os nutricionistas precisam revisar constantemente conhecimentos básicos e aliá-los às atualizações para obterem sucesso na inclusão dessas e de novas fontes.

Conhecer a estrutura química de carboidratos é essencial para entender como são utilizados pelos animais. Nesse âmbito, temos os mono-, di-, oligo- e polissacarídeos, que são carboidratos com 1, 2, 3-9, ou > 10 graus de polimerização (unidades), respectivamente. Os monossacarídeos são representados por glicose e frutose, os dissacarídeos por sacarose e lactose, os oligossacarídeos por rafinose, estaquiose e frutooligossacarídeos e os polissacarídeos por amido, amido resistente e polissacarídeos não amiláceos. Os dissacarídeos são quebrados por enzimas endógenas em glicose + frutose (sacarose) e em glicose + galactose (lactose), assim como o amido que é quebrado em unidades de glicose. Os oligossacarídeos, os polissacarídeos não amiláceos e o amido resistente são quebrados em ácidos graxos de cadeia curta (os dois primeiros por suplementação exógena e o último por enzimas endógenas).

Apesar da estratificação bioquímica exposta acima, a complexidade dos carboidratos reside no fato de que eles não estão presentes como estruturas únicas na maioria dos alimentos e, sim, como uma mistura de mono, oligo- e polissacarídeos. Em alguns casos, por exemplo, eles podem associar-se a estruturas hidrofóbicas como as proteínas ou mesmo a paredes celulares que diminuem sobremaneira a digestibilidade do amido e outros nutrientes. Assim, o nutricionista deve utilizar essas informações prévias para fazer recomendações como suplementação de enzimas (dietas altas em trigo, por exemplo), direcionamento de matérias primas para determinadas categorias (lactose para leitões, amido como fonte energética para porcas).

De maneira geral, a digestão de açúcares, amido e oligossacarídeos ocorre majoritariamente no intestino delgado, sendo que algumas formas menos digestíveis do amido e oligossacarídeos deslocam seu sítio de digestão para o intestino grosso. Os polissacarídeos não amiláceos, por sua vez, têm a maior parte de sua digestão no intestino grosso. O sítio de digestão também determinará os produtos que serão gerados. Leitões, por exemplo, apresentam boa capacidade de digestão de oligossacarídeos como a lactose, sendo menos eficientes em aproveitar fontes que são digeridas por bactérias do intestino grosso (órgão ainda não está totalmente colonizado pelos micro-organismos). Porcas lactantes beneficiam-se da produção de ácidos graxos de cadeia curta (alta atividade de bactérias intestinais) no intestino grosso, revertendo os produtos para produção de leite.

Outro ponto a ser levado em consideração é o comportamento dos carboidratos ao longo do trato gastrointestinal. Os polissacarídeos não amiláceos, por exemplo, têm efeitos no aumento da viscosidade da digesta, assim como possíveis efeitos na atividade do muco intestinal. Considerando o impacto dessas substâncias no muco produzido pelo intestino, é possível inferir que o transporte de produtos da digestão pode se tornar lento, bem como o controle de preenchimento e esvaziamento do intestino (coordenado por receptores) pode estar alterado.

Esse comentário teve como premissa trazer à tona a complexidade dos carboidratos como nutrientes e instigar os nutricionistas sobre como eles podem ser utilizados na formulação de dietas de suínos.