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Estudo

Infecção pelo vírus de influenza em suínos

O artigo, publicado na revista Suinocultura Industrial, de autoria da Dra. Janice Zanella, da Embrapa Suínos e Aves revisa a evolução dos vírus da influenza suína (VIS) em suínos e aborda os trabalhos de pesquisa e investigação com esse vírus no Brasil

Infecção pelo vírus de influenza em suínos

SuinoculturaA influenza ou gripe é uma doença viral zoonótica que representa uma ameaça à economia e à saúde de ambos, humanos e animais no mundo todo. A doença é causada pela infecção pelo vírus influenza (VI), um patógeno altamente infeccioso responsável por surtos de doença respiratória aguda. O suíno, particularmente, é um hospedeiro importante na dinâmica e epidemiologia da infecção, pois pode se infectar com vários subtipos virais, originários de diferentes espécies como a humana, aviária e suína. Desta forma, a influenza suína (IS) é uma zoonose importante em virtude dos casos de influenza aviária altamente patogênica ocorrida nos últimos anos em países do sudeste asiático.

A IS foi primeiro reconhecida clinicamente em suínos no meio-oeste norte-americano em 1918, coincidindo com a pandemia conhecida como gripe espanhola. Nos primeiros 80 anos a IS, apesar de ser considerada importante para a indústria suína mundialmente, permaneceu relativamente estável. Todavia, a partir de 1998 novos subtipos e variantes genéticos surgiram, dificultando seu controle. Desde então, várias pesquisas já indicavam que o vírus da influenza suína (VIS) na América do Norte estava em constante evolução e iria continuar a causar problemas econômicos na produção de suínos e possíveis problemas de saúde pública.

Em março-abril de 2009, um novo vírus de influenza A/H1N1 surgiu na população humana na América do Norte e rapidamente foi considerado uma pandemia de grau 6 pelas autoridades sanitárias mundiais. Demonstrou-se que os genes do novo vírus, denominado vírus de influenza A H1N1 de 2009 pandêmico (H1N1pdm09) eram uma combinação de VIS da America do Norte e de linhagens da Eurásia e que nunca haviam sido identificados em suínos ou em outra espécie anteriormente. Apesar de não ser um risco de segurança de alimentos, de não estar presente na carne in natura, é um vírus infeccioso para humanos e várias espécies animais e, no suíno, pode causar sinais clínicos típicos de influenza.

Esse artigo vai revisar a evolução dos VIS em suínos e abordar os trabalhos de pesquisa e investigação com esse vírus no Brasil pela Embrapa Suínos e Aves. O objetivo desses estudos foi verificar a prevalência, a patogenia no hospedeiro suíno, e a transmissibilidade, visando fornecer metodologias de diagnóstico para apoiar o controle da doença.

Vírus da Influenza – o agente

São vírus pertencentes a família Orthomyxoviridae que contém cinco gêneros: influenza vírus A, B e C, Togotovírus e Isavírus. Destes, apenas os vírus influenza A são zoonóticos, sendo que os influenza B e C são patógenos humanos e o influenza C é capaz de infectar cães e suínos. O genoma viral é composto de oito segmentos de RNA interligados e protegidos por uma proteína viral chamada nucleoproteína (NP).

Os vírus de influenza A são tipados de acordo com suas proteínas de superfície: a hemaglutinina (HA) ou a neuroaminidase Suinocultura(NA), que são os maiores alvos da resposta imune do hospedeiro. A pressão imunitária é a maior causa na seleção de mutantes com substituições em aminoácidos, um processo chamado “antigenic drift”, que são mudanças menores na HA ou NA. Todavia mudanças maiores podem ocorrer no vírus, chamadas “antigenic shift”, causada por uma substituição de um segmento inteiro do genoma. Essa natureza segmentada no genoma do VI propicia o antigenic shift ou mesmo o reassortment ou rearranjo. Quando uma célula do hospedeiro é infectada com dois (ou mais) VI diferentes uma troca de segmentos gênicos entre eles pode ocorrer, permitindo a geração de uma progênie de vírus com uma nova combinação de genes.

Epidemiologia da doença

A IS é uma doença endêmica na maioria dos países do mundo, acometendo rebanhos e geralmente não seguindo o ritmo de estações do ano. A introdução em rebanhos ocorre por movimento de animais de reposição de origens diferentes e o VIS é transmitido principalmente de suíno para suíno por via nasofaríngea. A infecção característica tem um quadro de morbidade alta, afetando quase toda totalidade do rebanho, todavia a mortalidade é baixa.

Infecção pelo vírus da influenza A em suínos no Brasil

A pesquisa da influenza em suínos no Brasil tem evoluído em dados e em qualidade depois do surgimento do H1N1pdm09 na população humana e inúmeros surtos em suínos. Estudos anteriores que se destacam incluem um trabalho isolado que utilizou amostras de soro coletadas de suínos de dez Estados brasileiros no período de 1996 a 1999 e os testes de HI (inibição da hemaglutinação) que indicaram a presença de anticorpos contra os subtipos virais H1N1/Texas/1/77 (2.2%) e H3N2/New Jersey/76 (16.7%).

Sinais clínicos

Os sinais clínicos típicos de influenza são aqueles de doença respiratória aguda, caracterizada por febre, apatia, redução de consumo de ração, dificuldade respiratória, tosse, espirro, conjuntivite e descarga nasal. O curso dura entre dois e sete dias e observa-se um acometimento de muitos suínos do rebanho. Os suínos se recuperam em quatro a seis dias, sendo que na maioria das vezes as pneumonias bacterianas podem ocorrer.

Diagnóstico Laboratorial

O diagnóstico laboratorial do surto pode ser realizado por identificação viral através do isolamento do vírus de secreções nasais ou lavados pulmonares em cultivos celulares ou em ovos de galinha embrionados. O material suspeito deve ser remetido ao laboratório, em suabes de material sintético em meio de transporte (salina e glicerol) e conservado em refrigeração. Amostras de tecido de traquéia e pulmão também podem ser utilizadas.

Controle

O controle pode ser realizado por aplicação de vacinas e cuidados com biosseguridade. Uma cartilha publicada pela Embrapa Suínos e Aves, Gripe A – Recomendações para a Prevenção na Suinocultura explica quais são esses cuidados e pode ser obtida no site gratuitamente: http://www.cnpsa.embrapa.br/?ids=Sn6l70p1l&macro=3&tipo=18

Vacinas comerciais contra os tipos H1N1, H1N2 e H3N2, e mais atualmente o H1N1pdm09 estão disponíveis no mundo todo, todavia ainda não estão registradas no Brasil.

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