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Biocombustível

2020 e as principais tendências de avanço do biogás no Brasil

Polêmica ANEEL - Resolução 482/2012, veículos pesados movidos a biometano, novos modelos de negócio para produção e comercialização de biogás

2020 e as principais tendências de avanço do biogás no Brasil

Minicentral Termelétrica de Biogás transforma o biogás oriundo da suinocultura em eletricidade para o municípioO ano começou com muita expectativa para o setor de energias renováveis, principalmente para o biogás. Isso porque 2019 trouxe grandes avanços para o setor, como a inauguração da Minicentral Termelétrica de Biogás, no município de Entre Rios do Oeste (PR), onde 66 prédios públicos recebem luz que se origina no campo durante o processo de tratamento dos dejetos da suinocultura de 18 propriedades rurais. O dejeto se transforma em biogás que vira eletricidade, abastece a cidade e gera renda extra aos suinocultores.

Tão logo o ano virou, e o presidente Jair Bolsonaro se declarou contra as alterações sugeridas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) divulgadas em outubro de 2019, no que diz respeito à revisão da Resolução Normativa n° 482/2012 (REN 482), que estabelece a taxação e a retirada de estímulos referente à geração distribuída (GD), sobretudo para pequenos geradores de energias renováveis. Frente à este debate, associações como o Centro Internacional de Energias Renováveis – CIBiogás, Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABBD) e Associação Brasileira de Biogás (ABiogás) e a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) se posicionaram contra as alterações propostas e apresentaram contribuições para questão.

Outro fato marcante foi a meta alcançada pelo governo federal que, de 2010 a 2019 conseguiu tratar 38,3 milhões de m³ de dejetos animais, superando em quase nove vezes a meta de 4,4 milhões de m³ definida no Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC). A atividade resultou no Mapa Brasileiro de Sistemas de Dejetos de Animais (TDA-Map), plataforma digital lançada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (https://mapa.cibiogas.org/), em parceria com o CIBiogás. Nesse período, o tratamento de dejetos animais resultou em 391 milhões de tCO2eq (toneladas de dióxido de carbono equivalente) de mitigação de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), montante 57 vezes maior que a meta estipulada pelo plano (6,9 milhões de tCO2eq).

2020“2020 será o ano com grandes investimentos relacionados ao processo de transição energética” , Rafael Gonzalez, diretor interino do CIBiogás
Como destaque para 2020, pode-se eleger o desenvolvimento do gás e todo o seu mercado. Para o diretor presidente interino do CIBiogás, Rafael Gonzalez, 2020 será o ano com grandes investimentos relacionados ao processo de transição energética, especialmente para energias que reduzam os impactos no clima e no meio ambiente, como o setor de transportes. De acordo com o relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), os veículos representam 25% das emissões globais dos GEE.

Rafael acredita que o lançamento do programa do governo federal “Novo Mercado do Gás”, poderá estimular a produção do biometano como uma forma de entrega de gás no interior do país. “O biometano é uma fonte segura, com menor custo de produção se desenvolvido localmente”, explica. Prova dessa evolução é que o recente mapeamento de unidades de produção de biometano apresentou expressivo crescimento com novas plantas identificadas. De 3 unidades para 8, as cinco novas plantas cadastradas representam o avanço na produção de 6.880m³ para 300.045 m³. Confirmando essa tendência, a perspectiva é que até 2030 o biometano desloque 10% do diesel consumido no Brasil – o que representa cerca de 4 milhões de litros.

De acordo com Nilson Righi – gerente de Marketing de produto montadora New Holland, a expectativa é que em 2020 tenhamos tratores movidos a biometano disponíveis no mercado brasileiro. “Estamos acelerando para nos aproximar o máximo possível do cenário europeu”, revela. O biometano é um biocombustível gasoso, de origem limpa, resultado do processo de purificação do biogás até que seja semelhante ao gás natural. Neste contexto o biometano se apresenta como uma alternativa sustentável em comparação ao Gás Natural Veicular (GNV) que tem origem fóssil e não renovável.

Microgrid – segurança energética e avanço da GD nacional

Projeto Microgrid - Granja São Pedro novamente na vanguarda das energias renováveisA implantação e o desenvolvimento da Microgrid é outra tendência para 2020 e para os próximos anos, pois trará mais segurança energética ao campo e poderá reduzir prejuízos que eventuais quedas de energia causam aos produtores rurais. O primeiro projeto-piloto dessa tecnologia será implantado em 2020, no Oeste do Paraná, na Granja São Pedro, que no seu histórico tem o pioneirismo em ter sido a primeira unidade em GD no país há mais de uma década.

A novidade representa um marco de inovação no desenvolvimento da geração de energia do Brasil. “A Microgrid é um esquema de arranjo de eletricidade que beneficiará o produtor rural em situações emergenciais de queda de energia, operando de modo isolado da rede elétrica principal, tendo o biogás como fonte energética”, explica Natali. Além da equipe do CIBiogás, o projeto conta com o trabalho técnico do Laboratório de Automação e Simulação de Sistemas Elétricos (Lasse) e Núcleo de Inteligência Territorial (NIT), ambos do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em parceria com a Copel, financiado pela Itaipu Binacional.

Pesquisa e Desenvolvimento
O avanço das energias renováveis em 2020 também será impulsionado por outros projetos de P&D da ANEEL. Um deles, desenvolvido pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) do Rio Grande do Sul, CIBiogás e à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), tratará de entregar proposições de mudanças regulatórias e modelos de negócios para o setor de GD. A intenção é promover sinergia de interesses entre a concessionária e os clientes geradores de energia por meio de métodos renováveis, como a solar e a biomassa.

O pesquisador, engenheiro eletricista e coordenador do projeto, Maurício Sperandio (UFSM), acredita que os estudos irão fomentar a implementação de novos modelos de negócio envolvendo a GD por parte da distribuidora, e espera que impulsione o mercado, estimulando a diversificação de fornecedores de equipamentos, emprego, renda e novas plantas de biogás e energia solar.