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10 formas de propagação de patógenos

Teste o seu conhecimento sobre vetores e vias de transmissão dos agentes infecciosos de suínos nas unidades de produção.

Por Jake Waddilove* 

Redação (20/01/2009) – Ninguém espera fazer um bom controle de doenças infecciosas sem primeiro entender claramente a forma como elas se propagam nas unidades suinícolas. Por exemplo, não se pode eliminar o vírus da PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína) de um rebanho reprodutor por meio de técnicas de “teste – eliminação” de animais infectados se o sêmen ainda provém de um centro sorologicamente positivo para PRRS. O conhecimento das várias formas de transmissão de uma determinada doença também deve fazer parte das medidas de biosseguridade usadas no controle da transmissão de vetores.

Portanto, vale a pena parar e relembrar o conhecimento que você e o seus funcionários têm sobre as possibilidades de transmissão de infecções entre os suínos dentro dos barracões.

1) Transmissão por suínos

Este item sempre deve ser considerado como o fator de risco mais importante. Lembre-se do ditado de que a maior ameaça de doença a um suíno é outro suíno. Suínos ativamente infectados soltam grandes quantidades de patógenos, especialmente um pouco antes e durante a manifestação dos sinais clínicos da infecção. Esses patógenos podem estar presentes no ar exalado, na saliva, nas fezes, na urina, no sêmen, nos resíduos da pele e na matéria fetal — e podem infectar outros suínos. 

O isolamento é uma arma poderosa. Evitar a infecção da granja pela via direta do suíno significa que a granja deve ficar isolada de outros suínos e atividades relacionadas. Além disso, deve ficar longe das rotas de transporte de suínos e ter perímetros seguros para impedir o acesso de suínos extraviados ou selvagens. Obviamente, os riscos de doenças são maiores em granjas localizadas em áreas com grande população de suínos ou próximas a outros rebanhos.

A fim de controlar a propagação de patógenos dentro do sistema de produção, o fluxo dos suínos foi projetado de maneira a segregar animais com diferentes idades em locais, prédios ou  mesmo salas distintas. Em geral, essa estratégia na tentativa de reduzir a propagação tem dado bons resultados. Esses sistemas, contudo, diminuem a imunidade e aumentam a susceptibilidade a todo novo patógeno; por isso, é essencial maximizar a biosseguridade.

Os suínos comprados pelas unidades devem ser fornecidos por locais livres dos patógenos ou que estejam controlados. Tais aquisições precisam ser feitas baseadas na recomendação do veterinário, em análises adequadas e um sólido conhecimento do rebanho em oferta. É preciso que o diálogo com o grupo seja contínuo quando se deseja comprar suínos em crescimento. Quando os animais comprados tem como finalidade a reprodução, também é necessário discutir sobre o aspecto sanitário com o fornecedor. O adequado isolamento dos suínos que entram na granja, aumenta a proteção do rebanho (é comum isolar de 30 a 90 dias em quarentenário).

Durante esse período, uma estratégia de boa aclimatização é a exposição controlada aos patógenos do rebanho receptor e uma vacinação adequada promoverá a imunidade nos novos suínos e evitará que desestabilizem o rebanho principal quando entrarem. A biosseguridade entre as instalações de quarentenário e o rebanho principal devem ser mantidas. Adequadas medidas de biosseguridade externa ao local do quarentenário é item obrigatório.

O sêmen e os embriões também são possíveis vias de transmissão de doenças, pode-se comparar a sanidade destes de forma similar a climatização citada anteriormente. Análises apropriadas podem ser realizadas nas granjas fornecedoras ou no material genético. Pode-se obter proteção extra ao congelar o sêmen por um tempo depois da coleta, para verificar a sanidade do rebanho de origem, porém a fertilidade será reduzida.

2) Transmissão pelas fezes e pela urina

Muitos patógenos são propagados pelos dejetos, eles estão presentes nas fezes e na urina e são disseminados para diferentes granjas quando transportados mecanicamente (em um veículo, por exemplo) ou quando utilizados como dejetos líquidos no solo próximo a outra granja. A transmissão por aerossol das aspersões de dejetos líquidos pode ser um problema.

Dentro de uma granja a possibilidade de transmissão por via mecânica é reduzida ao limpar e desinfetar todo o equipamento que vai de um prédio ao outro, utilizando um desinfetante apropriado e de amplo espectro. Preste atenção especial às áreas onde os suínos podem se contaminar com as fezes de outros suínos, por exemplo, em corredores e passagens. Trate de controlar o deslocamento do equipamento e das pessoas de um prédio a outro.

A transmissão por via fecal e urinária de agentes infecciosos de um local a outro é reduzida ao controlar o movimento das pessoas e do equipamento, pela biosseguridade de veículos e ao providenciar que não haja transferência de equipamentos.

3) Transmissão aérea

É comum dizer que a transmissão pelo ar é a principal forma de transmissão de doenças. É verdade que existe comprovação de que vírus  como da febre aftosa se propaga a pelo menos 100 quilômetros de distância em condições favoráveis (frio, umidade e pela água) e que o Mycoplasma hyopneumoniae e Actinobacillus pleuropneumoniae (APP) podem se propagar em pequenas distâncias. Porém, a propagação de outros patógenos pelo ar não é assim tão fácil. O vírus da PRRS é um exemplo importante. Inicialmente havia se pensado que  tal virus se propagava facilmente pelo ar, no entanto foi descoberto que ele se desloca um quilômetro somente em raras ocasiões. Freqüentemente, a distância alcançada é inferior a 1 km.

Em galpões climatizados, a transmissão pelo ar pode ser evitada ao utilizar filtros adequados nas entradas de ar. Isso funcionou bem na presença de suínos não castrados em alta densidade, porém granjas altamente tecnificadas tiveram sua eficácia reduzida. Em ensaios com desinfetante de amplo espectro verificou-se que nebulizações periódicas reduzem a propagação de patógenos pelo ar dentro  do galpão.

4) Transmissão por humanos

A transmissão de patógenos por humanos é um problema difícil de ser solucionado e que exige controle. Por um lado, as pessoas podem ser considerados importantes transmissores de patógenos, mas, por outro,  demasiada exigência  pode causar verdadeiros transtornos logísticos e operacionais.

Os humanos podem carregar mecanicamente os patógenos nas roupas, na pele, no cabelo, nas botas ou, ainda internamente, como por exemplo no sistema respiratório ou digestivo. Controlar esse tipo de propagação exige imposição de limites referente ao deslocamento e acesso das pessoas. Ao entrar nas instalações, o pessoal deve  tomar uma ducha, usar roupas limpas e trocar roupas e botas usadas no ambiente externo.. Dentro da unidade, as botas devem ser desinfetadas em pedilúvios limpos e recém-trocados, utilizando um desinfetante viricida adequado como o Virkon® S, mas devem ser limpas antes de pisar no pedilúvio. Exija que os funcionários desinfetem as botas no pedilúvio pelo menos entre um galpão e outro. As mãos devem ser lavadas com sabão bactericida.

O deslocamento de pessoas entre os diferentes estágios de produção deve ser evitado. Quando não puder ser evitado, o deslocamento sempre deverá ser dos barracões com suínos mais novos para os mais velhos.

Um período mínimo sem contato com suínos deve ser uma exigência para entrar em uma granja, porém ainda há controvérsias a respeito deste assunto que necessita ser mais pesquisado. Tradicionalmente, as granjas exigiam um mínimo de duas noites sem contato com suínos, antes da entrada em uma nova granja. Essa informação foi baseada em um trabalho realizado há muitos anos sobre o vírus da febre aftosa. Há muitas provas indicando que esse período é excessivo e que, na maioria dos casos, uma noite no máximo é adequada quando combinada com medidas preventivas de troca de roupas e banhos.

5) Transmissão por outros animais

Os patógenos podem ser propagados por outros animais de criação comercial.Como exemplos poderiam ser citados os bovinos e ovinos (febre aftosa), animais silvestres (peste suína clássica de javalis), animais de estimação (Salmonella transmitida por gatos), aves (Influenza Aviária), insetos (Streptococcus suis e PRRS por moscas) e roedores (Brachyspira hyodysenteriae por camundongos). 

A transmissão pode ser mecânica (transportada no corpo do animal) ou biológica (com a multiplicação do agente no corpo de outro animal). Os outros animais poderão ou não exibir sinais clínicos da doença. Em circunstâncias extremas, alguns microorganismos podem ser transportados por muito tempo. Por exemplo, Brachyspira hyodysenteriae  que pode sobreviver no intestino de camundongos por 180 dias.

O controle da transmissão por outros animais baseia-se verdadeiramente na sua exclusão. Muitos serão excluídos por uma cerca com bom perímetro. Programas de controle de roedores devem ser adotados. O projeto do galpão deve propiciar o controle de roedores, a exclusão de aves e impedir a entrada de insetos voadores. Obviamente, galpões ao ar livre ou aqueles com ventilação natural apresentam maiores desafios.

6) Transmissão por veículos

Há muitos veículos que entram em contato com suínos ou granjas, podendo propagar patógenos. Veículos de transporte de suínos constituem o principal risco, mas não se esqueça que há  outros tipos , como caminhões de rações, veículos de serviço, caminhões de remoção de resíduos orgânicos e suínos mortos, bem como os carros do próprio pessoal da granja, etc  

O controle desse tipo de propagação é baseado em um bom planejamento e em bons protocolos. Tente excluir a circulação de veículos da granja. Isso pode ser alcançado por meio de um eficiente projeto da granja, com adequadas instalações de carregamento e descarregamento de animais e com entrega de rações realizadas do lado externo do perímetro cercado. Todos os veículos que se aproximarem da granja devem ser limpos, senão pelo menos as rodas devem ser desinfetadas ou passar pelo rodolúvio. Contudo, é conveniente ressaltar que a desinfecção será menos eficiente se houver excesso de sujeira e material orgânico nas rodas ou nos pára-lamas.

Esteja alerta do risco imposto por pessoas dentro dos veículos. Por exemplo, não permita que o motorista de um veículo de transporte de carga viva entre na granja pela rampa de carregamento. Artigos, como caixas de ferramentas carregadas nos veículos também apresentam riscos.

7) Transmissão por alimentos e água

Talvez o melhor exemplo de um patógeno transmitido pelos alimentos aos suínos seja a Salmonella quando propagada  através de alimentos produzidos ou tratados de maneira incorreta. A alimentação com subprodutos de origem animal na ração é hoje considerada ilegal em muitos países e deve ser evitada. A possibilidade de produtos utilizados para alimentação humana, atuar  como veículo de transmissão de patógenos, foi demonstrado em várias ocasiões nas quais os animais recebem estas sobras de alimentos.

A água também pode ser um agente na transmissão de patógenos. Fontes contaminadas, reservatórios de água descobertos e sistemas de distribuição deficientes são considerados problemas potenciais, bem como os biofilmes que se acumulam nos sistemas de água. Entre os exemplos de patógenos que podem ser propagados, destacam-se a E. coli, Salmonella e PRRS (a qual já foi demonstrada  que chega a sobreviver por 11 dias em um sistema de água após os suínos terem saído das instalações). Para controlar a disseminação na água, recomenda-se o uso de um desinfetante de amplo espectro  que possa ser usado como desinfetante final e durante o período em que os suínos estejam consumindo água.

8) Transmissão por fômites

Fômites são definidos como objetos inanimados que podem abrigar patógenos e servem como agentes de transmissão desses patógenos. Na produção de suínos há muitos fômites. Seria impossível relacionar todos, mas os seguintes são alguns exemplos: agulhas de injeção, frascos de remédios contaminados, equipamento que exige manuseio (como aparelhos de ultrasom), botas, roupas e finalmente, prédios podem disseminar patógenos de um lote de suínos ao próximo.

Obviamente, não é possível oferecer instruções específicas para cada caso de risco de contaminação nesta categoria. O criador ou o gerente de biosseguridade e o veterinário precisam avaliar cautelosamente os possíveis riscos e sua forma de controle. Freqüentemente, as medidas de controle são simples, como sanitizar as botas em pedilúvios entre uma sala e outra, trocar de agulhas de injeção frequentemente e estabelecer um protocolo de descontaminação completa para entregas (possivelmente incluindo câmaras usando óxido nitroso ou desinfecção aérea). Em muitos casos, o desenvolvimento e cumprimento de bons protocolos que efetivamente funcionem é considerado vital para o controle. Um simples exemplo é reforçar para que o equipamento não deva ser compartilhado em granjas diferentes e que os visitantes usem macacões e botas fornecidos pela granja.

Finalmente um programa completo de limpeza e desinfecção é essencial para prevenir a disseminação de patógenos entre lotes de suínos. Esse procedimento deve envolver a remoção de resíduos orgânicos,  seguida de lavagem sob pressão utilizando detergente para limpeza pesada, e posterior desinfecção.  . Deve-se ter cuidado com todo o equipamento desmontável, e o sistema de água deve ser tratado. Deve-se recorrer a agentes de desinfecção especializados caso haja contaminação por patógenos específicos, e a desinfecção por via aérea pode ser utilizada para atingir áreas inacessíveis.

9) Transmissão pela comunidade local

Na maioria dos estudos realizados sobre epidemias de grandes proporções ficou evidente que, às vezes, a transmissão ocorria em localidades sem nenhuma razão específica. Por definição, esse tipo de transmissão ocorre em granjas muito próximas. Pode ser devido a inúmeros fatores, como roedores, insetos ou aerossol. Para controlar este tipo de transmissão entre granjas próximas, exigem-se os mais elevados níveis de biosseguridade, os quais por vezes podem ser difíceis de serem alcançados. Obviamente, o melhor método para evitá-la é manter as granjas afastadas umas das outras.

10) Transmissão desconhecida

Há casos em que o patógeno se transmite a uma granja e não há como atribuir ou correlacionar a nenhuma evidência. Além disso, há algumas doenças cuja via de transmissão ainda é desconhecida. Um exemplo é a PMWS (síndrome multissistêmica de refugagem de suínos) / PCVAD (doenças associadas ao circovírus suíno). Tentar controlar esse tipo de patógeno causa verdadeira preocupação. Como evitar que algo aconteça se não se sabe como ocorreu?

Claro que, na prática, evitar a transmissão de patógenos sempre será um grande desafio. Algumas pessoas se sentem tentadas em afirmar que a prevenção seria algo muito trabalhoso e caro. Isso é um conceito errado. Temos apenas que observar o custo de uma doença e da abrangência de um surto específico para entender que o esforço vale a pena.

*Médico veterinário e especialista em suínos da região leste da Inglaterra. Este artigo foi desenvolvido em parceria com a DuPont Soluções em Saúde Animal