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Economia

A Covid-19 abalou o mundo mas não a necessidade por alimentos

Por Marcos Pena Jr, economista, e Virgínia Nogueira, pesquisadora da Embrapa

A Covid-19 abalou o mundo mas não a necessidade por alimentos

Houve um boom no consumo e no preço das commodities no período entre 2003 e 2011 (com uma retração entre 2008 e 2009), impulsionados especialmente pelo aumento da demanda da China. Tais produtos são “ativos” que podem gerar riqueza nos países produtores, mas também podem levar esses países a terem perdas no longo prazo (segundo análises que fortalecem os argumentos acerca da “reprimarização” dos países produtores de commodities). Ainda, com o aumento da população e da renda nos países em desenvolvimento, especialmente os do leste asiático, acredita-se que a produção e o fornecimento de commodities (minerais, metais e agrícolas) para o mundo se tornam crescentemente uma fonte de “poder geopolítico”. Embora a recente pandemia do SARS-COV-2 tenha abalado o comércio internacional, a necessidade importação de produtores agrícolas por alguns países continua forte. Não é à toa que o PIB do agronegócio brasileiro avançou 24,31% em 2020.

O Brasil é um grande produtor dessas mercadorias, geradas em grande escala, que possuem um significativo valor estratégico para a economia do País. Para ficarmos em poucos exemplos, destacamos aqui: a carne bovina, em que o país é o segundo produtor e o primeiro exportador mundial; a carne de frango, segundo produtor e primeiro exportador; carne suína, terceiro produtor e terceiro exportador; soja em grão, segundo produtor e primeiro exportador; e açúcar, primeiro produtor e primeiro exportador.

Ser importante fornecedor mundial de produtos agrícolas propicia um papel geopolítico de destaque para o Brasil. É necessário, contudo, buscar maior relevância global em debates e decisões acerca de questões políticas, sociais, de segurança nacional e econômicas, com base nesse “poder geopolítico”. O papel do Brasil nesses debates pode ser de destaque, embora ainda não esteja clara a direção que será estabelecida em termos de políticas comerciais globais.

Passado o profundo baque decorrente da pandemia, em razão, dentre outros fatores, da composição demográfica, distribuição espacial e estrutura socioeconômica, as perspectivas são de recuperação econômica dos países que mais demandam nossos produtos agrícolas e, por consequência, da demanda por nossos produtos.

Sendo assim, é de extrema importância acompanhar os desdobramentos econômicos dos nossos principais ‘compradores agrícolas’. Com isso, elaborar estudos de futuro e formular estratégias específicas para cada uma das possibilidades que forem se apresentando. Existe uma disputa de poder político global que engloba a produção e o comércio internacional de alimentos, o qual é afetado por diversos drivers e por políticas globais. Contexto no qual o Brasil tem o potencial para desempenhar destacado papel geopolítico.