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Tecnologia

Agroindústria investe em carnes plant-based na onda do consumo sustentável

A perspectiva é de que o mercado atinja entre US$ 100 bilhões e US$ 370 bilhões no mundo até 2035

Agroindústria investe em carnes plant-based na onda do consumo sustentável

O mercado de proteínas feitas à base de plantas, ou plant-based, cresce de forma acelerada no Brasil e no mundo, atraindo investimentos de gigantes do setor alimentício, como BRF, JBS e Marfrig. A perspectiva é de que o mercado atinja entre US$ 100 bilhões e US$ 370 bilhões no mundo até 2035, com participação nos negócios globais de carnes de 7% a 23%, segundo projeções de instituições financeiras compiladas pelo The Good Food Institute (GFI).

Um estudo feito pela empresa afirma que o brasileiro está diminuindo o consumo de carnes tradicionais e optando por proteínas alternativas, em um movimento conhecido como flexitarianismo. “Este se consolidou como um influente grupo de consumo, crescendo de 29% dos brasileiros em 2018 para 50% em apenas dois anos e fazendo com que a indústria de proteínas alternativas brasileira se desenvolvesse rapidamente no último ano”, afirma o GFI.

No Brasil, de 2015 a 2020 as vendas de produtos vegetais substitutos de proteína animal cresceram a uma taxa anual de 11,1%, de acordo com levantamento da empresa de pesquisa Euromonitor publicado no início deste ano. No período, o faturamento passou de R$ 246,7 milhões para R$ 418,7 milhões e a perspectiva é de que alcance a marca de R$ 666,5 milhões até 2025.

De olho nessa oportunidade, empresas de alimentos começaram a investir na tecnologia, por meio da aquisição de foodtechs do setor ou mesmo com desenvolvimento próprio, contando com parcerias e estudos conjuntos com centros de pesquisa. É o caso da BRF, que anunciou ainda no ano passado, como parte do seu plano de triplicar o faturamento até 2030, a meta de liderar o desenvolvimento do mercado de plant-based no Brasil nos próximos anos. Para isso, a principal estratégia adotada pela companhia é estimular um ecossistema de inovação e colaboração na cadeia como um todo.

“Existe uma crescente demanda por proteína no mundo, e acreditamos que isso leva o mercado a revisitar as soluções existentes hoje. A única certeza que nós temos é de que as tendências de consumo ainda vão mudar bastante e queremos estar prontos para liderar essas mudanças”, disse o vice-presidente de Novos Negócios da BRF, Marcel Sacco.

A empresa entrou no mercado de proteínas alternativas em março do ano passado, com o lançamento de uma opção de hambúrguer e de nuggets feitos à base de plantas. De acordo com o executivo, o primeiro passo foi importar esses produtos da Holanda para agilizar os lançamentos, enquanto a tecnologia nacional estava em desenvolvimento. “Começamos com a produção de um parceiro externo, mas não dá para ser competitivo trazendo isso de fora do Brasil.” Por isso, agora toda a produção é feita em território brasileiro, com os produtos similares ao frango sendo fabricados em Cotia (SP), e a carne moída, quibe e hambúrguer vegetais produzidos em Blumenau (SC).

Embora a base de vendas do ano passado ainda seja pequena para fins de comparação, a BRF espera, em 2021, multiplicar por nove o volume de produtos plant-based vendido em 2020. No ano passado, a categoria girou entre 500 toneladas e 1 mil toneladas por mês. A meta será viabilizada não apenas pela maior penetração dos produtos nas casas dos consumidores, mas também com o lançamento de mais variedades. A BRF lança, neste mês, o quibe e a carne moída à base de plantas, que vão completar o número de oito produtos no portfólio da companhia, dentre opções de alimentos preparados e outros que podem ser utilizados como ingredientes.

“O crescimento ainda é de três dígitos, mas já não está na mesma velocidade que no último ano. A curva começa a ser achatada por causa da crise econômica”, acrescenta o diretor de Novos Negócios da BRF, Sérgio Pinto. Ele explica que a baixa disponibilidade de capital para consumo de produtos com maior valor agregado limita o avanço dessas vendas, até mesmo porque os preços de proteínas vegetais ainda superam os da proteína animal. Contudo, “o momento pode não ser tão favorável quanto 2020, quando o auxílio emergencial aumentou o capital disponível na base da pirâmide, mas o hábito está aí e a tendência mostra que isso é irreversível”, afirma.

Segundo o executivo, a empresa tem investido em tratamentos de ingredientes e no perfil nutricional dos produtos para avançar em entrega sensorial e sabor, os principais pontos de resistência dos consumidores. “Um exemplo é a combinação que fazemos entre a soja e a ervilha. Estamos sempre realizando testes para achar o ponto certo de cada produto.”

Além de ampliar as vendas, para este ano os objetivos são consolidar a linha Veg&Tal da Sadia, com o lançamento de mais produtos e aumento da produção, o que tende a trazer como consequência novos investimentos em expansão da capacidade produtiva. “As apostas de crescimento vêm, naturalmente, acompanhadas de investimentos em estrutura”, disse Marcel Sacco. No quesito de proteínas alternativas como um todo, a BRF vai seguir trabalhando para colocar no mercado produtos de carne cultivada até 2024. No início do mês, a empresa anunciou um aporte de US$ 2,5 milhões em rodada de investimentos da startup israelense Aleph Farms, que desenvolve a tecnologia.

No caso da JBS, a estratégia é apostar na parceria ou aquisição de empresas do mercado de carnes alternativas. A JBS identificou o segmento como tendência global há alguns anos, o que a levou a ser a primeira no Brasil a lançar produtos de carnes de origem vegetal: a linha Incrível, da Seara, lançada em dezembro de 2019. Hoje, a operação está também nos Estados Unidos, por meio da Planterra, com a marca OZO, e na Europa, com a Vivera, recém-adquirida pela brasileira por um valor de mais de R$ 2 bilhões – é a maior companhia independente de plant-based do continente. As marcas concentram três grandes centros de produção, inovação e também de distribuição, com a venda dos produtos para outros países via exportação.

O diretor executivo de alimentos preparados da Seara, João Campos, disse ao Broadcast Agro que a empresa espera um forte crescimento no mercado de plant-based nos próximos anos e que a internacionalização da operação permite uma antecipação das tendências de consumo pela empresa. “A gente troca conhecimento e acompanha o desenvolvimento de tecnologias nessas três regiões. É uma forma de ter uma noção mais global, antecipar mudanças no consumo e melhorar a aplicação local das inovações”, disse.

Na avaliação de Campos, o segmento de carnes vegetais “tem um papel importante de ajudar a prover todas as proteínas que serão demandadas nos próximos anos, conforme as estimativas de aumento populacional”. Segundo ele, novas opções de proteínas vão ganhar cada vez mais relevância nos próximos anos.

Com o consumo aquecido, a JBS está ampliando o portfólio para crescer no mercado. Na Seara, com a linha Incrível, por exemplo, há opções plant-based similares às quatro proteínas: peixe, carne bovina, de frango e suína. “Essa é uma forma de quebrar as objeções dos consumidores e estimular o conhecimento desses produtos. Nosso foco é continuar puxando uma agenda de inovação nas quatro proteínas, em produtos preparados”, acrescentou Campos. Além disso, a companhia decidiu apostar nas vendas do varejo, mas também em parcerias com estabelecimentos de food service, para estimular a experimentação.

O food service também foi o canal escolhido para o lançamento de produtos de carnes à base de plantas produzidos pela PlantPlus Food, que nasceu de uma joint venture entre a Marfrig Global Foods e a Archer Daniels Midland Company (ADM). O CEO da empresa, John Pinto, diz que a decisão de ter lançado o portfólio em redes como Outback, Burguer King e Subway tem funcionado bem. Ele revelou que a estratégia se baseou em dados recentes, que apontam que 80% da população na América do Sul tem interesse em consumir produtos à base de plantas, mas menos de 10% dos lares acessam esse mercado.

A parceria entre as empresas dá fluidez na produção da PlantPlus. Isso porque o fornecimento de matéria-prima, principalmente proteína de soja, começa na ADM, por meio da planta da empresa em Campo Grande (MS). Já a produção e finalização do produto ocorre em Várzea Grande (MT), uma unidade de processamento que já foi construída com um potencial de expansão, segundo Pinto. “Essa unidade poderia suprir o equivalente ao mercado total de plant-based do Brasil.” O desenvolvimento da tecnologia, da mesma forma, é fruto dessa colaboração, com equipes das duas empresas no Brasil e nos Estados Unidos trabalhando a inovação.

Em 2021, a empresa expandiu o portfólio, com o lançamento de quatro produtos no Estado de São Paulo. Em dois a três meses, a expectativa é expandir para outros Estados, ainda não definidos. Em seguida, a operação deve ser iniciada em outros países da América do Sul e alcançar o mercado consumidor dos Estados Unidos, com uma base produtiva local. “A sede da PlantPlus é justamente em Chicago porque a ideia é trabalhar as Américas, onde está concentrada 40% da oportunidade global no mercado de carnes vegetais”, disse Pinto, acrescentando que a empresa estará nos EUA “o mais rápido possível”, com clientes potenciais já no radar.

A companhia, que nasceu como startup, tem o objetivo de trazer mais variedades de produtos de proteína vegetal para o mercado consumidor, com a missão de ter “quase uma versão análoga de qualquer tipo de produto animal”, segundo John Pinto. “Temos uma forte confiança nas oportunidades desse mercado. Os crescimentos na demanda por esses produtos foram exponenciais até o momento e cálculos internos nossos apontam que a categoria pode chegar a US$ 6,5 bilhões em termos globais em 2021”, disse ele. “Esperamos alta de 15% nos próximos anos, com a possibilidade de chegar a US$ 25 bilhões em 10 anos.”