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Mercado

Carnes brasileiras poderão perder mercado na Europa

Até agora, os embarques do Brasil têm se saído melhor que os de outros parceiros

Carnes brasileiras poderão perder mercado na Europa

Os controles reforçados adotados pela União Europeia sobre a entrada de carnes brasileiras no rastro das operações “Carne Fraca” e “Trapaça”, que ainda não foram levantados, poderão dificultar o avanço das exportações do país para o bloco.

Até agora, os embarques do Brasil têm se saído melhor que os de outros parceiros. No caso de carne bovina, as vendas brasileiras para os 27 países-membros da UE caíram 15,4% em 2020 em relação a 2019, menos que a redução de 18% nas importações europeias totais do produto. Entre janeiro e março de 2021, a queda das exportações brasileiras foi de 1,8% ante a diminuição de 9,6% do total importado.

Quanto à carne de frango, a queda das vendas brasileiras para a UE foi de 3,3% em 2020, também menos que a retração de 14% das importações totais dos 27 membros do bloco. No primeiro trimestre deste ano, os embarques do Brasil caíram 7,4%, enquanto as compras totais no exterior pela UE recuaram 29%.

O Brasil continua a ser o maior fornecedor de carnes para a UE, com participações de 41,4% do total importado pelos europeus em 2020 no caso da carne bovina e de 54,7% na carne de frango. No entanto, uma norma europeia adotada no fim de 2019 estabelece, no caso de cotas baseadas em performance prévia, que os volumes serão determinados pelos dois anos anteriores ao primeiro pedido de uso da cota. Isso significa que o efeito sobre as exportações menores do Brasil se verificará em prazo mais dilatado à adoção dos controles.

A Operação Carne Fraca foi deflagrada pela Polícia Federal em março de 2017 e atingiu as maiores empresas do segmento, acusadas de adulterar a carne que vendiam nos mercados interno e externo. Já a Operação Trapaça, um desdobramento do primeiro escândalo, investigou fraudes na emissão de resultados de análises laboratoriais para respaldar certificados de alguns estabelecimentos registrados junto ao Serviço de Inspeção Federal.

Os controles reforçados da UE em geral podem incluir inspeções física e documental de todos ou da maior parte dos carregamentos, por exemplo. Os europeus podem exigir testes sanitários e certificados adicionais. E persiste a impossibilidade de habilitação por “pre-listing” de plantas de empresas para exportação.

O bloco europeu destaca, entre os motivos da queda na importação de carne de frango no ano passado, que “20 estabelecimentos avícolas brasileiros ainda estão ‘delisted’ e não podem exportar para a UE”. A menor demanda por carne de frango do food service, principal cliente de carne de aves importadas na Europa, teve um papel predominante. Ao mesmo tempo, os principais fornecedores do mercado internacional redirecionaram os embarques para a China, onde os preços eram muito remuneradores.

A UE espera uma recuperação apenas parcial (alta de 4%) em sua demanda por carne de frango, “pois a situação descrita acima vai continuar em 2021”.

No caso do consumo de carne bovina na UE, houve queda para 10,3 quilos per capita em 2020 e essa tendência deve continuar em 2021, com baixa de 1%, apesar de uma recuperação da demanda esperada para o segundo semestre com a reabertura de restaurantes e a volta do turismo.

O duro controle da UE se faz sentir especialmente sobre a carne bovina brasileira de melhor qualidade e de maior valor. O Brasil tem cota Hilton, para cortes mais caros, de 7.304 toneladas. Entre janeiro e março, só vendeu 553 toneladas se beneficiando de tarifa baixa (7,58% do total possível) para cortes que proporcionam ganho muito mais elevado para o exportador. Em todo o ano passado, o país só ocupou 28,8% da cota; em 2018, apenas 41,5%.

Em comparação, a Argentina (com cota de 14.189 toneladas) e o Uruguai (2.465 toneladas) ocuparam totalmente suas cotas em 2019 e 2020. No primeiro trimestre, foram 41,1% e 66%, respectivamente.