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Mercado

Cenário da suinocultura é desafiador, mas expectativa é de melhora

Aumento no preço dos grãos é obstáculo para os produtores que chegam a trabalhar no prejuízo, mas abertura de novos mercados traz possibilidades à carne suína brasileira

Cenário da suinocultura é desafiador, mas expectativa é de melhora

A suinocultura está enfrentando um momento desafiador. Instabilidade nas exportações, excesso de oferta e aumento na cotação de grãos, especialmente o milho, acarretaram em baixa dos preços do suíno vivo e aumento dos custos de produção, fazendo com que alguns produtores inclusive trabalhassem no prejuízo. A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) e suas afiliadas se uniram em pleitos junto aos órgãos do governo para garantir a manutenção dos produtores na atividade. A possibilidade de abertura de novos mercados à carne suína brasileira também traz expectativa de melhora para o setor.

Os resultados relativos à exportação do início do ano até o momento atual foram desanimadores. Um dos principais motivos foi o embargo da Rússia, mercado que normalmente responde por cerca de 40% de todas as exportações brasileiras, sob a alegação de presença de ractopamina em cortes suínos. De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as vendas de carne suína – considerando todos os produtos, entre in natura e processados – para o exterior totalizaram 155,2 mil toneladas no primeiro trimestre de 2018, apresentando queda de 13,4% em relação aos três primeiros meses de 2017, com 179,2 mil toneladas. Apenas em março, as exportações do setor alcançaram 58,1 mil toneladas, número 8,1% inferior ao apresentado no mesmo período de 2017, com 63,2 mil toneladas.

Por outro lado, o aumento de volume exportado para outros países amenizou a situação. Na China, por exemplo, as vendas somaram 39,2 mil toneladas no primeiro trimestre deste ano, resultado 152% superior a quantidade embarcada no ano passado, que foram 15,5 mil toneladas. Nesse mesmo período, Hong Kong comprou 46,4 mil toneladas, 23% a mais que as 37,7 mil toneladas embarcadas em 2017. Singapura, por sua vez, importou 5% a mais de carne suína brasileira no mesmo intervalo de tempo.

Outros países que incrementaram suas compras em relação ao ano passado foram o Uruguai, com salto de 31%, o Chile, com 30% a mais, e a Angola, que chegou a 8,2 mil toneladas no trimestre, 11% acima das 7,3 mil toneladas exportadas no último ano. Em nota, Francisco Turra, presidente-executivo da ABPA, avaliou o cenário: “Em praticamente todos os mercados houve incremento das exportações. Isto ajudou a reduzir os impactos causados pelo embargo russo, que entre janeiro e março do ano passado havia importado 68,5 mil toneladas”, avalia.

O anúncio feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) na última semana sobre novas negociações com o comércio exterior trouxe ainda mais esperança de recuperação aos produtores. O ministro Blairo Maggi informou que a Coréia do Sul e o Peru pretendem abrir o mercado para o Brasil, importando a carne suína fornecida pelo estado de Santa Catarina, a única área livre da febre aftosa sem vacinação no país até então.

Maggi informou ainda que está prevista para maio visita de representantes da China para discutir a ampliação do número de plantas frigoríficas autorizadas à embarcarem todos os tipos de carnes – bovina, suína e de aves. Além disso, o MAPA afirmou que já enviou carta às autoridades sanitárias russas a respeito das medidas adotadas pelo Brasil para viabilizar a volta dos embarques, possibilitando a reabertura do mercado da Rússia à carne suína brasileira. O encontro para os acertos finais à retomada do comércio acontecerá possivelmente no próximo dia 24 de abril.

Grãos

Outro grande problema enfrentado pelo setor que impacta o mercado interno é o aumento no preço dos grãos, devido à quebra da safra na Argentina e o atraso no plantio da segunda safra de milho no Brasil, que acarretou em um aumento significativo na cotação da saca do cereal no país.

Segundo dados compilados pela Agroceres PIC, o preço do Kg do suíno vivo em São Paulo caiu R$ 0,27 (- 7,32%), de fevereiro para março deste ano, enquanto a saca de 60 Kg do milho apresentou aumento de R$ 8,09 (+ 28,17%), no mesmo período. A venda de um quilo de suíno vivo rendeu 5,57 quilos de milho, apresentando uma queda de 32,61% em relação a janeiro de 2018.

Na tentativa de amenizar o impacto aos produtores, no último mês a ABCS participou, juntamente às entidades estaduais, de reuniões com o MAPA e com a Diretoria de Agronegócio do Banco do Brasil, onde discutiram políticas públicas para viabilizarem a sustentabilidade da atividade no país, permitindo ao suinocultor ter caixa para se manter pelo menos até a colheita da segunda safra de milho.

Entre os pleitos que já foram atendidos, estão a liberação de parte dos estoques públicos de milho por parte da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) com o intuito de baixar o preço deste insumo e a prorrogação do vencimento das parcelas dos créditos de custeio e investimento adquiridos nos últimos dois anos.

O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, recomenda cautela e dá algumas orientações para que os produtores evitem prejuízos. “O produtor tem que trabalhar com uma estratégia de compra de grãos que permita adquirir estes insumos na época de safra, quando os preços estão em baixa, garantindo o abastecimento da granja com menor custo possível”.