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Processamento de Carnes

Clean Label é tendência em gêneros alimentícios, inclusive carnes

Podendo ser traduzido como “rótulo limpo”, conceito envolve uso de ingredientes conhecidos do consumidor no rótulo do produto

Clean Label é tendência em gêneros alimentícios, inclusive carnes

Carnes

Por Humberto Luis Marques

 

Um novo conceito de produtos começa a ganhar espaço nas prateleiras dos supermercados. O chamado Clean Label não é muito comum ainda no Brasil, mas já é bastante divulgado entre os consumidores da Europa e até dos Estados Unidos. O termo pode ser traduzido como rótulo limpo. Basicamente, significa que na descrição do produto não há nenhum tipo de ingrediente – ou praticamente nenhum – que seja “desconhecido” do consumidor. Ao mesmo tempo, se refere a menor inclusão de conservantes e aditivos presentes no processo fabril desse produto. O conceito Clean Label pode ser aplicado em qualquer gênero alimentício, seja bebida, iogurtes e até carnes. “É preciso compreender que não há ainda uma definição regulamentada sobre o que é um produto Clean Label. Hoje, ele ainda envolve muito mais uma demanda do consumidor e da forma como o mercado tem entendido essa demanda”, comenta a pesquisadora do ITT Nutrifor, Bruna Pottin, em palestra ministrada sobre o tema.

Segundo a especialista, o termo se relaciona a uma lista de ingredientes comuns à cozinha das pessoas, como os temperos naturais normalmente utilizados na culinária. Tudo o que é informado no rótulo visa o não uso de linguagem técnica, mas sim de palavras compreensíveis ao consumidor. O conceito também envolve o não uso de organismos geneticamente modificados (OGM’s), saborizantes e corantes artificiais e aditivos conservantes. “Além disso, um Clean Label também envolve itens como técnicas de processamento, rastreabilidade, sustentabilidade, certificação orgânica, transparência da indústria em comunicar esse perfil de produto ao consumidor, além de uma negociação fair trade [parceria comercial baseada em diálogo, transparência e respeito] envolvendo toda a cadeia de alimentos”, afirma Bruna.

A especialista apresentou em sua palestra o resultado de uma pesquisa realizada no Reino Unido. O estudo indicou que 34% dos entrevistados não compreendiam o significado de Clean Label, mas entendiam ser ele um alimento elaborado a partir de ingredientes naturais. Segundo Bruna Pottin, desde 2003 houve um importante crescimento na oferta de alimentos “rótulos limpos” no mercado dos Estados Unidos. Tanto, que em 2014 cerca de 20% dos novos produtos alimentícios que chegavam às gôndolas dos supermercados carregavam esse perfil.

Na Europa e nos Estados Unidos, o Clean Label já gerou um importante movimento nas grandes agroindústrias com o objetivo de modificar sua lista de ingredientes dentro de conceitos mais saudáveis, atendendo assim a expectativa dos consumidores. “A população brasileira, a americana e, podemos dizer, do mundo inteiro, tem evoluído muito com relação aos cuidados com sua alimentação. Hoje em dia, todos têm acesso a informações sobre saúde, saudabilidade e adoção de um estilo de vida saudável”, comenta Bruna.

O movimento – embora crescente, ainda é um nicho – não envolvendo apenas produtos disponíveis nos supermercados, mas também em outros tipos de estabelecimentos comerciais, como cafeterias. É o caso da Panera Juerp, rede muito popular nos Estados Unidos. Eles identificaram que o maior atrativo para o consumidor não é necessariamente a inclusão de novos ingredientes, mas sim a exclusão. Essa constatação os levou a criar a chamada “No, No, No List”, uma relação de ingredientes não utilizados em nenhum produto da cafeteria, disponível nas lojas físicas e também no site.

Na área de embutidos, um exemplo interessante é o de uma linha chamada Open Nature, da empresa  , cujos produtos não têm adição de nenhum tipo de conservante. Só para se ter uma ideia, os ingredientes que compõem um desses embutidos são: frango, mussarela, tempero verde, alho, sal, outros temperos, vinagre, páprica, açúcar, manjericão e pó de aipo em uma tripa natural, sem adição de aditivos. Tomando como base um produto similar, fora do conceito Clean Label, o rótulo traz 32 ingredientes, dos quais, muitos considerados artificiais. Para a especialista, além de toda a questão conceitual, há uma clara necessidade de o produto comercializado ter como característica a alta palatabilidade. “Não adianta disponibilizar para os consumidores um produto com a filosofia Clean Label se não for saboroso; o consumidor tem que sentir o sabor ao consumir”, afirma Bruna.

O Clean Label significa que o consumidor tem em mãos um produto cuja impressão é como se ele fosse sido retirado de sua cozinha, sem o uso de nomes químicos nos rótulos, que soem estranhos ao consumidor. “O que é aceitável em uma região pode não ser em outra. Sabemos que temos particularidade em relação a ingrediente; então, trabalhar questões de alimentos locais também é algo muito importante”, conclui Bruna.

 

Guias alimentares

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), compilam todas as diretrizes alimentares, assim como todos os guias alimentares publicados no mundo todo. Segundo a pesquisadora do ITT Nutrifor, em geral, cada país tem a publicação de um guia alimentar específico, cujo objetivo é orientar a população sobre hábitos alimentares, estilo de vida mais saudável. “Dessa forma é possível conduzir e modificar políticas públicas de saúde, mas também conduzir mudanças em relação à população como um todo”, afirmou em sua palestra.

Segundo dados apresentados, 83 países possuem guias alimentares publicados, com 53% deles sendo por países desenvolvidos. Praticamente, todos os países europeus têm guias alimentares bem estabelecidos, assim como a América do Norte e parte dos países sulamericanos também tem guias alimentares bastante conhecidos e publicados. Desde a década de 1960, os americanos já publicam seus guias alimentares. Conforme explica, nos Estados Unidos há uma lei de que a cada cinco anos essa publicação precisa ser atualizada. “O setor da indústria de alimentos e bebidas também faz parte desse sistema, podendo auxiliar na decisão de um melhor estilo de vida, em uma melhor alimentação e em um maior nível de atividade física”, reforçou durante sua palestra.

O Brasil possui o seu próprio guia alimentar, publicado em 2014, substituindo a primeira versão de 2006. Segundo explica Bruna, o guia orienta que a população seja crítica em relação a informações, orientações e mensagens sobre a alimentação. “Estão colocando o consumidor em uma posição mais proativa, sendo crítico em relação ao que se está comprando, oferecendo para a sua família”, comentou durante a palestra.

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