Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Comentário

Como os impactos de iniciativas como o From Farm To Fork e Food Systems Summit Action Track 5 (AT5) podem impactar os distribuidores de insumos brasileiros

Acredito que muitas pessoas do Ministério da Agricultura, do Governo Federal, Universidades e Associações de classe estão acompanhando esses temas

Como os impactos de iniciativas como o From Farm To Fork e Food Systems Summit Action Track 5 (AT5) podem impactar os distribuidores de insumos brasileiros

Acredito que muitas pessoas do Ministério da Agricultura, do Governo Federal, Universidades e Associações de classe estão acompanhando esses temas, mas em recente discussão onde estiveram presentes a Andav (Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários), ARA (Agricultural Retailers Association), e as associações de classe de distribuidores do Canadá (Canadian Association of Agri-Retailers) e Austrália (AgLink Australia Pty Ltd) , onde tivemos o prazer de participar, nos levaram a alguns questionamentos como:

  • Os distribuidores de insumos estão atentos a essas discussões?
  • Os distribuidores estão sendo envolvidos nessas discussões?
  • O que é necessário ser feito para minimizar os impactos dessas discussões?
  • Quais serão os impactos para os clientes do sistema de distribuição, os agricultores brasileiros, americanos, canadenses e australianos?

Iniciativas como a From farm to fork, que almejam por um sistema alimentar justo, saudável e amigo do ambiente, embora entendíveis e ideologicamente corretos, são capazes de causar impactos econômicos devastadores senão bem discutidos. Eles apelam para restrições à utilização de certos insumos agrícolas na produção agrícola, bem como na construção de sistemas integrados de produção e de gestão de riscos para os sistemas alimentares na União Européia até 2030. 

A proposta compromete-se a utilizar as políticas comerciais da Comissão Europeia e outros esforços internacionais para promover uma visão da sustentabilidade na agricultura, o que pode ter implicações para além dos países da União Europeia e no nosso caso, atingir em cheio a agricultura brasileira.

Sabemos muito bem como os países ricos utilizam desses subterfúgios para punir a nossa competitividade e precisamos estar atentos e sentados nas mesas de discussões.

Como parte de um Acordo Verde da União Europeia mais amplo, essas iniciativas políticas exigiriam:

  • Reduções no uso de fertilizantes (20 %), 
  • Redução no uso de produtos para proteção de cultivos (50 %), antimicrobianos (50 %) e a remoção de terras agrícolas existentes do uso agrícola (10 %) até 2030 comparados aos níveis de 2020. 

Essas reduções direcionadas em insumos agrícolas podem impactar os preços dos alimentos de pelo menos três maneiras. 

1 – Os custos de produção podem aumentar à medida que os agricultores substituam outros insumos por mão-de-obra. 

2 – A produção agrícola pode diminuir como resultado do uso de menos insumos. 

3 – Os preços no mercado internacional podem aumentar devido ao aperto da oferta disponível e à inelástica demanda de alimentos. 

Esses custos crescentes podem afetar os orçamentos dos consumidores e, em última análise, reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) mundial e, consequentemente, aumentar o número de pessoas com insegurança alimentar nas regiões mais vulneráveis ??do mundo. 

Para avaliar os efeitos potenciais das políticas propostas, os pesquisadores do USDA de pesquisas econômicas, o (ERS)  investigaram três cenários para os USA e que servem perfeitamente para o Brasil:

Cenário 1: “União Europeia  impõe a redução obrigatória apenas nos países da EU”. 

Cenário 2: (Cenário intermediário), os parceiros comerciais que dependem das exportações agrícolas e de alimentos para a UE também obedecem às mesmas restrições de insumos e impõem restrições à importação de alimentos dos países que não estão em conformidade. 

Cenário 3: (Cenário global), as medidas são adotadas em escala global.

Na atividade agropecuária os agricultores usam terra, trabalho, capital (como tratores e outras máquinas) e outros insumos, como sementes, fertilizantes e pesticidas. Para compensar as reduções nos insumos, outros insumos, como mão-de-obra, podem ser usados ??como substitutos. 

Novas práticas e novos manejos podem ser utilizados como métodos alternativos para controle de ervas daninhas e pragas, e podem contribuir para a redução de insumos, mas essas mudanças podem aumentar e muito os custos de produção e impactar a produção. 

No gráfico abaixo temos a redução estimada na produção agrícola com base em diferentes cenários de implementação em três regiões: a UE, os Estados Unidos e o mundo inteiro.

Gráfico 1

(Fonte)

No cenário com apenas a União Europeia adotando as medidas, a produção agrícola da UE cairia 12%, conforme indicado no gráfico acima. As reduções na UE se traduziriam em uma redução mundial na produção de 1%. Nos Estados Unidos, a produção de certas commodities poderia aumentar, mas seria quase totalmente compensada pela redução da produção em outras commodities, com menos de 0,5% de crescimento agrícola total. 

O mesmo efeito ocorreria no cenário intermediário, no qual a produção agrícola dos EUA geralmente permaneceria estável, mas com maiores impactos na produção global.

No cenário de adoção global das estratégias de redução de insumos da UE, os volumes de produção agrícola e de alimentos em todo o mundo podem cair até 11%. Os Estados Unidos poderiam testemunhar uma redução na produção alimentar e agrícola de 9% neste cenário. 

Quanto aos preços, o gráfico abaixo mostra o aumento estimado dos preços dos alimentos e agrícolas com base em diferentes cenários de implementação em três regiões:  UE, Estados Unidos e o mundo inteiro.

Gráfico

Um declínio na produção agrícola resultaria em um estreitamento da disponibilidade de mercado de produtos agrícolas, levando a aumentos de preços que, em última análise, afetam os orçamentos dos consumidores. A modelagem ERS mostra que uma redução imposta pela UE em insumos agrícolas teria o efeito mais imediato na UE, onde os preços dos alimentos são projetados para subir 17% neste cenário (ver gráfico acima). 

Com os preços da UE aumentando e afetando seu comércio com o resto do mundo, um efeito de contágio faria com que os preços também aumentassem em outras regiões. Os preços dos alimentos nos EUA podem aumentar 5%, enquanto os preços globais dos alimentos podem aumentar 9%.

 No entanto, os aumentos nos custos dos alimentos seriam significativos para a maioria das regiões no cenário em que medidas de restrição de insumos são adotadas globalmente, com os preços mundiais dos alimentos crescendo 89%. Para os Estados Unidos, nesse cenário global, os preços dos alimentos podem subir 62%. Da mesma forma, os preços dos alimentos na UE podem aumentar 53%. 

Como a UE é um participante importante no comércio agrícola internacional, essas políticas propostas também podem levar à redução do comércio global. Uma redução na produção agrícola da União Europeia e um aumento nos custos de produção poderiam reduzir sua competitividade nos mercados de exportação em todos os três cenários e aumentar as importações agrícolas da UE se a UE não impusesse restrições comerciais adicionais. 

Se políticas semelhantes forem adotadas por países fora da UE, poderão ocorrer resultados semelhantes – Menos produção agrícola e Preços mais altos. 

No cenário global, o comércio agrícola mundial pode cair 4%. O gráfico abaixo mostra a redução estimada do PIB com base em diferentes cenários de implementação em três regiões: a UE, os Estados Unidos e o mundo inteiro.

Gráfico

A diminuição da produção agrícola, a redução dos volumes de comércio e a projeção de aumentos nos preços das commodities alimentares podem afetar o PIB na UE e a nível global. Um mandato de política imposto apenas pela UE reduziria o PIB da UE em US $ 71 bilhões (ver gráfico acima), mas por causa dos efeitos secundários relacionados a preços e comércio, também diminuiria o PIB mundial em US$ 94 bilhões. No entanto, as reduções do PIB poderiam ser mais significativas se as restrições de insumos fossem adotadas globalmente. O PIB cairia US $ 133 bilhões na UE e US $ 1,1 trilhão em todo o mundo se as medidas fossem implementadas em escala global. 

O impacto no PIB dos EUA seria relativamente menor do que na UE em todos os cenários de adoção, mas o Brasil pode ser severamente impactado, pois a dependência da agricultura no PIB e no comércio agrícola mundial são muito mais relevantes que nos USA.

Outro Cenário explorado pelo USDA foi sobre o aumento da insegurança alimentar global com base nos três cenários:

gráfico

A insegurança alimentar, medida como o número de pessoas que não têm acesso a uma dieta de pelo menos 2.100 calorias por dia, aumenta significativamente nos 76 países de baixa e média renda estudados em todos os cenários. Aumentos nos preços das commodities alimentares e reduções na renda causariam mais insegurança alimentar além das atuais projeções do USDA, particularmente na África. 

Em 2030, o número de pessoas com insegurança alimentar aumentaria em 22 milhões adicionais no caso de adoção exclusiva na UE, como pode ser visto no gráfico acima. 

Sob uma implementação global das estratégias de redução de insumos, 185 milhões de pessoas adicionais seriam incapazes de acessar o nível calórico médio necessário para sustentar um estilo de vida ativo e saudável. 

Cenários como esses desenhados principalmente por europeus podem impactar e muito o nosso agronegócio e principalmente os distribuidores de insumos.

 O mercado de distribuição de insumos no Brasil hoje é de aproximadamente R$ 160 Bilhões por ano, medidas como essas adotadas globalmente podem impactar o mercado na ordem de R$ 50 bilhões, sem contar o fato de que a necessidade de insumos na agricultura brasileira como o uso de fertilizantes, químicos, e outros insumos é consideravelmente maior do que nos países de clima temperado.

Vimos nesse estudo do USDA o impacto gigantesco que iremos sofrer apenas com a adoção das iniciativas do From Farm to Fork, vejam abaixo as diretrizes propostas pelo  Food System Summit que aconteceu agora em Abril e com certeza impactarão severamente os custos de produção, e de competitividade do nosso agronegócio e consequentemente do valor de nossa cadeia de insumos.

1 – Garantir o acesso a alimentos seguros e nutritivos para todos (permitindo que todas as pessoas sejam nutridas e saudáveis). 

2. Mudança para padrões de consumo sustentáveis (promovendo e criando demanda por produtos saudáveis e dietas sustentáveis, reduzindo o desperdício)

 3. Estimular a produção de natureza positiva em quantidade suficiente (agindo sobre as mudanças climáticas, reduzindo emissões e aumento da captura de carbono, regenerando e protegendo ecossistemas críticos e reduzindo a perda de alimentos e o uso de energia) 

4. Promover meios de subsistência e valores equitativos de distribuição (aumento de renda, distribuição de risco, expandir a inclusão, promover pleno e produtivo emprego e trabalho decente para todos) 

5. Construindo resiliência a vulnerabilidades, choques e estresse (garantindo a funcionalidade contínua de sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis)

 Todas essas diretrizes gerarão impactos na cadeia do agronegócio como os estabelecidos pela união europeia e se não estivermos preparados para argumentar e defender o que é possível ou não, todo o impacto econômico será distribuído para os agricultores e a rede de atendimento destes.

Nossa provocação com este artigo é que todos que estão inseridos no setor Agro fiquem atentos para esses protocolos, pois a omissão pode levar a diretrizes que impactam significativamente a nossa competitividade.