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Conversão alimentar: Fatores capazes de melhorar esse parâmetro em um sistema de produção de suínos

Uma nutrição de qualidade deve respeitar a curva de crescimento dos animais, potencializar a deposição de tecido muscular em detrimento do gorduroso e proporcionar qualidade e rendimento de carcaça.

Conversão alimentar: Fatores capazes de melhorar esse parâmetro em um sistema de produção de suínos

Lucas Alves Rodrigues é Médico Veterinário (UFMG), Mestre em Zootecnia (UFMG) eAnalista de Nutrição Pleno (Suínos) VaccinarO cenário ideal em uma suinocultura tecnificada pode ser resumido em aumento da lucratividade e índices zootécnicos, aliados à redução de custos. A fatia de aproximadamente 70% que representa o gasto com nutrição pelo produtor de suínos reflete a importância da mensuração constante dos custos com matérias-primas, produtos, comedouros e outros em uma granja. Paralelamente, uma nutrição de qualidade deve respeitar a curva de crescimento dos animais, potencializar a deposição de tecido muscular em detrimento do gorduroso e proporcionar qualidade e rendimento de carcaça.

Embora seja uma medida relativamente simples (ração ingerida / ganho de peso), a conversão alimentar serve como alerta para tomada de decisões. A melhoria de conversão ocorre pela combinação de vários fatores relacionados às formulações, à dieta, instalações, sexo, genética, status sanitário e manejo.

A maioria dos produtores de suínos brasileiros utiliza dietas fareladas. Um ajuste simples que pode representar consideráveis ganhos produtivos aos animais é a redução do tamanho de partícula das dietas. O mecanismo de ação reside no fato de que menores partículas facilitam a ação das enzimas digestivas do animal, melhor disponibilizando os nutrientes. Estima-se que uma redução de 200 micrometros (µm) no tamanho de partícula pode representar uma melhoria de 2,5% na conversão alimentar.

A peletização é uma alternativa que traz benefícios ao desempenho de suínos, embora exija investimento inicial com equipamentos. Esse processamento melhora a disponibilidade de nutrientes através do uso de pressão e temperatura elevadas. Os pellets devem ser firmes e íntegros, com baixa quantidade de finos (quanto maior o percentual de finos, pior será a conversão alimentar).  O benefício com a peletização gira em torno de 6% de melhoria na conversão alimentar. A qualidade do pellet também incide diretamente nesse parâmetro, tendo em vista que reduzir pela metade a quantidade de finos pode representar uma economia de 7 kg de ração para terminar um animal.

A tendência é de que os sistemas de produção cresçam muito mais em produtividade do que em tamanho de plantéis, devido à menor disponibilidade de terras e crescente busca por sustentabilidade. Para as fases de maior consumo, como crescimento e terminação, a busca por produtividade tende a ser ainda maior. Para isso, a taxa de lotação das baias, bem como a regulagem os comedouros, evitando desperdícios e sobras, tornam-se essenciais. Existe uma relação inversamente proporcional entre o espaço por animal e a conversão alimentar. Estudos apontam que um aumento de 0,4 m² por animal em uma baia de crescimento/terminação pode representar uma redução aproximada de 3% na conversão alimentar do lote.

O desperdício de ração em virtude da má regulagem nos comedouros é um fato que mascara a conversão alimentar. Pesquisas mostram que esse desperdício pode chegar a 20%. Um importante aspecto no desenho e regulagem de comedouros para suínos é a quantidade de ração no prato do comedouro. Suínos mais jovens apresentam melhores parâmetros de desempenho com maiores quantidades de ração no prato e essa quantidade deve ser progressivamente reduzida à medida que o animal se aproxima da terminação. Vale ressaltar que a regulagem do comedouro deve ocorrer de acordo com a necessidade dos animais, para que não permaneçam excessivamente abertos, nem fechados.

O suíno destinado ao abate apresenta boa capacidade de manter sua temperatura corporal constante em uma ampla faixa de temperatura ambiental. Ainda assim, o animal possui uma exigência de temperatura, que varia de acordo com a fase de criação. Se analisarmos um animal em três fases, a saber: descreche, entrada da terminação e 10 dias antes do abate, a exigência de temperatura será de 24, 22 e 20o C, respectivamente. Além disso, apesar dos constantes investimentos em ambiência na suinocultura, elevadas temperaturas dentro das baias ainda são uma realidade em nosso país, aspecto que pode impactar diretamente no desempenho. Para animais de 30 Kg ao abate, estima-se que a cada 5o C de aumento em relação à temperatura de conforto, ocorre uma piora de aproximadamente 3% na conversão e, acima dos 30o C, o malefício pode ser ainda mais drástico.

A conversão é multifatorial e não deve ser avaliada unicamente pelo simples fato de fornecer milho, soja, minerais e vitaminas ao suíno. O ajuste nutricional, a forma e processamento da dieta e as adequações das instalações agem em conjunto para determinar o sucesso dos animais em converter ração em carne, em quantidade e qualidade para a mesa do consumidor e a custo competitivo.

*Lucas Alves Rodrigues é Médico Veterinário (UFMG), Mestre em Zootecnia (UFMG) eAnalista de Nutrição Pleno (Suínos) Vaccinar