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Desafios ligados ao desmame de suínos e seus impactos na produção

<em>Por João Paulo Pereira de Souza, Zootecnista - Nutrição Suínos, Vaccinar Nutrição Animal</em>

Desafios ligados ao desmame de suínos e seus impactos na produção

No ano de 2020 as exportações brasileiras registraram recorde histórico, marcando assim 1,02 milhões de toneladas, 36% a mais do que registrado em anos anteriores. As vendas para o mercado asiático foram as que mais cresceram, representando 80% do total das exportações do país (ABPA, 2021). O Brasil ocupa a quarta colocação em relação a produção de carne suína, uma vez que, essa colocação entra em acordo com as altas exigências exigidas pelos órgãos envolvidos em relação a sanidade do rebanho, nutrição, bem-estar e boas práticas de criação. O grande desafio de todas essas exigências é associá-las junto a sustentabilidade do sistema e uma redução dos custos de produção (LEHNEN, et al., 2020, AQUINO et al., 2014).

O desmame atual na suinocultura moderna ocorre entre 21 e 28 dias atualmente, sendo precoce em relação a um desmame natural, da qual se torna um dos momentos mais críticos para o desenvolvimento do leitão (DENCK, HILGEMBERG & LEHNEN, 2017). Como em outros setores de produção animal, a suinocultura não é diferente, da qual, a mesma também passa por desafios no desmame que possam a vir a limitar a impactar na produção dos animais (DE LIMA, et al., 2020).

Esses desafios por sua vez se iniciam no início do desmame, um dos fatores que pode interferir no desempenho da maternidade, seria na transição da dieta liquida (leite materno), para uma sólida (ração), sendo necessária uma inclusão precoce na maternidade. O manejo sanitário ganha destaque nesse aspecto, uma vez que, ele se baseia em boas práticas de limpeza e desinfecção das instalações, com foco na eliminação total ou parcial de patógenos causadores de prejuízos na suinocultura (MARTINS et al., 2018, SOUZA et al., 2015).

Segundo CAMPBELL et al (2013), suínos recém desmamados passam por uma série de fatores que são estressantes para o animal. Além de fatores como a mudança da ração e fatores ambientais, ocorrem também fatores sociais, uma vez que, esses se referem a separação forçada da mãe, transporte desses animais, disputas hierárquicas devido a mistura com outros animais provindos de outras matrizes. Contudo, os leitões expostos a essas situações têm por obrigação se adaptar o mais rápido possível a essas condições, há visto que, essas condições podem vir a causar quadros que podem vir a afetar esses animais de maneira negativa. O objetivo desta revisão é evidenciar e colocar em questão os principais desafios encontrados na suinocultura industrial brasileira para com o desmame de suínos.

O ato do desmame é estressante para os leitões. O desmame natural em suínos ocorrem entre 10 e 12 semanas, se caracterizando pela inibição da secreção láctea pela mãe e pelo desinteresse dos leitões. O desmame convencional ocorre entre 7 e 8 semanas, da qual era um manejo que foi o mais utilizado na intensificação da suinocultura. Outro, é o desmame antecipado, ocorrendo entre 4 e 6 semanas de vida, onde permite uma melhor produção em relação ao índice leitões/porca/ano. Esse método permite uma economia da ração da matriz, além de diminuir transmissões de patógenos da fêmea para os leitões devido a pouca permanência, além dos animais lactentes já possuírem um sistema digestório mais desenvolvido (MARTINS et al., 2018).

Outrora há o método de desmame precoce, da qual os animais são submetidos ao mesmo com 3 semanas de vida. Esse método permite um maior número de leitões/fêmea/ano, sendo maior do que os métodos citados anteriormente (SILVA et al., 2014). Martins et al., (2018), cita que esse método de desmame possui particularidades, uma vez que, esse depende de um melhor manejo, necessitando de uma dieta melhor para os leitões, da qual não possuem uma fisiologia digestiva completamente desenvolvida para receber uma dieta solida, exigindo um ambiente mais controlado sanitariamente, instalações adequadas para animais/metro2 e mão de obra qualificada, garantindo assim uma melhor produção, havendo uma média de até 1,4 leitões a mais/porca/ano.

O desmame precoce pode provocar problemas distintos de estresse, esses por sua vez, podem ser psicológicos e fisiológicos. O psicológico ocorre em relação ao manejo em si do desmame e a exposição do animal a um ambiente completamente estranho em relação ao anterior, o fisiológico, provem da fome, das injurias provocados por agentes e fatores provindos do desafio imunológicos gerados devido as mudanças no ambiente (ARAUJO, et al., 2011).

O contato entre a mãe e o leitão assegura a ingestão de leite e um melhor conforto dos animais, pois garante que a vida social dele seja garantida favoravelmente. O desenvolvimento desses animais está diretamente ligado ao sucesso na amamentação, no entanto, quando privados a esse ato é reconhecível e visível o impacto negativo no bem-estar desses animais. A separação da mãe causa impacto no emocional desses animais, fazendo com que eles sejam afetados emocionalmente, uma vez que é possível verificar tal comportamento no ato do desmame, quando a separação ocorre, uma vez que tanto quando a mãe quanto os leitões emitem efeitos sonoros de sofrimento (SILVA et al., 2014).

Os animais ao serem separados de sua mãe comprovam uma maior dificuldade em virtude a exposição a eventos futuros, causando estresse. Para o leitão, o desmame significa a perda da mãe e consequentemente a perca de seu alimento principal (leite materno), além do grupo social estabelecido na baia maternidade junto aos seus irmãos. Outro fator é que esses animais distantes da matriz, vem a praticar hábitos comportamentais anormais em resposta a necessidade de mamar. O mais observado é o “belly-nosing”, da qual se estabelece pela prática de o leitão fazer movimentos com a cabeça em outros leitões, semelhante a mamada do leite na matriz (WEARY, APPLEBY & FRASER, 1999).

A independência forçada de leitões recém desmamados, foi possível melhorando fatores que antes da industrialização da suinocultura era escassa. Esses fatores estão associados principalmente ao ambiente (MOLINO & BALBINO, 2010). Mudanças sociais e psicológicas impostas a esses animais por mudanças de ambiente e na formação de novos grupos sociais e uniformes afeta-os de forma a criar uma hierarquia social, da qual irá aumentar o número de disputas, causando alterações nos animais, principalmente na ingestão de alimentos, uma vez que esse fator está associado diretamente ao desempenho de produção (SILVA et al., 2014).

A transferência dos leitões desmamados para um ambiente onde não há a sua leitegada de origem leva a um crescente aumento de plasma/glicose, da qual é interpretado como uma forma adaptativa ao novo ambiente de convívio (SILVA et al., 2014). Ao ser retirado da mãe, o leitão por sua vez tem o convício social cortado, uma vez que o laço é retirado do mesmo, forçando-o a reagir de forma rigorosa com os novos indivíduos após o desmame. Além disso entra o fato que o ambiente é completamente diferente, tendo distinção completa do anterior (baia maternidade), a disposição da mãe não é encontrada mais, além da mesma possuir um espaço diferenciado e equipamentos que o animal terá de adquirir o costume (PINHEIRO, 2014).

Esse novo convívio social dos animais pode contribuir ou não para a estabilidade da saúde dos animais na fase de creche, onde haverá uma mistura de lotes. Geralmente, além da disputa hierárquica, há ainda a o risco sanitário, envolvendo doenças. A maneira, pela qual o lote for manejado nos primeiros quatro dias, irá determinar o desempenho subsequente dos animais (KUMMER et al., 2009). O autor ainda recomenda uma densidade de lotação ideal para um melhor convívio dos animais, ele estabelece que o mesmo seja de 0,035m2/Kg, obedecendo a legislação, facilitando assim o manejo com esses animais.

Para a tal condição de estresse, há caminhos voltados para o bem-estar animal que pode diminuir tal situação. O enriquecimento ambiental é um assunto já abordado, da qual tem registros positivos voltados para o bem-estar, da qual consiste em aperfeiçoar as instalações tornando o ambiente mais adequado para as necessidades comportamentais dos animais, outro é a busca de sistemas de criação voltados para o bem-estar animal. O enriquecimento ambiental é um princípio que propõe melhorar a qualidade de vida dos animais em meio a um sistema ou instalação irreconhecível pelos animais em um primeiro momento, da qual servirá para um modelo de adaptação e diminuição do estresse causados por diversos fatores. Esses estímulos têm como objetivo melhorar a qualidade de vida e bem-estar dos animais de modo psíquico e fisiológico (CAMPOS et al., 2010).

Além disso outros problemas que afetam o desempenho dos animais são encontrados na fase de desmame. Esses problemas são de ordens sanitárias, principalmente síndromes da diarreia, ocasionada pós desmame e doença do edema. Esses distúrbios são vistos como etiologias multifatoriais, onde agentes infecciosos exercem seu poder patogênico, onde leitões em estresse são os mais afetados, da qual os agentes mais encontrados são E. colli e o Rotavirus. Entretando, condições ligadas ao manejo, ambiente e nutrição dos animais exerce papel importante na ocorrência e na gravidade de diarreia e doença do edema, uma vez que esses agentes estão presentes tanto em rebanhos com problemas quanto em rebanhos sadios (MORÉS & AMARAL, 2001).

Propiciar um ambiente de qualidade, pensando principalmente no controle sanitário apropriado e de melhor conforta para os animais é indispensável para um melhor e adequado desenvolvimento dos animais em fase de creche (KUMMER et al., 2009). O aparecimento de doença nas instalações suinícolas é um evento que causa percas nos índices zootécnicos, além de gerar gastos com medicamentos e despesas gerais, uma vez que essa falta sanitária pode aumentar os riscos tanto para os animais quanto para pessoas envolvidas no manejo e consumidores (MAAS & CORDEIRO, 2014). LIVRO

Em instalações com menor índice de desafios sanitários os animais podem manifestar todo o seu potencial genético, visto que os nutrientes presentes na dieta são voltados para o seu desempenho. No entanto, quando o sistema imune é ativado, estimula uma série de respostas, sendo elas metabólicas, neurológicas e comportamentais causadas pelas citocinas, da qual podem modular suas exigências por determinados nutrientes; especialmente por aminoácidos ligados ao sistema imune, concedendo que o organismo do animal tenha controle sobre os patógenos e imunidade, voltando a homeostase (JÚNIOR et al., 2013).

Após a saída desses animais da maternidade e com os desafios encontrados por estes após o desmame expõem o seu trato gastrointestinal. Estes desafios associados a retirada do aporte nutricional e imunológicos presentes no leite, impactara negativamente nos ganhos zootécnicos dos animais. Especificamente nas primeiras 24 horas pós desmame verifica-se alterações funcionais e estruturais no TGI, mais especificamente no intestino delgado dos animais, da qual apresenta diminuição na altura dos vilos, além da redução da atividade enzimática absorção. A nutrição entra em ação, pois além de influenciar positivamente no desempenho dos animais, pode acarretar interferências na produção (KUMMER et al., 2009, ROCHA et al., 2015).

Ao serem desafiados sanitariamente, a saúde do animal é comprometida. Com esse estado são acionadas as células de defesa do organismo, as quais são representadas pelos leucócitos, englobando os linfócitos, monócitos, neutrófilos e eosinófilos, sendo influenciadas pela nutrição, estresse ou desordens em geral. É possível verificar um crescente número na contagem de leucócitos no ato do desmame dos leitões, por outro lado quando adicionados probióticos nas deitas desses animais é possível observar a diminuição dos mesmos (SANTOS et al., 2016).

Além do aspecto econômico há outros que fazem diferença ao formular uma dieta para leitões em fase de creche. É importante ressaltar que ao sair da maternidade esses animais encontram-se em um estado crítico, da qual demanda uma alta exigência energética, sendo necessário uma formulação o mais balanceada possível (KUMMER et al., 2009). NETO et al., (2009), cita que o maior desafio dos animais em fase pós desmame é a limitação do consumo em virtude que a energia metabolizável limita a ingestão de ração.

Diante do cenário atual, no qual os animais enfrentam desafios após o desmame, uma alternativa voltada para a nutrição desses animais para se obter um melhor desempenho é a utilização e o seu fornecimento de rações com alta digestibilidade e alta palatabilidade, uma vez que essa deve possuir uma densidade nutricional adequada de acordo com a exigência desses animais. Para isso há a disposição de rações complexas, da qual são compostas por ingredientes de alta digestibilidade, da qual tem sido adaptada constantemente em pesquisas, denominadas adequadas para essa fase (CARVALHO et al., 2014).

Na produção de suínos é comum encontrarmos desafios que podem impactar diretamente a produção, principalmente em situações que causam estresse, nesse caso o desmame de leitões. Por outro lado, há soluções que são capazes de evitar essa situação, da qual são métodos simples e fáceis de se fazer. É possível evitar esses problemas ao desmame escolhendo o melhor método de desmame, além de fazer o mesmo na idade correta dos leitões, fazendo o transporte adequado dos mesmos, seguindo os procedimentos e normas, escolhendo corretamente a melhor instalação e seus constituintes (bebedouros, comedouros, pisos e número de animais), pensando sempre no bem-estar do animal, escolher os melhores métodos de manejo, ofertando água e nutrição de qualidade, além da disposição de medicamentos de qualidade.