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Artigo Manejo

Desmame: Desafios e estratégias para melhorar a saúde e desempenho

Por Melina Bonato (Coordenadora de P&D, ICC Brazil)

Desmame: Desafios e estratégias para melhorar a saúde e desempenho

O desmame é um período de alto desafio para o leitão e os fatores estressores envolvem, principalmente, o novo ambiente com novas interações sociais e mudança de dieta. Os suínos são manuseados e reagrupados muitas vezes durante sua vida produtiva (Martínez-Miró et al., 2016); no entanto, durante o período de desmame, as consequências desse estresse podem levar à altas perdas de produção. Após o nascimento, o leitão é altamente dependente de fatores imunes específicos e inespecíficos presentes no colostro e no leite materno (Stokes et al., 2004) e o desmame comercial ocorre entre 17 e 28 dias de idade, quando o sistema imunológico do leitão é ainda imaturo e seus anticorpos circulantes atingem os níveis mais baixos (em torno de 28 dias). Esse período é chamado de “gap imunitário” ou “gap pós-desmame”, onde o leitão está mais suscetível a desafios intestinais porque seu sistema imunológico adquirido (específico) não teve tempo de se desenvolver completamente. Depois disso, o nível de anticorpos aumenta gradualmente à medida que o animal constrói sua própria imunidade natural.

Ao mesmo tempo, o sistema digestório do leitão apresenta algumas limitações, como a secreção insuficiente de enzimas, ácido clorídrico, bicarbonato e muco, fatores que interferem na digestão e absorção adequada dos nutrientes (Lallès et al., 2007). O estresse da mudança do leite (de alta digestibilidade) para a alimentação sólida (alimentos com menor digestibilidade e mais complexos) pode resultar em diminuição do consumo de ração e da água. Segundo Brooks et al. (2001), 50% dos leitões desmamados consomem a ração até 24 horas após o desmame e 10% começam a comer 48 horas após o desmame. A menor digestibilidade da dieta (dependendo da qualidade dos ingredientes utilizados) pode ser usada como substrato para a proliferação de bactérias patogênicas e resultando em problemas de entéricos e de saúde, como a diarreia. Nesse período, a microbiota intestinal passa por mudanças dramáticas em sua composição durante os 7 a 14 dias após o desmame (Hillman, 2001) e pode gerar resistência ou exclusão competitiva (Lallès et al., 2007).

O ambiente onde as porcas estão alojadas, nutrição, estado de saúde e estado geral terão um impacto direto sobre os leitões recém-nascidos e pós-desmamados, podendo ser por impacto direto no desenvolvimento dos leitões durante a gestação, contato físico pós-natal (transmissão da microbiota) e leite e colostro durante a lactação. O colostro tem uma alta concentração de sólidos totais e proteínas, mas baixos níveis de gordura e lactose. Também contém altos níveis de imunoglobulinas (IgG, IgA e IgM) e a concentração diminui com o tempo de lactação (I-Fen Hung, 2015; Mateo et al. 2004). Existem algumas outras células do sistema imune no colostro e no leite, incluindo neutrófilos, linfócitos, macrófagos e células epiteliais das glândulas mamárias (Darragh & Monghan, 1998), e leucócitos que estimulam o desenvolvimento da imunidade celular dos neonatos (Blecha, 1998). Assim, a condição de saúde da porca terá um impacto direto sobre a transmissão da imunidade passiva.

A fonte natural mais rica em nucleotídeos e nucleosídeos é o leite materno humano, o segundo é o colostro e o leite de porcas. Embora os nucleotídeos não sejam considerados nutrientes essenciais, eles desempenham um papel importante em vários processos metabólicos, em particular, em alguns tecidos do corpo e etapas da vida animal. Os nucleotídeos e nucleosídeos livres podem ser facilmente absorvidos pelos enterócitos no intestino e são especialmente importantes em tecidos de rápida proliferação celular e capacidade limitada para a síntese de novo (principal via de produção de nucleotídeos), tais como células epiteliais intestinais, células sanguíneas, hepatócitos e células do sistema imunológico. Assim, os nucleotídeos livres podem ser utilizados pela via de salvamento, onde o corpo pode sintetizar nucleotídeos com menor consumo de energia, como resultado da reciclagem de bases e nucleotídeos da degradação metabólica de ácidos nucléicos de células mortas ou da dieta. No entanto, quando o suprimento endógeno é insuficiente, as fontes de nucleotídeos exógenos (dietéticos) tornam-se nutrientes semi-essenciais ou “condicionalmente essenciais” (Carver & Walker, 1995). Isso ocorre especialmente em animais em fases de crescimento rápido (estágios iniciais), reprodução, estresse e desafios.

Como a saúde e nutrição das porcas estão diretamente ligadas à saúde e ao desenvolvimento dos leitões, estudos na literatura têm mostrado os benefícios dos aditivos alimentares como fonte de nucleotídeos (puros ou não) podem ter um impacto sobre a saúde e o desempenho das porcas, além de transmissão para sua progênie. No entanto, de acordo com Vitagliano et al. (2014) a melhoria da qualidade do leite (transmissão de imunidade passiva, nutrientes, etc) pode ocorrer até um certo limite, já que provavelmente deve ser limitado pelo potencial genético da porca, assim como sua capacidade de uso e transmissão dos nutrientes. Porém, a suplementação exógena de nucleotídeos e nucleosídeos pode melhorar o ganho de peso e diminuir a mortalidade de leitões ao desmame (Vitagliano et al., 2014). Ou seja, a suplementação destes nutrientes nas dietas de porcas em lactação pode refletir em leitões de melhor qualidade (saúde).

Os benefícios encontrados na suplementação das dietas dos leitões durante a fase de creche (especialmente nas fases iniciais) estão relacionados a diminuição de problemas entéricos, melhora da integridade intestinal, melhora nas respostas do sistema imunológico e subsequentes melhorias no desempenho (maior ganho de peso).

A suplementação exógena de nucleotídeos e nucleosídeos livres pode ser uma das estratégias para ajudar os leitões nesta fase inicial de alto desafio, melhorando a saúde, imunidade passiva e a qualidade do leite em porcas, afetando diretamente a resposta imune inata, diminuindo a contaminação de patógenos no intestino e refletindo na saúde e crescimento de uma maneira geral.

Referências

Blecha, F. Immunological aspects: comparison with other species. In The Lactating Sow, M.W.A. Verstegen, P.J. Moughan, and J.W. Schrama, eds. (Wageningen Pres, Wageningen, Netherlands), pp. 23-44, 1998.

Brooks, P.H. et al. Liquid feeding for the young piglet. In The Weaner Pig: Nutrition and Management, M.A. Varley and J. Wiseman, eds. (Wallingford, Oxon: CAB International), pp. 153–178, 2001.

Carver, J.D, W.A. Walker. The role of nucleotides in human nutrition. Nutritional Biochemistry 6: 58-72, 1995.

Darragh, A. J., P.J. Mougham. The composition of colostrum and milk. In The Lactating Sow, M.W.A. Verstegen, P.J. Moughan, and J.W. Schrama, eds. (Wageningen Pres, Wageningen, Netherlands), pp. 3-21, 1998.

Hillman, K. Bacteriological aspects of the use of antibiotics and their alternatives in the feed of nonruminant animals. In Recent Advances in Animal Nutrition, P.C. Garnsworthy, J. Wiseman, eds. (UK: Nottingham University Press), pp. 107–134, 2001.

Hung, I-Fen. The effect of dietary nucleotides in sow and nursery piglet diets on reproduction, growth, and immune response. PhD Diss. University of Kentucky, Lexington, 2015.

Lallès, J. P. et al. Weaning – A challenge to gut physiologists. Livestock Science 108: 82-93, 2007.

Martínez-Miró, S. et al.Causes, consequences and biomarkers of stress in swine: an update. BMC Veterinary Research, 12:171, 2016.

Mateo C.D. et al. Nucleotides in sow colostrum and milk at different stages of lactation. Journal of Animal Science, v. 82, pp.1339–1342, 2004.

Stokes, C.R., et al. Postnatal development of intestinal immune system in piglets: implications for the process of weaning. Animal Research 53: 325–334, 2004.

Vitagliano, L.A. et al. Nucleotide supplementation in the diet of farrowing sows and its effect on milk quality, litter weight gain, and mortality. In: 2014 Joint Annual Meeting, 2014, Kansas City, USA. Abstracts of 2014 Joint Annual Meeting, v. 92. p. 239-239, 2014.