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Do frio ao calor

Mesmo com as grandes oscilações de temperatura na região, a UPL da CoopLar tem conseguido bons índices de nascimento.

Os nascimentos ocorridos entre os meses de setembro e fevereiro  (período de temperatura mais quentes) chegam a registrar um leitão a mais na média

Redação SI (Edição 162/2002) – O lago de Itaipu aparece imponente com seus 1.350 quilômetros quadrados. É possível observá-lo da Unidade Produtora de Leitões (UPL) da cooperativa agropecuária CoopLar, antiga Cotrefal, localizado na pequena Itaipulândia, no Paraná. Na verdade, visualizar apenas um ínfimo trecho. Formado em 1982 para alimentar as turbinas da hidrelétrica de Itaipu, ele é o sétimo maior lago artificial do mundo. A presença de tanta água deixa o clima extremamente úmido, com temperaturas que podem chegar a 40 graus no verão e a zero no inverno.

Esta discrepância de temperaturas geralmente afeta a taxa de parição na suinocultura, diminuindo o total de nascidos. Um problema que, segundo o gerente da UPL, Dirceu Zotti, tem sido superado, principalmente pela prática adquirida pelos funcionários, que seguem à risca as recomendações do suporte técnico Dalland, empresa de genética que fez o povoamento da granja.

Isso pode ser comprovado pelos dados das coberturas realizadas entre o meses de março e agosto, que darão cria entre setembro e fevereiro, com os quais a granja chega a registrar um leitão a mais por fêmea na média. “O histórico que temos nestes quatro anos é que a cobertura nestes seis meses aumenta em torno de um leitão desmamado a mais”, afirma o gerente. “Por isso, eu acredito que conseguiremos chegar perto dos 27 leitões desmamados por porca neste ano”.

Índices da Granja*

Número de granjas: 1
Porcentagem repet/cio 7
Intervalo desmama/1cobert 4,4
Porcent/porcas cobert/7 dias 92,4
Média Nasc/leitegada 12
Média Nasc/vivos/leitegada 11,1
Taxa de parição (ajustada) 87,7
Intervalo entre partos 141
Leiteg/fêmea cobert/ano 2,54
Desmame por porca 10,3
Idade média na desmama 19,2
Desm/fêmea cobert/ano 26,2
Média DNP/porca 473

*

Os dados se referem ao período de outubro/2001 a Maio/2002.
Fonte: Programa Pig Champ.

Zotti explica o resultado como conseqüência de um bom manejo e do fato de a fêmea C-40 se adaptar bem às condições climáticas locais e, mesmo em altas temperaturas, continuar se alimentando bem, o que lhe proporciona boa produção de leite e um retorno à gestação com uma boa conformação corporal.

A granja possui hoje cerca 2,6 mil matrizes, contando as marrãs, dispostas numa área construída de mais de 13 mil metros quadrados. A cooperativa já tem um projeto de ampliação da granja, que deve ser feito no próximo ano, chegando então a 5 mil matrizes. Mesmo com tantas fêmeas, Zotti coordena um trabalho para manter a maior uniformidade possível do plantel, evitando assim matrizes muito gordas ou magras demais, o que poderia prejudicar o desempenho reprodutivo.

Para se chegar a este resultado, a equipe técnica da Dalland do Brasil disponibiliza aos clientes uma ferramenta de acompanhamento da evolução da condição corporal do plantel que é o software Sow Condition. Por meio da medição da espessura de toucinho no ponto P2 (de pelo menos duas fêmeas por ordem de parto, por semana de gestação), esse software mostra uma fotografia do plantel, em determinado momento. O programa ainda proporciona ao produtor a opção de adequar o manejo de arraçoamento das fêmas Dalland, que é totalmente diferenciado do das outras fêmeas do mercado. “As fêmeas Dalland são as únicas com componentes Pietrain ao invés de Landrace”, explica Everaldo de Paula, gerente Regional da Dalland do Brasil.

Atenção ao manejo – O gerente da granja, Dirceu Zotti, descobriu um manejo mais adequado ao procurar identificar o porquê de tantos animais empacarem nos corredores ou na condução aos caminhões de transporte, e se tornarem mais agressivos. “Verifiquei que alguns funcionários começaram a usar varinhas, sem que ninguém mandasse, para tocar os animais e isso os irritava”. Zotti também conta que era comum observar vergões nos corpos das fêmeas. Diante disso, expressou ordem de proibição do uso de qualquer objeto para conduzir os animais. “Isso ajudou a reduzir os problemas que tínhamos com os animais empacados”, diz satisfeito.

União e motivação da equipe são fundamentais para se atingir as metas, acredita Zotti

Outra vitória e demonstração de carinho com os animais vem sendo obtida na maternidade. Anteriormente, os leitões extremamente fracos e com poucas chances de se desenvolverem eram descartados. Hoje, os funcionários separam esses animais, colocando-os em baias especiais, e oferecem um tratamento especial a eles. “Às vezes, conseguimos recuperar um ou dois leitões entre os fracos, e isso já é uma vitória”.

Para fazer fluir tanto trabalho, a principal ferramenta é a informação. A maternidade é um exemplo. Disposta em dois barracões, com subdivisões para 30 fêmeas cada, é tocada por uma equipe de 12 pessoas, sendo quatro assistentes de parto. O plantão é de 24 horas e tudo tem que estar bem anotado para que o próximo a entrar no turno saiba tudo o que já foi feito. As fêmeas sobem para a maternidade com 110 dias de gestação. Passam antes pelo setor de limpeza, onde serão lavadas, desinfetadas e farão um tratamento nos cascos para prevenir eventuais rachaduras.

Já na maternidade, cada porca ganha uma espécie de prontuário. Ali serão registrados todos os dados referentes àquele animal. “Também fazemos uma reunião toda sexta-feira com a equipe da maternidade, mas diariamente procuramos fazer com que informações de interesse do setor cheguem até eles”, explica Zotti.

A UPL está dividida em dois sítios. No sítio 1 estão concentradas a gestação, a maternidade e a recria. A gestação ocupa três barracões que estão divididos para área de monta, de gestação e de recria. Por semana são 120 coberturas. Destas, 10% são separadas e encaminhadas para baias coletivas. Quando ocorre o retorno ao cio das fêmeas da gestação, as vagas são completadas com as matrizes separadas anteriormente. “Nosso objetivo é não mexer no plantel, por isso utilizamos as outras 10%, procurando aproveitar ao máximo o espaço na gestação”, explica Zotti.

Todo o dejeto é tratado e depois utilizado em plantações da região

No sítio 2 está localizada a creche e a área de seleção e teste. Nesta área ficam as marrãs com 60 dias, que chegam da granja núcleo, apelidada de Eva, também pertence à CoopLar. Esta unidade possui hoje cerca de 300 avós para a produção da C-40. Ao atingirem 150 dias, essas marrãs vão para a recria, onde são estimuladas ao cio com um macho rufião. São baias coletivas onde ficam de 7 a 9 animais, juntamente com um descarte. “Com 180 dias deixamos um descarte dentro das baias para passar imunidade para as marrãs”, comenta o gerente.

Os machos ficam numa área separada, próximo à Central de Inseminação Artificial (CIA). Dali sai o sêmen para a inseminação das matrizes da UPL e das avós da granja Eva. São 22 machos: cinco TOPPI, oito TYBOR e seis Dalboar 85, além de três machos avôs da linha 30 da Dalland. No laboratório, o uso de um ar-condicionado foi a solução para manter a temperatura nos patamares exigidos para a manipulação do material. “O ideal é manter a temperatura em torno de 20 a 22 graus, por isso fazemos um controle diário”, comenta Zotti. “Mantemos também termômetros dentro da geladeira para conferir a temperatura, que deve ser entre 15 e 18 graus”, enfatiza.

O projeto é dobrar o total de matrizes da UPL em 2003. Hoje são 2,6 mil

Numa outra geladeira, ali mesmo no laboratório, se encontram as vacinas para o plantel, aí numa temperatura bem mais baixa, de 2 a 8 graus. São vacinas contra pneumonia enzoótica, parvovirose, erisipela, leptospirose, coli e rinite atrófica. De acordo com Zotti, a granja está livre de doenças de reprodução, conforme sorologia do plantel realizada periodicamente pelo laboratório Cepa e o controle de doenças e assistência técnica, monitorado pela equipe de técnicos da Consuitec. Para entrar na granja, os funcionários e visitantes precisam passar pelo banho. O caminhões para o transporte dos leitões também passam pela desinfecção. “Temos plena consciência de que a sanidade é de vital importância para o sucesso da atividade suinícola, e se não tivermos qualidade poderemos estar fora do mercado a qualquer momento”, alerta o gerente.

Meio ambiente – Uma outra preocupação da cooperativa é com o tratamento dos dejetos. A CoopLar costuma trabalhar com um limite de animais por terminador. “Não colocamos mais do que 500 suínos por propriedade para não termos tantos problemas com dejetos”, explica Milton José J. Bortolini, gerente da divisão pecuária da CoopLar.

Na UPL, os dejetos líquidos são separados dos sólidos. “Diariamente, um caminhão da Prefeitura retira o material para ser encaminhado aos agricultores da região, que  utilizam o dejeto tratado como adubo em suas plantações”, explica Zotti. “O restante da água segue para as lagoas, que no futuro será reciclada e usada na limpeza e flushing da granja, diminuindo o consumo de água potável em cerca de 20%”.

Atitude correta

Quando a CoopLar iniciou a construção de sua Unidade Produtora de Leitões (UPL) há cerca de cinco anos, ainda havia no ar uma dúvida povoando as discussões em torno do projeto: era função da cooperativa produzir os leitões? A idéia predominante era de que a atuação da cooperativa deveria ser na industrialização e venda, cabendo toda a etapa produtiva ao suinocultor. A discussão passou. A UPL tornou-se realidade, mudou o perfil dos produtores e já tem colhido seus primeiros frutos.

Um deles é a possibilidade de fornecer à indústria uma carcaça padronizada e com melhor qualidade. Resultado dos investimentos em genética e inseminação artificial. Outro, é facilitar a rastreabilidade, item cada vez mais presente nas pautas de exportações, contando também com o fato de toda ração oferecida aos animais, tanto na UPL quanto nas granjas terminadoras, serem de uma fábrica da própria CoopLar, com capacidade de produção de 33 toneladas/hora.

Essa facilidade em rastrear todas as etapas produtivas já foi responsável pelo fechamento de pelo menos um negócio internacional, realizado entre o frigorífico Sudcoop, que realiza o abate da produção, e um grupo do Uruguai. Na visita ao Brasil, os uruguaios quiseram conhecer, principalmente, a UPL antes de formalizar a compra. “Nós fechamos o contrato dando a garantia de que todos os animais comercializados seriam da UPL”, conta Juarez Vicente Ottonelli, supervisor técnico de fomento suínos da Sudcoop. O frigorífico comercializa cerca de 60 tipos diferentes de produtos, todos com a marca Frimesa. Dos terminadores da CoopLar, antiga Cotrefal, o Sudcoop recebe uma média mensal de 6,5 mil animais, o que corresponde a 25,6% do seu total de abate.

Os negócios parecem ir bem, mas a instalação da Unidade de Produção de Leitões também trouxe uma nova realidade para os produtores da região. Antes dela, havia cerca de 602 pequenos suinocultores de ciclo completo. Hoje, dentro da cooperativa, restaram apenas 92 terminadores, 7 produtores de leitões – numa escala bem menor que a UPL, e 14 de ciclo completo. Milton José J. Bortolini, gerente da divisão pecuária da cooperativa, explica que essa redução iria ocorrer de qualquer forma e talvez até mais drástica. “A tecnologia começou a apertar os pequenos produtores e eles não conseguiam mais ser competitivos”, afirma o gerente.

Foi quando a CoopLar resolveu adotar um antigo projeto dos produtores da região: a criação de uma UPL. A Cooperativa contou com o apoio da prefeitura de Itaipulândia (PR) e investiu cerca de R$ 2,4 milhões para implantar a unidade. “E deu certo. Hoje os produtores estão realmente muito contentes porque têm rentabilidade e segurança”, afirma Bortolini.