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Equilíbrio homeopático

Embora a aplicação da homeopatia na Granja Querência ainda esteja em fase de pesquisa, a técnica tem tudo para se tornar a estratégia principal para controlar a sanidade do plantel e produzir suínos 100% naturais.

Redação SI (Agosto/Setembro-2001) – Suínos 100% naturais. Esta é a meta da Granja Querência, instalada em Salto (SP), para os próximos meses. Mas o que são suínos 100% naturais? Com a palavra Paulo César Michelone, gerente geral da granja: “São suínos produzidos sem o uso de antibióticos e promotores de crescimento”. Para isso, a Querência adotou em abril deste ano um sistema novo e inédito de produção e manejo sanitário do plantel, que alia a criação intensiva à homeopatia. A técnica, reconhecida cientificamente como uma especialidade da medicina, caracteriza-se por apresentar produtos formulados a partir de plantas (80% da composição), minerais (10%) e frutos do mar (10%). “São produtos extremamente naturais, sem elementos químicos pesados, e que proporcionam a produção de uma carne limpa, sem resíduos”, diz.

A orientação técnica à Granja Querência, onde estão alojadas mil matrizes, é prestada pela veterinária Erlete Rosalina Vuaden, que está se especializando em homeopatia no Instituto Samuel Hahnemann, de Piracicaba (SP). Ela revela que a homeopatia foi criada em 1797, pelo médico alemão Samuel Hahnemann, para tratar humanos. Porém, o início da utilização da técnica em animais não é conhecido. Mas a veterinária revela que na suinocultura a Granja Querência é a pioneira no mundo. No entanto, Michelone e Vuaden ressaltam que a aplicação da homeopatia na propriedade está em fase de pesquisa. “Ainda estamos pesquisando as formulações e dosagens ideais aos animais”, diz a veterinária.

O tratamento alopático (convencional) foi abolido da granja desde o dia 10 de abril último. Salvos os esquemas de vacinação das fêmeas contra Parvovirose, Leptospirose e Erisipela, e a vacinação contra Rinite Atrófica e Mycoplasma. “A vacinação é mantida por questões sanitárias, diz a veterinária. De acordo com Vuaden a vacinação faz parte de um processo de prevenção (imunização) aos suínos. “A vacina é um produto de biologia modificada e não um produto químico”, compara.

E mesmo com pouco tempo de implantação, a homeopatia já começa a apresentar seus primeiros resultados positivos. “A maior vantagem é a ausência total de diarréia no plantel”, comemora Michelone (foto ao lado). “Desde que começamos com o tratamento homeopático o índice de diarréia veio diminuindo e hoje é zero”.

Como funciona? A homeopatia baseia-se na lei da semelhança. Utiliza-se o mesmo componente que desencadeia a doença para curá-la. O medicamento homeopático provoca um estímulo na energia vital do indivíduo, ou seja, é o próprio organismo que se cura. Por isso, existem pacientes incuráveis e não doenças incuráveis. De acordo com a filosofia de Hahnemann, o mecanismo de ação da homeopatia é do tipo “chave-fechadura”, isto é, só o medicamento correto poderá promover a verdadeira cura. Assim como na medicina convencional, um produto homeopático mal escolhido, além de trazer efeitos colaterais, poderá inibir a energia do paciente ou mesmo anulá-la, fortalecendo a doença ou causando, numa situação extrema, até a morte. “Portanto, o remédio deve ser semelhante ao paciente no seu comprimento de onda vibracional, nos seus sintomas mentais, gerais e físicos”, explica a veterinária.

A aplicação dos produtos homeopáticos pode ser feita de duas formas: glóbulos (as conhecidas bolinhas) e em gotas. Na suinocultura é melhor utilizar a aplicação via gotinhas. A veterinária explica que as gotas são mais fáceis de administrar aos suínos. “Basta abrir a boca do animal e aplicar a quantidade necessária”. Geralmente os leitões recebem três gotinhas do tratamento em intervalos de tempo determinados pela veterinária (que podem ser de duas em duas horas em casos de tratamento intensivo) e fêmeas reprodutivas e animais adultos recebem cinco gotas a cada aplicação.

O tratamento homeopático também pode ser aplicado via ração. As gotas são pingadas em açúcar cristal adicionado à ração dos suínos. A quantidade, segundo Vuaden, varia de 12 ml a 24 ml por tonelada de ração. A veterinária também frisa que desde a implantação da homeopatia na propriedade todos os premixes utilizados na alimentação foram alterados. “Só estamos utilizando premixes livres de promotores de crescimento e de antibióticos”.

Além da ausência de diarréia no plantel, outros resultados positivos da homeopatia são observados na creche. “Como faz pouco tempo que implantamos a técnica, somente podemos classificar como 100% tratados pela homeopatia os leitões que hoje estão na creche”, esclarece o gerente. Ele alerta que esses animais são nascidos de mães já tratadas pela alopatia. Dessa forma, os benefícios mais significativos são observados na conversão alimentar. Michelone diz que após a adoção da homeopatia os leitões estão consumindo cerca de 35 kg de ração para chegar aos 30 kg em 70 dias. Antes, eram consumidos 43,5 kg para atingir o mesmo peso em igual período. (Na foto: leitões que recebem as doses diárias das gotinhas são marcados para controle)

O gerente também destaca o controle de problemas com corrimento durante a gestação a partir do uso dos produtos homeopáticos. “Esses problemas desapareceram”. A homeopatia ajudou ainda nos partos das fêmeas suínas. A granja adotava a indução do parto com hormônio. Hoje, a homeopatia inutilizou a prática. O gerente até apelidou os produtos homeopáticos de “facilitadores de parto” pela forma de como conseguiram descartar a indução artificial e a realização do toque para o parto.

Respaldo – A Granja Querência tem planos de instalar um laboratório próprio para manipular os produtos homeopáticos. “Hoje pagamos cerca de R$ 0,08 por ml de produto manipulado”, diz Vuaden. Os produtos são produzidos em laboratórios de manipulação humana sob a orientação da veterinária. O consumo mensal desses produtos na granja é de aproximadamente 30 litros. Dessa forma, o custo da técnica não chega a ser alto. Porém, Erlete ainda não menciona retorno financeiro, pois o tratamento está em fase de implantação e pesquisa na propriedade. Mas adianta que os custos mensais da homeopatia na granja podem chegar a ser 70% menores que os custos do tratamento convencional.

Num espaço de três mil metros quadrados (a granja está construída numa área de 30 hectares) já foram plantados 60 tipos de plantas medicinais entre arnica, boldo, hortelã, camomila, pimenta e outras, para utilização do plantel. “Além da homeopatia estamos aplicando a fitoterapia aos suínos”, diz Michelone. A fitoterapia, tratamento à base de plantas, é aplicada aos animais em forma de pomadas e líquidos, preparados na própria granja, com propriedades de cicatrização. Neste caso, a fitoterapia é empregada nos processos de pós-castração e tratamento de artrites.

Todo o trabalho, pesquisa e implantação da homeopatia na Granja Querência só foram possíveis por dois motivos: o voto de confiança do proprietário da granja, o empresário Weber Dalla Vecchia, e a participação da mão-de-obra. “O Weber confiou em mim e na Erlete quando nós apresentamos a proposta da homeopatia a ele”, revela o gerente. E hoje, de acordo com Michelone, Dalla Vecchia acompanha os primeiros resultados positivos desse trabalho, sendo um dos que mais aposta no pleno sucesso do tratamento. Nesse sentido, a granja prevê comercializar os primeiros animais 100% tratados pela homeopatia em meados de outubro.

Quanto à mão-de-obra, o gerente conta que a aceitação foi imediata. “Os 30 funcionários da granja gostaram tanto da novidade que alguns deles também começaram a se tratar com a homeopatia”, revela (veja quadro). Segundo ele, os animais recebem as gotinhas, que são adocicadas, de uma forma muito melhor do que no manejo com os remédios convencionais e com as agulhadas das injeções.

Sem automação – Todo o trabalho de distribuição de ração na granja é manual. “Sou contra a automação porque valorizo a mão-de-obra”, diz Michelone. Desta forma, o contato dos funcionários com os animais é constante. E deve ser por esta razão que os suínos da Querência são tão dóceis. Os animais recebem diariamente o carinho dos tratadores.

Com a chegada da homeopatia o índice de mortalidade na maternidade caiu 4%. “Antes tínhamos índices de mortalidade de aproximadamente 13,5%. Hoje a média não ultrapassa 9,5%”. O gerente diz que o efeito da homeopatia, aliado ao manejo exemplar dos funcionários, está sendo extremamente rápido. “Nós não esperávamos resultados positivos em tão pouco tempo como estamos observando na granja”.

Mas nem tudo são flores. A Querência, como qualquer outra granja, está sofrendo as ameaças do fantasma do racionamento da energia elétrica. Para atingir a meta de economia do governo, o gerente determinou o desligamento dos aquecedores da maternidade mais cedo e a operação da fábrica de ração somente durante o dia. Ele ainda relata que adaptou os galpões de maternidade com cortinas transparentes, para promover a claridade interna, confeccionadas de material não poroso. “Sem a porosidade é possível manter a temperatura interna agradável aos leitões”.

O controle dos animais na Granja Querência é gerenciado por meio do programa Master Pig, um software desenvolvido na própria granja, com capacidade de emitir 85 tipos de relatórios. Segundo a afirmação do gerente, a diferença entre o Master Pig e os outros programas é que ele permite o gerenciamento da granja pelo próprio gerente. Uma expressão que indica flexibilidade de atitudes na granja. Além disso, o Master Pig é muito fácil de operar, inclusive com os dados da homeopatia recém gerados na propriedade.

As pastagens de propriedades vizinhas e a própria horta da granja recebem adubo orgânico, a partir dos dejetos produzidos pelos suínos. Os dejetos são tratados com a ajuda de sete caixas e mais seis lagoas de decantação. A parte sólida tratada dos dejetos, conforme explica o gerente, é misturada com serragem ou capim para formar o composto orgânico. “Nós chegamos a comercializar 600 metros cúbicos ao ano desse composto orgânico ao preço de R$ 15,00 o metro cúbico”. Michelone também ressalta que em breve a Granja Querência estará comercializando adubo 100% orgânico, resultado do tratamento homeopático aplicado aos animais.

Do homem para o animal

A veterinária Erlete Vuaden e seus filhos há alguns anos começaram a se tratar com homeopatia. Os resultados foram tão bons e tão rápidos que o seu interesse em adaptar e aplicar a técnica em suínos não demorou a surgir. “Procurei o Paulo Michelone e o Weber Dalla Vecchia e falei sobre as vantagens e qualidades da homeopatia. Como a meta da granja é produzir e comercializar suínos 100% naturais, os dois aceitaram o desafio na hora”. Até os funcionários receberam a novidade com entusiasmo. A encarregada da maternidade, Aldecir Salviano Santos, 35 anos, começou a sofrer de depressão pós-parto logo após o nascimento de sua filha Rafaela (na foto), de 4 anos. “Fui a psiquiatra, psicólogo, tomei remédios fortes e nada me ajudou”. Com a indicação de Erlete, a encarregada procurou ajuda no tratamento homeopático. “Em pouco tempo de tratamento eu já estava me sentido bem melhor, hoje posso dizer que estou curada”. Aldecir começou o tratamento há menos de um ano. No trabalho, ela diz que homeopatia tem sido uma ótima alternativa para as matrizes e para os leitões. “As gotinhas são fáceis de aplicar e não estressam os animais. Mas é preciso ter muita disciplina nos horários das aplicações”.

Querência

Na Querência são produzidos cerca de 1500 terminados/mês, comercializados quase que em sua totalidade ao mercado de Piracicaba. A propriedade trabalha com animais fêmeas Large White, Landrace da Suinogen e reprodutores Pen Ar Lan. A granja conta com uma fábrica de ração própria, cuja produção mensal é de 480 toneladas. A produção é feita em ciclo completo, com diferencial às baias da creche e da terminação que adotaram o sistema de baias grandes (250 animais por baia na terminação). Destaque também para a “sala suja”, um galpão com várias baias, forradas com serragem, para onde são encaminhados os leitões que não conseguiram atingir o peso ideal durante a amamentação (até os 19 dias de idade). As fêmeas também vão junto com os leitões e os amamentam até que consigam atingir o peso ideal de desmame. “A novidade desse sistema está na ausência de gaiolas, a fêmea fica livre e consome ração e água à vontade”, explica Paulo Michelone, gerente geral. O leitão também começa a receber quantidades da ração pré-inicial na baia junto com a sua mãe. “O sistema faz bem tanto para o leitão, que recupera o seu peso rapidamente, quanto para a fêmea que fica alojada em condições de extremo conforto”.