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Existiram populações que seguiram uma dieta carnívora?

Por Jade Soller é proponente e adepta do carnivorismo como estilo alimentar e do estoicismo como modo de vida

Existiram populações que seguiram uma dieta carnívora?

A todo momento são repercutidas notícias dizendo que a carne seria insalubre, causadora de entupimento das artérias, responsável pela obesidade, aumento do colesterol, constipante, desencadeadora de câncer, ou seja, um alimento que deve ser evitado. É dito também que uma dieta à base de plantas seria uma melhor opção para a saúde e para o planeta.

Porém, se olharmos para diversas origens culturais, étnicas e geográficas, onde temos numerosos registros de pessoas que viveram principalmente de dietas de carnes por gerações, o que vemos são populações extremamente saudáveis, com baixo índice de doenças.

O que nunca existiu na história da humanidade foi uma civilização que tenha ingerido uma dieta vegana desde a infância até a morte, mas não faltam exemplos de pessoas reais, comendo principalmente dietas de carne por longos períodos de tempo, para nos darem informações poderosas sobre carne e saúde.

Os Inuítes, do Ártico canadense, prosperaram com carne de peixe, foca, morsa e baleia; o Chukotka, do Ártico russo, vivia de carne de caribu, animais marinhos e peixes; os guerreiros Masai, Samburu e Rendille, da África Oriental, sobreviviam com dietas que consistiam principalmente em leite e carne; os Nômades, das estepes da Mongólia, consumiam principalmente carne e laticínios, os Sioux, da Dakota do Sul, desfrutavam de uma dieta de carne de búfalo.

Acabamos esquecendo que, o que é retratado hoje como sendo a nossa realidade, com excesso de carboidratos na dieta, inclusão de alimentos processados e ultraprocessados, grande disponibilidade de frutas e vegetais o ano inteiro, etc., é bem distante do que povos tradicionais viveram, e assim deixamos de considerar que outros seres humanos vivenciaram hábitos alimentares diversos, muitas vezes bem diferenciados do padrão conhecido na atualidade.

Quantas porções de frutas e verduras a maioria dos povos árticos comeu durante o ano? Zero. Quanta fibra você acha que existe em uma foca, um peixe ou um pássaro do Ártico? Nenhuma que seja. 

É documentado que, em 1906, o antropólogo Vilhjalmur Stefansson resolveu viver com o povo inuíte, do Ártico Canadense, e registrou que passavam o ano comendo quase exclusivamente carne e peixe, e que para a maioria dos esquimós: “(…) os vegetais eram consumidos principalmente nos períodos de fome”, como escreveu em seu livro “Nem só de pão”, publicado em 1946.

Outras passagens dão conta de que os esquimós não sofriam com a obesidade, que hoje em dia é uma epidemia mundial: “Esquimós, quando ainda estão em suas carnes nativas, nunca são corpulentos – pelo menos eu não vi nenhum.  (…) Quando você vê esquimós em suas roupas nativas você tem a impressão de caras gordas redondas em corpos redondos gordos, mas a redondeza do rosto é uma peculiaridade racial e o resto do efeito é produzido por roupas soltas e fofas. Veja-os despidos e você não encontrará as protuberâncias e dobras abdominais”

Vilhjalmur Stefansson relata que não viu entre os esquimós nem obesidade nem doenças, sendo que, justamente para provar o quão saudável era a dieta dos inuítes, em 1928 ele e um colega, sob a supervisão de uma equipe de cientistas, internaram-se no Hospital Bellevue, em Nova York, e ingeriram apenas carnes e água durante um ano inteiro.

Stefansson discordou fortemente do dogma médico de que a melhor dieta seria aquela extremamente variada e que apresentasse a quantidade máxima de vegetais. Na verdade, ele chamou essas ideias de “fetiches” de nutricionistas. 

Ao final de um ano de experimento, os dois homens estavam se sentindo muito bem e seus exames acusavam uma saúde perfeita.

Os resultados do estudo de um ano foram publicados em 1930, no Journal of Biological Chemistry, atestando que não houve problemas de deficiência, que os dois homens permaneceram perfeitamente saudáveis e que seus intestinos e rins estavam normais.

O médico Samuel Hutton, que tratou os esquimós na província canadense de Labrador na virada do século 20, também escreveu que essas pessoas comiam pouco ou nenhum alimento vegetal durante a maior parte do ano: “Eu me pergunto se os esquimós são únicos entre as nações em seu desprezo pelos alimentos vegetais? Às vezes eu os via arranjando filhotes de salgueiro e um ou dois outros pedacinhos de verde, e comendo-os como um sabor da carne deles; mas eles não fazem absolutamente nenhuma tentativa de cultivar o solo, e nem mesmo aproveitam ao máximo as plantas que crescem”.

No Ártico, as pessoas comiam principalmente peixe e carne de focas, baleias, caribus e aves aquáticas, enquanto breves verões ofereciam vegetação limitada, como amoras silvestres e erva cidreira. Suas dietas eram, portanto, extremamente baixas em fibra na maior parte do tempo e muito altas em proteína e gordura de origem animal.

Como eles conseguiram obter todas as suas vitaminas e minerais sem o amontoado de frutas coloridas, vegetais e grãos integrais, sem os quais nos é dito que certamente morreríamos? 

Pelo simples fato dos grãos, frutas e vegetais não serem essenciais para a dieta humana e de a ingestão de alimentos de origem animal fornecer todos os nutrientes necessários.

Não são apenas as pessoas presas no clima frio, forçadas a comerem animais devido à falta de frutas e legumes, que optaram por uma dieta à base de carne. As pessoas em clima temperado, que tinham acesso a alimentos à base de plantas, antes da invasão agrícola, também o rejeitaram em favor da carne.

Por que essas pessoas comeram uma dieta à base de carne quando as plantas estavam amplamente disponíveis? A razão é óbvia, se você olhar para uma área antes da agricultura e industrialização. As pessoas seguiram a “teoria ótima de forrageamento”, o que significa que não se preocuparam em cavar um metro de profundidade para um inhame que forneceria 100 calorias, mas levariam muitas calorias de trabalho para chegar. Os alimentos de origem animal geram o maior retorno possível.

Os povos Masai, Samburu e Rendille também prosperaram em uma dieta à base de carnes, sendo que, por tradição, os homens comiam apenas alimentos de origem animal (carne e produtos lácteos), dos 14 aos 28 anos, quando completaram os seus anos de guerreiro. O problema do excesso de peso e da obesidade não existia entre os povos Masai, Samburu ou Rendille. 

George V. Mann, médico e professor de bioquímica, no começo da década de 1960 estudou o povo Massai, que seguia uma dieta composta de carne, sangue e leite, e considerava tanto frutas quanto hortaliças como alimentos próprios para as vacas; bem como o povo Samburu, relatando que não recusavam nenhum tipo de carne e comiam regularmente cordeiro, cabrito e carne bovina e, em ocasiões especiais, quando abatiam animais, cada homem comia entre 1,8 e 4,5 quilos de carne gorda.

Esses grupos únicos de pessoas foram objeto de intensa investigação médica há várias décadas, e tem havido numerosos artigos científicos escritos sobre sua dieta e perfeita saúde.

Se carne, gordura saturada e colesterol supostamente fossem os causadores de doenças cardíacas, e se frutas e vegetais nos protegem de doenças cardíacas, por que essas pessoas que estavam comendo muito mais carne e zero, ou praticamente zero, alimentos vegetais, que a maioria de nós, não sofreram de doenças cardíacas e todos os problemas de saúde associados ao risco de doenças cardíacas, tais como hipertensão, obesidade e triglicérides elevados?

Por um simples motivo: a carne é o único alimento completo, já que contém toda a proteína, gordura, vitaminas e minerais de que precisamos. Durante a nossa longa história evolutiva, inclusive teria sido o único alimento que estava disponível em quase todos os lugares do planeta, o ano todo.

A melhor evidência disponível sugere que a maioria dos nossos antepassados comeu dietas de alta carne, suplementadas por plantas silvestres disponíveis localmente, logo não haveria qualquer razão para que as culturas que comiam quase 100% de dieta de carne durante o ano todo não serem saudáveis.

A carne infelizmente ganhou recentemente uma má reputação. No entanto, a carne tem propriedades únicas que a torna mais nutritiva, mais fácil de digerir e menos propensa a irritar seu corpo do que vegetais.

Não há evidências de que carne, gordura saturada ou colesterol sejam prejudiciais à saúde humana. De fato, há muitas evidências de que carne, gordura saturada e colesterol são vitais para a saúde.

Quando estudamos dietas tradicionais à base de carne, vemos excelente saúde com baixos índices de doenças crônicas e problemas de saúde. Mas quando olhamos para o que acontece quando a comida ocidental se instala (grãos, açúcar, alimentos processados e ultraprocessados) vemos os problemas que assolam as sociedades industrializadas modernas dispararem. Obesidade, diabetes, doenças cardíacas e câncer se tornam comuns.

Dizem que carne é causadora de câncer, que a gordura saturada e colesterol obstruem as artérias e que os alimentos à base de plantas são necessários para fibras, antioxidantes e saúde, porém não é isso que os pesquisadores descobriram nessas sociedades que basearam a sua dieta na carne. Na verdade, eles encontraram exatamente o oposto.

Enquanto comiam pouco ou nenhum alimento à base de plantas, sem frutas, sem vegetais, sem fibra, subsistindo em dietas ricas em gordura e colesterol de gordura de foca, morsa e peixe, os esquimós não só sobreviveram, como os primeiros exploradores médicos descobriram que estavam praticamente livres de câncer, por exemplo.

Graças a uma série de “estudos” infelizes e subsequente disseminação de informações falsas, tornou-se “conhecimento comum” que os grãos são saudáveis, que os óleos vegetais eram as gorduras “boas para o coração” e que a carne seria perigosa e responsável por doenças cardíacas e câncer.

Essas sociedades carnívoras representam um paradoxo que não pode ser descartado e merece a nossa atenção, já que não sofreram com a epidemia de doenças modernas, apesar de consumirem justamente os alimentos que constantemente são retratados como sendo prejudiciais aos seres humanos.

Nessas sociedades, enquanto os alimentos agrícolas modernos estavam ausentes, o câncer, assassino número 1 do mundo, era virtualmente ausente, a doença cardíaca não era encontrada, e diabetes, obesidade, pressão alta não eram comuns. Isso diz muito sobre a importância de considerarmos os alimentos de origem animal como base de nossas dietas, distanciando-nos dos padrões de nutrição modernos doentios e retomando os hábitos alimentares e de vida dos povos ancestrais.