Exportação da soja paraense cresce 124%; alimentação de suínos na China é principal destino
Percentual de crescimento é um comparativo do período de janeiro abril de 2022 ao mesmo quadrimestre do ano passado
A exportação da soja paraense cresceu 124% de janeiro a abril de 2022 de acordo com levantamento da balança comercial brasileira.
Foram US$ 417 milhões exportados contra os US$ 186 mi registrados no mesmo período do ano passado. O produto oriundo do agronegócio foi responsável, neste quadrimestre, por uma fatia de 6,2% de todas as commodities enviadas para fora do Brasil e já representa mais da metade dos valores em exportação de todo o ano de 2021 (US$ 811 milhões).
Nos 12 meses do ano passado, o percentual foi de 2,7% e, de acordo com o consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Luiz Pinto de Oliveira, esse aumento se deve à alta demanda de farelo de soja para alimentação de suínos na China, o principal comprador da soja brasileira.
Esse interesse maior pelo produto se deve, segundo Luiz, porque os chineses, após a peste suína, optaram por incrementar um programa altamente intensivo em proteína vegetal (farelo de soja), modernizando totalmente o parque agroindustrial com a verticalização do criatório de suínos em “Edifícios”.
O destaque da produção do Estado fica com o município de Paragominas, com 26,42% da atividade, o que representa 526 mil toneladas. Da atividade agropecuária do Estado, a soja, ainda no que se refere ao primeiro quadrimestre, foi responsável por 82% das exportações, segundo dados da balança comercial brasileira.
Além da China (30% da exportação), os principais compradores da soja paraense são os Países Baixos (25%), e a Espanha (10%). Hoje na 13° posição entre os principais estados exportadores do ranking nacional, com uma produção de 2 milhões de toneladas, a meta do Pará é, agora, descer oito colocações. “A expectativa para os próximos anos é que o Pará alcance rapidamente o 5° lugar do Ranking Nacional com a produção em trono de 11 milhões de toneladas, isso justifica com a taxa de crescimento anual de crescimento do Estado superior a 20%”, explica Luiz Oliveira.
Já o diretor da Faepa, Guilherme Missen, lembra que a soja, atualmente, é a proteína vegetal que entra na cadeia alimentar de todas as outras cadeias importantes: avicultura, suinocultura, bovinocultura, e é fundamental para a segurança alimentar na pecuária.
Para ele, que é zootecnista, sem a soja não é possível fazer um balanceamento correto na alimentação desses animais, que deve conter proteína e energia.
“Para você elevar a energia, você tem que usar produtos mais baratos. Sangue bovino, proteína de peixes, óleos essenciais, isso é tudo muito caro. A China comprou 80% da soja do Brasil porque sem a suinocultura eles não sobrevivem, então precisam de uma importação direta”, explica Guilherme. Só para a China, segundo o diretor, os valores em exportação do Brasil chegaram a US$ 60 bilhões no ano passado. “Além da China e União Europeia, compram soja de nós os Estados Unidos. Então o Brasil continua sendo, de longe, o principal produtor, e exporta muita soja, mas ele precisa dessa soja, e está aumentando a exportação do que chamamos de complexo da soja, que é ela em grão, farelo, óleo. E quanto mais melhorarmos a logística, mais cresceremos”, destacou.
Os principais polos dessa produção estão localizados em três polos: Santarém, na região do Baixo Amazonas (oeste paraense); Paragominas, na RI do Rio Capim; e na região Sul do Pará como um todo, que abrange Redenção e outros municípios. De acordo com Guilherme, sobre a relação com o desmatamento – a Amazônia perdeu, em abril deste ano, 1.197 km² de área, o que representa um aumento de 54% do desmatamento em relação ao mesmo período do ano passado e registra o pior índice de um mês de abril desde 2008 (dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) –, não há nenhuma relação com a produção de soja.
“Temos muitas áreas degradadas, antes usadas pela pecuária, que hoje utilizamos para a soja. Na Amazônia não cai uma árvore sequer para plantar soja. A soja, a gente planta em terra de assentamento não ocupada, em terras degradadas pela pecuária. Essas áreas, que a gente chama de juquira, que a agricultura quer. Não tem nem como plantar soja em área de desmatamento. Inclusive integramos à produção áreas em regime de degradação. A soja é totalmente mecanizável e não tem como fazer cultivo em área de desmatamento, é impossível, não passaria nenhum hectare sem quebrar a grade”, finaliza.
Dos cinco produtos que se destacam no Pará e que correspondem a 94,98% do valor bruto de produção das lavouras, a soja é o principal produto, com valor bruto estimado de R$ 7,79 bilhões, representando 52,26% dentre as lavouras, e 27,65% do valor bruto de produção total do Estado para o ano de 2022. Logo atrás, aparecem o cacau (R$ 1,98 bilhões), a mandioca (R$ 1,71 bilhões), o milho (R$ 1,61 bilhões) e a banana (R$ 1,06 bilhões).
O produtor Fernão Zancaner, que atua há 20 anos com a produção de soja em Ulianópolis e Paragominas, também comentou o aumento da produção, atribuindo à ocupação das áreas de pastagem que estavam com baixa produtividade.
“Isso está fazendo com que a gente aumente a nossa produção agrícola, né? Então como agricultura é uma atividade relativamente nova dentro do estado, tem aí seus 15 anos, vem se consolidando e já estão controlando melhor os processos produtivos. É muito uso de tecnologia, impactando tanto no aumento de produtividade da soja e do milho, como na agregação de áreas de pastagens que, pela intensificação também do processo produtivo da pecuária, está agregando mais animais na mesma área. Então a pecuária acaba perdendo áreas para a agricultura”, detalha.
Fernão reforça que a soja ainda é um mercado voltado para a exportação, e que ainda é irrisória a atividade de beneficiamento da soja ainda dentro do estado, o que provavelmente só irá acontecer quando o Pará já tiver um volume do produto maior, que justifique a existência de uma de uma beneficiadora. “Como o volume de soja nosso ainda é relativamente pequeno, ainda estamos direcionando quase a totalidade para exportação, e aí o grande mercado é a China, por a gente ter uma logística favorável”, finalizou.
Valor em exportações (Pará)
Janeiro a abril de 2018 – US$ 67,3 milhões
Janeiro a abril de 2019 – US$ 125 milhões (+ 85%)
Janeiro a abril de 2020 – US$ 199 milhões (+ 60%)
Janeiro a abril de 2021 – US$ 186 milhões (- 6,8%)
Janeiro a abril de 2022 – US$ 417 milhões (+ 124%)
Fonte: Balança comercial
Quantidade produzida (t) de soja
2015 – 1.022.677 toneladas
2016 – 1.304.598 toneladas
2017 – 1.632.115 toneladas
2018 – 1.638.469 toneladas
2019 – 1.781.672 toneladas
2020 – 1.990.794 toneladas
Fonte: Sedap
Área colhida (ha) de soja
2015 – 337.056 hectares
2016 – 433.813 hectares (+28,71%)
2017 – 500.385 hectares (+15,35%)
2018 – 557.532 hectares (+11,42%)
2019 – 577.764 hectares (+3,63%)
2020 – 643.267 hectares (+11,34%)
Fonte: Sedap
Valor da produção
2015 – R$ 932.225 milhões
2016 – R$ 1.574.981 bilhões (+68,95)
2017 – R$ 1.568.243 bilhões (-0,43%)
2018 – R$ 1.744.033 bilhões (+11,21%)
2019 – R$ 1.985.588 bilhões (+13,85%)
2020 – R$ 2.823.606 bilhões (+42,21%)
Fonte: Sedap
Principais municípios paraenses produtores de soja (2020)
1º Paragominas (PA) 526.050 toneladas (26,42%)
2º Dom Eliseu (PA) 283.500 toneladas (14,24%)
3º Santana do Araguaia (PA) 233.310 (11,72%)
4º Ulianópolis (PA) 155.925 toneladas (7,83%)
5º Santa Maria das Barreiras (PA) 142.698 toneladas (7,17%)
6º Rondon do Pará (PA) 115.200 toneladas (5,79%)
7º Mojuí dos Campos (PA) 105.000 toneladas (5,27%)
8º Belterra (PA) 66.000 toneladas (3,32%)
9º Cumaru do Norte (PA) 60.000 toneladas (3,01%)
10º Santarém (PA) 59.400 toneladas (2,98%)
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