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Formação de pessoas

Gestão Enfoco: Uso de tecnologias Vs. mão de obra no campo

A evolução do agronegócio tem esbarrado em um problema grave, recorrente na grande maioria das fazendas: a mão de obra

Gestão Enfoco: Uso de tecnologias Vs. mão de obra no campo

O Brasil é um país tradicionalmente reconhecido pela atividade agropecuária. Somos hoje o centro do planeta, quando o tema “capacidade de produção de alimento e crescimento da população mundial” está em pauta. No entanto, para mantermos esse posto, produzir com eficiência torna-se regra de ouro de qualquer atividade relacionada ao agro.

É nítida a evolução do setor agrícola que, ano a ano, está se aperfeiçoando com novas tecnologias, chegando ao ponto de classificar a atividade por: agricultura de precisão.

Cada dia, surgem novas maquinas e implementos que facilitam a atividade e otimizam a utilização dos recursos disponíveis, desde uso da terra, ao emprego de insumo produtivos, como: herbicidas, fungicidas, adubos e etc., permitindo uma aplicação precisa e, consequentemente, aumento da produtividade por hectare. A turma evolui também em máquinas para plantio e colheita, na qual toda a programação de plantio e/ou corte é feita por GPS.

O agricultor tem aderido a atividade pecuária, uma vez que esta dilui custos através da integração lavoura x pecuária, melhorando a produtividade por hectare e, consequentemente, sua renda final, produzindo alimento em momentos que a terra fica ociosa, no espaço entre uma safra e outra.

Por falar em pecuária, nela também evoluímos, porém, o emprego de tecnologias ainda caminha em ritmo mais lento, se comparado ao da agricultura. O aumento da produção da carne bovina tem sido alcançado com ações simples de manejo do pasto, emprego de adubação e suplementação dos animais, mas com muito pouco ou nenhum emprego de capacitação.

Quando avaliamos as evoluções relacionadas aos aspectos nutricionais dos animais, vemos significativa mudança ao longo dos últimos vinte anos, principalmente em termos de: construção de estratégias nutricionais, protocolos adaptativos, uso de aditivos melhoradores de desempenho, proteção de moléculas específicas e aprofundamento das exigências dietéticas dos animais. A combinação de todos esses pontos refletiu em melhora da conversão alimentar e, subsequente, acréscimo de produção de carne por animal.

Em paralelo, tratar dos animais também ganhou uma nova roupagem quanto ao arraçoamento. Com os distribuidores de ração a pasto, estamos passando de “produtos ensacados” para “produtos granelizados”. Produzir boa parte do suplemento/ração na propriedade, também é uma forte tendência, principalmente com o avanço das fronteiras agrícolas, disponibilizando produtos e coprodutos do setor agrícola próximo à fazenda.

Com todas essas mudanças, a evolução pecuária tem esbarrado em um problema grave, recorrente na grande maioria das fazendas: a mão de obra. Hoje em dia, a reclamação unânime dos produtores é sobre a qualidade da mão de obra. Qualquer mudança no padrão cultural estabelecido porteira a dentro é motivo para abandono do cargo, refletindo em alta incidência de rotatividade de funcionários. Nesse cenário, fica difícil treinar e capacitar pessoas, uma vez que o tempo de permanência na fazenda é curto. Descomprometimento com a função a ser exercida na fazenda é outra característica bastante citada entre produtores.

Vendo esses fatos, muitos pecuaristas acabam desistindo de empregar tecnologia ou a fazem de forma não eficiente, pelo simples fato de esbarrarem na operacionalização do dia a dia. Apesar de algumas tecnologias resultarem na redução de mão de obra, devido a mecanização dos processos, sempre existirá a necessidade de pessoas para operar máquinas, e realizar anotações.

Como falar então em investir no aumento da produção de arrobas por hectare/ano – seja na cria, recria ou na engorda -, pensando que dependemos de pessoas para fazer com que os processos aconteçam de forma adequada?

Um exemplo prático seria pensarmos na redução de tempo de recria, de 24 para 12 meses, através da introdução da suplementação proteica energética, fornecida na quantidade de 0,3% a 0,5% do peso vivo. Em um sistema desse, ações como: distribuição a granel, controle de consumo, ganho diário, lotação por hectare, manejo do pasto, avaliação de parasitas externos, cuidados com as cercas (principalmente se forem elétricas), qualidade da água e outros pontos a serem controlados, tornam-se fundamentais para o alcance do resultado proposto. Nesse sentido, precisamos pensar em um sistema de gestão que forme pessoas comprometidas e capazes de executar essas diferentes tarefas.

Fica claro que, a participação de todos os colaboradores nos resultados obtidos pela atividade é importante para o atingimento das metas. É necessário que cada colaborador, em sua função, somada a todas as funções, movam a engrenagem da produção, dentro da fazenda.

Vendo a atividade pecuária como qualquer outra empresa, por que não permitir que os colaboradores participem dos resultados zootecnicos e econômicos da fazenda, através do que conhecemos como “Plano de Participação de Resultados (PPR)”? De forma conjunta à participação dos resultados, faz-se importante investir em aplicação de treinamentos, através de planos elaborados, em que são cumpridas cargas horárias de treinamento em diversos setores que compõem o organograma da propriedade.

Em um projeto de intensificação, voltando ao nosso exemplo da recria, é importante que a pessoa que fará a distribuição do suplemento esteja treinada e capacitada a entender que sua atividade é vital ao sucesso do negócio. Também, é interessante despertarmos o senso crítico nos colaboradores, assim eles terão uma visão mais “global” sobre as rotinas, passando a serem mais observadores.

Diversos modelos de remuneração por resultados podem ser aplicados de acordo com o objetivo traçado para cada fase da atividade pecuária. Porém, mais do que o valor da remuneração, é de extrema importância adequar pessoas às funções que exercerão, coloca-las em atividades de maior afinidade favorecerá muito o comprometimento.

É fundamental que os colaboradores tenham o senso de “donos do negócio”, nos quais estão inseridos. A isso, deve-se atentar às rotinas, visando o bom proveito e convívio com as novidades, despertando e ensinando os valores de observarem, avaliarem e tomarem decisões que se adequem ao crescimento e formação como pessoas, cidadãos e profissionais. Contribui para o surgimento de ideias, que mesmo simples, podem resolver problemas complexos.

Atualmente, há profissionais capacitados em gestão de pessoas, que prestam serviços de assessoria a propriedades que estão investindo em tecnologia, visando a adequação e capacitação da mão de obra, melhorando, também, o convívio dentro da propriedade rural. Os líderes, sejam gerentes ou capatazes, são envolvidos no processo de implantação dessa gestão para estarem aptos a contornar conflitos e serem assertivos quanto a escolha de profissionais.

Nesta linha, temos trabalhado firme, prestando treinamentos de capacitação a colaboradores, com treinamentos voltados à mineralização adequada do rebanho, intensificação e uso suplementos, manejo do pasto e bem-estar animal. Contribuindo dessa maneira com o desenvolvimento da atividade pecuária, seja ela na cria, recria e engorda.

Por fim, é importante que os produtores estejam conscientes, e saibam que para formarem um time de ponta, engajado e comprometido com os resultados, devem investir em treinamento/capacitação e planos de participação, com métodos de gestão à vista, em que haja planejamento com transparência por parte da diretoria e líderes, com envolvimento dos colaboradores, pois são eles que vivem as rotinas e sabem onde há pontos fracos no processo.

Como há a “Agricultura de Precisão”, estamos buscando uma “Pecuária de Precisão”, com pessoas precisas e comprometidas com o sucesso da atividade.

Por Walker Ricarte, Consultor Técnico Comercial de Bovinos de Corte da Agroceres Multimix