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Artigo técnico

Lotação: o revés da evolução

Por Paulo de Tarso Gonçalves, consultor Técnico Comercial Suínos na Agroceres Multimix; e Anália Maria Ribeiro da Silva, nutricionista de Suínos na Agroceres Multimix

Lotação: o revés da evolução

A evolução de produtividade pela qual a suinocultura brasileira passou nas últimas décadas, direcionada pelo melhoramento genético e pelos novos conceitos de manejo e nutrição, é indiscutível.

A partir da década de 70, com o trabalho da Embrapa Suínos e Aves junto às associações de criadores e com a entrada de empresas de melhoramento genético no Brasil, como a Agroceres PIC, a Semesa, a Seghers, entre outras, disseminou-se o conceito do uso do suíno híbrido, promovendo a mudança do suíno tipo banha para o tipo carne, e a melhoria da eficiência reprodutiva em relação ao tradicional uso das raças puras, praticado até então.

Os frutos mais importantes dessa evolução foram a produção de animais mais precoces e de alta eficiência de crescimento em carne magra e conformação, com potencial para alcançar mais de 115 kg aos 160 dias de idade, e o aumento da prolificidade das matrizes, evidenciado pelo maior número de leitões nascidos e desmamados por parto, conforme pode ser verificado nos Gráficos 1 e 2, respectivamente.

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Com os avanços contínuos nas tecnologias genéticas, manejo, nutrição e gestão, a tendência é de crescimento ainda maior de produtividade (Tabela 1).

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À exceção de novos projetos de construção, dimensionados já considerando esse aumento de potencial produtivo em número e em peso dos animais, é comum observarmos problemas de superlotação nas creches e terminações de instalações mais antigas. Isso se deve ao fato de a maioria delas não ter passado por ampliações frente ao aumento do número de leitões nascidos e, consequentemente, de cevados produzidos, gerando consequências negativas para o desempenho dos animais e perda de lucratividade.

Dentre as consequências negativas da superlotação, que têm impacto direto na produtividade das granjas, destacamos as seguintes:

1 – Redução de espaço por animal alojado

Quando falamos em superlotação, estamos nos referindo ao aumento na densidade de alojamento dos animais, isto é, à redução do espaço livre disponível por leitão de creche ou por cevado, dado em m²/animal. Na Tabela 2, segue a recomendação de espaço por animal, de acordo com a etapa de produção.

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Suínos em crescimento, quando submetidos a espaço menor do que o recomendado para a fase, não terão condições de expressar sua máxima capacidade de ganho de peso (Gráfico 3). Como as baias são de tamanho fixo, o espaço é diretamente dependente do número de animais que se coloca na baia. Quando se aumenta o número de animais e se reduz o espaço, as consequências para o desempenho são: menor consumo de ração e ganho de peso; aumento de agressividade; canibalismo; maior incidência de doenças infecciosas, com maior morbidade, refugagem e aumento de custos com medicamentos. Também ocorre aumento de mortalidade; desuniformidade; aumento da variabilidade no peso de abate e comprometimento do bem-estar.

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2 – Redução de espaço de comedouro e de bebedouro por animal

Além de reduzir a área de alojamento, a superlotação também impacta no espaço de comedouro e na proporção de bebedouros por animal. Na Tabela 3, podem ser observadas as recomendações mínimas de espaço de comedouro e de número de bebedouros por grupo de suínos.

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Quando há restrição de espaço de comedouro e de disponibilidade de bebedouros, os consumos de ração e de água são comprometidos. Se a proporção de leitões por bebedouro é maior do que a recomendada, as visitas a ele são menos frequentes, contribuindo para menor consumo de água e para menor ganho de peso, conforme pode ser observado no Gráfico 4.

Da mesma forma, quando há limitação de espaço no comedouro, o ganho de peso e a conversão alimentar são negativamente afetados (Gráfico 5), principalmente se a ração for seca, devido à menor velocidade de consumo e ao maior tempo de ocupação do comedouro, além de acarretar disputa, brigas, agravamento do estresse e maior mortalidade (Gráfico 6).

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3 – Comprometimento das condições de ambiência

Os suínos são animais homeotérmicos, ou seja, capazes de regular sua temperatura corporal. Para isso, utilizam-se de trocas de calor com o ambiente através de condução (trocas com o piso ou as paredes), convecção (contato com o ar ou água da lâmina), irradiação (perda de energia térmica por ondas eletromagnéticas) ou evaporação (respiração).

Em condições de alta lotação, como há mais animais ocupando o espaço, as trocas de calor por condução e convecção ficam prejudicadas pelo menor contato com piso, paredes, lâmina d’água e com a própria ventilação. Somada a isso, a produção de calor por irradiação é maior pela maior concentração de animais, dificultando condições adequadas de ambiência e gerando estresse térmico, prejudicial ao desempenho.

Além de dificultar a dissipação de calor, a superlotação favorece o aumento de pó, de partículas de ração e de fezes em suspensão e de bactérias na forma de aerossóis, além da maior produção e acúmulo de gases nocivos, como: amônia, ácido sulfídrico e gás carbônico, principalmente se a ventilação for deficiente (Barcellos et al., 2008). Como esses gases são tóxicos para os macrófagos alveolares e para as células produtoras de muco do epitélio respiratório, e o pó e as partículas em suspensão prejudicam o mecanismo de defesa mucociliar, os suínos ficam mais predispostos à ocorrência de infecções respiratórias, principalmente com o aumento da pressão de infecção favorecida pela alta lotação, comprometendo o desempenho (Barcellos et al., 2008).

4 – Transferências entre fases e/ou abate mais cedo

A alta densidade de alojamento provocada pelo maior número de animais nas baias implica, muitas vezes, na necessidade de se adiantar ou se atrasar a idade de transferência entre fases (da creche para a recria, ou da recria para a terminação), ou até mesmo na redução da idade de abate dos cevados, como tentativa de amenizar os efeitos negativos sobre o desempenho.

Em relação à mudança na idade de transferência dos animais, até é possível que esse manejo colabore positivamente, desde que as instalações que os receberão tenham condições para que sejam respeitadas as fases corretas de arraçoamento e as necessidades de ambiência. Por outro lado, sem essas condições, pode-se amenizar os efeitos da lotação, porém, haverá perda da oportunidade de ganho se a ração fornecida não estiver no período adequado, ou se os animais de creche, transferidos mais cedo para a recria, por exemplo, não tiverem as condições mínimas de temperatura atendidas.

Da mesma forma acontece quando é necessário realizar a retirada antecipada dos cevados para o abate, perdendo-se a oportunidade da venda de animais mais pesados e que gerariam maior receita, principalmente em condições favoráveis de mercado.

5 – Redução ou ausência do período de vazio sanitário

O vazio sanitário corresponde ao período em que a instalação permanece sem animais após ser lavada e desinfetada, até a entrada de outro lote, fazendo parte, portanto, do manejo “todos dentro, todos fora”. Esse período é importante para reduzir a transmissão de agentes patogênicos de um lote para outro, melhorando a saúde geral, o desempenho dos suínos e, consequentemente, diminuindo o uso de medicamentos e o aparecimento de doenças. O recomendado é que as instalações fiquem em vazio sanitário de três a sete dias.

Devido ao aperto de espaço em sistemas com alta lotação, frequentemente o período de vazio não é respeitado, ficando a instalação ocupada o máximo de tempo possível. É comum a criação em fluxo contínuo, sendo a instalação apenas lavada e desinfetada entre a saída de um lote e a entrada do próximo ou, em muitos casos, nem isso, o que aumenta a pressão de infecção, a ocorrência de doenças e a perda de desempenho, conforme pode ser verificado na Tabela 4, além de aumentar os gastos com medicamentos e os prejuízos econômicos.

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Considerações finais

Com os atuais índices produtivos e frente às perspectivas futuras de potencial de desempenho zootécnico do suíno moderno, fica evidente a importância do correto dimensionamento das instalações e de condições adequadas de alojamento para a obtenção do máximo potencial de produção desses animais.

Intrinsecamente atrelada ao conceito Muito Mais que Nutrição, a Agroceres Multimix conta com um corpo técnico capacitado para orientar seus parceiros no dimensionamento das instalações, na identificação dos gargalos da produção e na definição da capacidade de alojamento instalada e necessária, apontando soluções para o alcance dos melhores resultados produtivos e econômicos, hoje e no futuro.

 
Nutrição Animal – Agroceres Multimix

 

Referências

AGRINESS. Prêmio Melhores da Suinocultura Agriness, 10º edição. 2018. Disponível em: < https://melhoresdasuinocultura.com.br/>. Acesso em: 31/05/2018.

AGROCERES PIC. Guia de Crescimento. 2015. 52p.

BARCELLOS, D.E.S.N. et al. Relação entre ambiente, manejo e doenças respiratórias em suínos. Acta Scientiae Veterinariae, v. 36 (Supl 1), p. s87-s93, 2008.

GOMEZ, F.; MELODY, B. Impacto de los manejos em granja sobre el desempeño destete-venta (wean to finish). Comunicação pessoal. 2014.

HAMILTON, D. What do top producers do? In: 2018 PIC Canada Symposium. 2018.

PIGCHAMP®. Resultados produtivos. 2011.

POTTER, M.L. et al. Effects of increasing stocking density on finishing pig performance. In: Swine Day 2010 – Report of Progress 1038. 2010. Anais… Kansas State University Agricultural Experiment Station and Cooperative Extension Service. p. 216-222. 2010.

SADLER, L.J. et al. Drinker to nursery pigs ratio: effects on drinking behavior and performance. Iowa State University Animal Industry Report: AS 654, ASL R2335. 2008. Disponível em: <https://lib.dr.iastate.edu/ans_air/vol654/iss1/84>. Acesso em: 31/05/2018

SCHEIDT, A.B. et al. The effect of all-in–all-out growing-finishing on the health of pigs. Swine Health and Production, v. 3, n. 5, p. 202-205, sep-oct. 1995.