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Manejo e nutrição

A granja Ipê Amarelo melhora o desempenho de seus animais aliando manejo e nutrição, itens de suma importância na suinocultura.

Os galpões para terminação estão divididos em duas salas de oito baias. São 30 animais por baia.

Redação SI (Edição163/2002) – A atividade suinícola está cada vez mais sofisticada, o que gera uma necessidade maior de tecnologia que potencialize a sua produção. A nutrição é um dos itens fundamentais para a obtenção de melhores resultados e que, aliado a um bom manejo, proporciona melhora no desempenho produtivo dos animais. A granja Ipê Amarelo, localizada em Arapoti (PR), é um bom exemplo disto. Entre os vários manejos utilizados está o de separar os leitões para terminação entre machos e fêmeas, oferecendo rações específicas por sexo.

Do nascimento ao abate, o ganho médio diário é de 693 gramas

Os machos são castrados entre 10 e 15 dias de vida e a sexagem ocorre na creche. O especialista em nutrição animal, Zoroastro Soares Teixeira, explica que machos e fêmeas possuem exigências nutricionais diferentes e a adoção desta prática gera menores custos e uma carcaça com melhor conformidade, no caso do macho castrado. “A fêmea tem uma maior necessidade de aminoácidos, enquanto os machos castrados precisam de menos energia”.

Teixeira é responsável pelas formulações das rações produzidas pela Cooperativa Agropecuária Arapoti (Capal), que fornece seus produtos a 51 granjas associadas da região, entre as quais a Ipê Amarelo.

A granja tem obtido em média um ganho diário de 693 gramas, isto calculado desde o nascimento até o abate. Na maternidade, a média diária é de 212 gramas. Os ganhos podem ser atribuídos ao maior número de fases da ração, que procura atender melhor cada etapa de vida do suíno. O gerente da Unidade de Rações da Capal, Lourenço Teixeira, explica que  com uma divisão maior de fases, o nutricionista consegue balancear com períodos mais curtos, baixando os custos e melhorando a eficiência.

Minerais orgânicos – A capacidade de estocagem da Capal é de 96 mil toneladas, incluindo as unidades de Arapoti (PR) e Itararé (SP). Desde 2001, a cooperativa vem investindo para ampliar suas áreas para armazenagem e recepção de grãos, com a previsão de até 2003 aplicar neste projeto um total de R$ 6 milhões.

A sua fábrica de rações deve fechar este ano com uma produção de 65 mil toneladas. Este total é quase todo comercializado a granel (farelado ou peletizado) entre os produtores associados ou a terceiros, sendo que somente 6% da produção é vendida ensacada.

Outro passo da Capal deve ser o de ampliar sua gama de produtos com a inclusão de núcleos. Atualmente, a cooperativa produz rações em quatro fases para leitões (Pré 1 e 2, Inicial 1 e 2), quatro para recria e terminação (Recria 1 e 2, Terminação 1 e 2) e outras para gestação e lactação. Também são produzidos concentrados destinados principalmente às granjas que realizam silagem de grão úmido.

A Capal possui uma parceria com a Alltech do Brasil, empresa do setor de aditivos para nutrição, para o fornecimento de minerais orgânicos e adsorvente de micotoxinas, entre outros produtos, utilizados na composição de algumas das rações. O gerente da Unidade de Rações da Capal, Lourenço Teixeira, conta que a parceira se intensificou nos últimos cinco anos com a suinocultura.

Há 4 anos, gerenciando a Ipê Amarelo, Quadros transmite ao filho Felipe o gosto pela suinocultura

O gerente de vendas da Alltech Paraná, Paulo José Rigolin, explica que os minerais orgânicos apresentam-se de forma mais disponíveis aos animais quando comparados à forma inorgânica, proporcionando dessa forma um melhor aproveitamento dos minerais pelos animais. “Isto resulta no aumento da produção de leite em matrizes e uma melhor leitegada”, diz. Na Capal, este produto é incorporado às rações para porcas e nas Pré 1 e 2. O nutricionista responsável pelas formulações, Zoroastro Soares Teixeira, também comenta que os minerais orgânicos diminuem a poluição ambiental. “Exatamente porque eles deixam menos resíduos nas fezes dos animais”. Outro produto utilizado é o adsorvente de micotoxinas, neste caso somente nas rações para matrizes e reprodutores, prevenindo eventuais contaminações por toxinas presentes no milho.

Estrutura – Instalada numa área isolada, a Ipê Amarelo só tem ao lado áreas plantadas com diferentes tipos de culturas. São cinco barracões: gestação, maternidade, creche e dois para terminação. A ração é toda distribuída manualmente. Ela fica armazenada em silos próximos à cerca, o que facilita a sua reposição pelos caminhões que chegam já desinfetados da Capal.

A Ipê Amarelo trabalha com ciclo completo, como a maioria das granjas da região, possuindo 270 matrizes. São três funcionários, mais o gerente, para tomar conta de tudo. Sebastião Pereira de Quadros trabalha há 11 anos na suinocultura e há quatro está gerenciando a Ipê Amarelo. Ele chegou no início do povoamento e conta que não falta trabalho, mas há muita disposição dos funcionários. “Cada um é responsável por um setor, mas conseguimos uma união, na qual um ajuda o outro quando precisa”, afirma.

Os silos próximos à cerca recebem a ração, que depois será distribuída manualmente

Para facilitar o serviço, o gerente comenta que foram adotadas algumas práticas de manejo, como a de indução do parto. O método consiste na aplicação de um hormônio na matriz 24 horas antes do parto. “Você diminui a mortalidade, evita de a matriz parir durante à noite e facilita a uniformização do lote”, aponta Quadros, que também destaca o fato de se poder programar várias fêmeas parindo ao mesmo tempo.

O galpão da maternidade está dividido em sete salas com capacidade para dez matrizes cada uma. Em cada gaiola há um escamoteador, onde os leitões são fechados três vezes ao dia por cerca de 40 minutos cada vez. Isto é feito nos primeiros dias de vida, depois fica aberto para circulação dos animais. Nas paredes, um pequeno quadro negro identifica o número da baia e ali estão anotadas informações como a quantidade de nascidos vivos, mortos, mumificados, data de parição, entre outras informações.

Estes quadros estão espalhados por todos os galpões da granja, facilitando os levantamentos diários feitos pelo próprio gerente, que depois encaminha os relatórios para um escritório central e outro para a Capal, que realiza o acompanhamento da conversão alimentar.

Manejo particular – Logo que é desmamado, o leitão passa para uma pré-creche. São baias com uma cobertura de lona e aquecidas. Ali eles ficam por 28 dias, antes de ir para a creche. “Na hora do desmame o leitão sente muita falta da mãe, então, passando pela pré-creche, nós conseguimos diminuir o seu estresse”, explica Quadros.

Outro manejo interessante na granja é o utilizado na gestação. A cada semana entram novas matrizes para serem inseminadas e cada lote recebe uma pequena pintura no dorso. Na parede estão as cores: azul, vermelho e roxo, na seqüência que deve ser seguida. Ao final de três semanas, a primeira cor irá se repetir, possibilitando ao funcionário identificar mais facilmente quais fêmeas tiveram retorno ao cio no final do ciclo.

Os dejetos são reaproveitados como adubo nas plantações da propriedade

No mesmo galpão ficam as marrãs, só que em baias coletivas. A presença delas próximas às outras fêmeas facilita o trabalho de estímulo com o macho rufião. “Como ficam no mesmo galpão, o estímulo está sendo feito com todas as fêmeas ao mesmo tempo”, comenta o gerente.

Cerca de 90% das coberturas na granja são realizadas por meio de inseminação artificial. O sêmen vem de uma empresa especializada, certificada com GMSD (Granja de Suíno com Mínimo de Doença). A Central de Coleta de Sêmen possui mais de 40 reprodutores. Neudo Celso Bueno Carneiro, um dos proprietários, comenta que a Capal não impõe aos seus associados nenhuma genética, cabendo ao produtor escolher a qual achar melhor, por isto há uma variedade grande na região. “Por isto temos machos de diversas genéticas para que possamos atender a escolha do suinocultor”.

O que não é inseminado artificialmente na Ipê Amarelo é feito por meio de monta natural. A granja possui dois machos para cobrir marrãs e um macho avô para a produção de fêmeas para reposição. Ao todo são 23 avós alojadas na propriedade.

Mensalmente, a Ipê Amarelo recebe a visita dos médicos veterinários da MedVet, responsável pela assistência técnica de todas as granjas ligadas à cooperativa. São realizadas vacinas preventivas contra parvovirose, eripistela, pneumonia enzoótica e rinite atrófica, além de mycoplasma. Otávio Hiroshi Suzuki, médico veterinário e sócio da MedVet, explica que para evitar excesso de circulação de pessoas nas granjas, a Capal criou uma farmácia, onde o produtor adquire os produtos indicados. “Quando alguém quer oferecer algum medicamento, por exemplo, eles vêm direto conversar conosco”, afirma Suzuki. Na área ambiental, a Ipê Amarelo deposita todo o dejeto dos animais em esterqueiras. Depois de tratado, é utilizado na agricultura da propriedade, que tem áreas plantadas com milho, arroz, trigo, aveia, feijão, entre outras culturas.

No mercado livre

Em 1991, a direção da Capal tomou uma decisão ousada. Deixou de lado a segurança de entregar seus suínos na Cooperativa Central de Laticínios do Paraná (CCLPL), em Carambeí, e passou a vender direto no mercado livre. A diferença de risco era grande. No sistema cooperado, os preços mantêm uma certa estabilidade, enquanto que no mercado livre a oscilação tanto para cima como para baixo são mais agressivas, como define Arie Willem Bronkhorst, na época, presidente da Capal. “Sentimos uma crescente demanda no mercado livre e resolvemos criar um sistema de pool de vendas”, relembra.

Fundada no início da década de 60, a Cooperativa Agropecuária Arapoti Ltda (Capal) logo passou a integrar a CCLPL, que era formada pela Sociedade Cooperativa Castrolanda, de Castro, e pela Cooperativa Agropecuária Batavo, de Carambeí. As três cooperativas tinham origem na imigração holandesa para o centro-sul do Paraná e a união formou, naquela época, o Grupo Batavo.

Apesar do risco, a entrada no mercado livre acabou dando tão certo que hoje a Capal comercializa boa parte dos animais da Castrolanda e uma pequena parte da Batavo. Em julho, dos 22.705 suínos vendidos, pouco mais de 10 mil vinha de Castro. O destino são frigoríficos ou atravessadores de São Paulo, Minas Gerais e de outras regiões do Paraná.

Herivelto Souto Rosa, do departamento comercial, explica que as vendas são realizadas com o frete por conta do comprador. Mesmo a pesagem é feita na cooperativa. “Porque até chegar ao destino pode haver quebra de peso e há o risco de mortalidade. Então isto tudo é por conta do comprador”.