Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Comentário Suíno

O Consumo per Capita das Principais Carnes no Brasil Atualização a 2021

Por Osler Desouzart, CEO da ODConsulting

O Consumo per Capita das Principais Carnes no Brasil Atualização a 2021

Em 2019 publicamos o artigo sobre o consumo per capita das três carnes mais consumidas no Brasil que são, por ordem de grandeza, a carne de frango, a bovina e a suína. O presente escrito tem por objetivo promover a revisão dos números e sua atualização a 2021.

Os dados de produção e de cabeças abatidas têm como fonte o IBGE, tanto em sua Pesquisa da Pecuária Municipal – PPM quanto na Pesquisa Trimestral de Abates, que como referido no artigo anterior restringem-se a abates sob fiscalização sanitária federal, estadual ou municipal. Não incluem naturalmente nem abates informais dessas três espécies, nem abates de carnes ovina e caprina, equina, asinina, muares, coelhos e caça, ainda que haja tanto produção como consumo interno de algumas delas. 

Já as carnes de aves restringem-se a carnes de frango, peru, pato e marrecos. Não comportam aves selvagens criadas para carne, como faisões, e nem espécies como as de ganso, galinha d’Angola, codorna, pombos e outras aves. 

O peso médio dos animais abatidos resulta de uma simples função de média do peso total e do número de cabeças abatidos, para permitir avaliar a evolução do rendimento. Infelizmente não há dados sobre o número de dias que cada animal das três espécies principais – frango, bovino e suíno levam para alcançar os pesos médios de abate. Todos que militam no segmento pecuário sabem dos progressos contínuos obtidos, e anualmente registram redução no tempo para que os animais alcancem o peso de abate 

O consumo aparente corresponde a: (Produção + Importação) – Exportação. E o consumo aparente per capita é este resultado dividido pela população brasileira estimada pelo IBGE a cada dia 1º de julho.

Os dados sobre importação e exportação foram levantados a partir da Comex Stat, sendo que para a exportação da carne bovina usamos as estatísticas do site da ABIEC. As posições da NCM abrangidas são listadas ao final deste escrito para as carnes de frango e outras aves , carnes bovinas e carnes suínas. 

Os anos de 2019 e 2020 foram afetados pelo COVID-19, sobretudo pelos impactos a nível de abatedouros quanto pelo fechamento do foodservice em função dos sucessivos lockdowns que prevaleceram em 2019. Estima-se que foodservice absorva quase metade das vendas de carnes na Zona Metropolitana de São Paulo, que compreende 39 municípios e uma população de 22 milhões de pessoas. Embora não disponha dados das demais 76 zonas metropolitanas do país, é relevante a porcentagem que o foodservice representa na comercialização e distribuição de carnes. 

Adendem a esses fatores a desvalorização da nossa moeda, particularmente impactante sobre os grãos utilizados em rações animais que são comercializados em dólares americanos, assim como os microelementos de rações que são em sua maioria importados. Com 38 milhões de pessoas trabalhando na economia informal, o binômio incremento de custos e menor poder aquisitivo da população foi nefasto. 

Essa desvalorização da moeda tornou as tradicionais exportações brasileiras de grãos e carnes ainda mais atrativas, minimizando o impacto da redução do consumo interno, mas refletindo-se no consumo interno, seja por uma menor expansão, seja, como no caso da carne bovina, por uma significativa redução.

Iniciamos com as Carnes de Aves, ainda que no Brasil “outras aves” representem parcela pouco expressiva sobre o consumo total e a carne de frango respondendo pelos 98,8% restantes. A Tabela I foi um verdadeiro exercício de arqueologia e garimpagem de dados. A razão é que o IBGE não publica os dados relativos a patos e perus, o que me obrigou a garimpar dados nos relatórios anuais da UBA de 2004 a 2014, onde constam dados da produção e exportação de perus, patos e marrecos. As demais aves – codornas, faisão, gansos e galinha d’Angola – não possuem dados em nenhuma fonte.

De 2015 a 2018 esses dados constam dos relatórios da ABPA, que entretanto deixa de publicar os volumes de carnes de patos e marrecos, concentrando-se na exportações. Esse fato obrigou-me a usar para o período de 2015 a 2018 as estatísticas da produção brasileira de carnes de aves do banco de dados do Agricultural Outlook da OECD-FAO. Alvíssaras, pois no relatório da ABPA de 2022 voltam a figurar os dados do total de produção de patos e marrecos.

É o ideal publicar a Tabela I com dados de duas fontes distintas? Não, mas por menos precisos que sejam os dados permitem uma noção parcial sobre o balanço das demais carnes de aves, à exceção do frango. Contatei o nosso MAPA para verificar se me podem indicar dados da inspeção federal, visto que o segmento de patos e marrecos tem forte presença exportadora (68,4% da produção brasileira foi exportada em 2021 e de consequência estão sob a tutela do SIF. 

O relatório da ABPA 2022 informa que a produção brasileira de patos e marrecos foi de 4.670 tons em 2019, 4.120 em 2020 e 5.083 em 2021. Observarão na Tabela IV

Tabela I 

Tabela 1

 Para ter um panorama geral das carnes de aves, teríamos que agregar outras aves. Começamos com o peru que tem, infelizmente, um consumo declinante no Brasil. Confiram a Tabela II que segue. Nela constataremos que a carne de peru vem perdendo terreno e hoje seu consumo per capita situa-se em torno de 0,5 kg, num mercado que tradicionalmente consumia o dobro dessa quantidade. 

Esse agravamento da situação surge a partir de 2018, com uma severa redução em nossas exportações o que se refletiu direta e na mesma proporção na produção de carne de peru. 

Adendo que seu consumo concentrado nas festas de final de ano acabou por sofrer a concorrência dos assim chamados frangos natalinos, com pesos em torno de 4 kg por peça, mais adequado ao tamanho menor das famílias que conhece progressivas reduções nas últimas décadas. Esse peso do frango natalino é excelente para uma indústria que exporta consideráveis quantidades de carnes de frango desossadas, tanto brancas quanto escuras. 

Mas para a curva de peso do peru, o tamanho preferido pelo mercado brasileiro é muito difícil de ser produzido economicamente, mormente quando há restrições as nossas exportações de peito de peru desossado. Além disso, registramos nos últimos anos o desaparecimento das gôndolas de muitos embutidos de peru, alguns dos quais absorviam parte da carne de peito. O resultado dessa equação insolúvel é a redução da produção que pode ser observada na Tabela a seguir.

Tabela II – Balanço da Carne de Peru no Brasil            

Tabela 2

Para uma visão do total de carnes de aves teríamos que dispor de dados sobre consumo de codornas, gansos, galinha d’Angola, faisões etc., dados esses indisponíveis. Há algo de dados sobre patos e marrecos (cf. Tabela III). Até 2009 dispúnhamos de dados sobre a produção e exportação dessas aves, graças aos relatórios anuais da UBA – União Brasileira de Avicultura. Entretanto, a partir de 2010 os relatórios da UBA e os da ABPA restringem-se aos dados de exportação, não mencionando o quantum produzido.

Alvíssaras que volta a apresentar o total de dados do total de produção a partir de 2019, mas para efeito da presente estimativa do consumo per capita dessas aves usamos os dados de produção publicados na FAOSTAT no período entre 2010 e 2020. 

Isso tudo para concluirmos que o consumo per capita de outras aves somaria em 2021 umas 759g, o que levaria o total do consumo per capita de carnes de aves do Brasil em aos 47,66 kg/habitante/ano.

Tabela III – Balanço das Carnes de Patos e Marrecos no Brasil

Tabela 3

Caso algum pesquisador disponha de dados mais acurados sobre a produção de “outras aves” seria de grande utilidade. Ao fazer esses escritos e atualizações sobre o consumo per capita de carnes no Brasil, meu objetivo é deixar memória de dados para os que vão dar sequência ao trabalho de manter este país como uma potência de produção e exportação de carnes. 

Na próxima tabela poderemos examinar o balanço da carne de frangos. Há quem se surpreenda com o fato de o Brasil importar mais de 4.000 toneladas de itens de frango, mas a explicação está na voracidade do brasileiro por corações de frango como um dos aperitivos favoritos do churrasco que é o item de maior preço unitário no varejo, entre todas as opções de carnes e vísceras comestíveis de um frango disponíveis no mercado. Consumindo 46,90 kg/capita/ano a carne de frango se aproxima de um nível de saturação. 

Ainda tem espaço para crescer devido ao menor consumo em algumas regiões brasileiras e, sobretudo pelo fato de ainda termos uma massa importante de pessoas que vive com menos de US$ 2,00/capita/dia. À indústria cumpriria manter lançamentos de novas apresentações e mesmo de corte para que o consumidor possa consumir sem a sensação de saturação. Observo que algumas empresas têm lançado a coxa e sobrecoxa desossada, que o carioca chama de filet de coxa.

Também se observa que proliferam no varejo os clubes de compra ou o que é chamado de “atacarejo” (atacado + varejo), lojas que apresentam melhores preços para maiores quantidades. À luz do impacto do 4º Tsunami, o conflito na Ucrânia, hoje em curso, sobre os preços dos alimentos e energia é de se esperar que essa modalidade de vendas ganhe mais adeptos. Não podemos, entretanto, descartar que essas altas de preços finalizem por refletirem-se negativamente no consumo de carnes, não só no Brasil, mas em todos os demais países em desenvolvimento. Essa preocupação é partilhada por várias organizações internacionais, FAO inclusive, onde há vozes anunciando aumento da desnutrição entre os países menos desenvolvidos, podendo voltar a quebrar o triste recorde de 900 milhões de pessoas no mundo.

Tabela IV           

Tabela 4

Nossos clientes do segmento bovino brasileiro possivelmente proporão que eu receba a Ordem de Calabar, prévia a uma execração pública e cancelamento de qualquer contato futuro ao lerem os dados da Tabela V. Pois me creiam que ninguém ficou mais surpreso que eu com os números de 26,15 kg de consumo per capita e os dados da produção de 7,368 milhões de toneladas.

É lícito esperar que preços estimulantes para gado em pé e o quadro muito favorável das exportações estimulem os produtores refletindo-se em maior disponibilidade. 

Tabela V             

Tabela 5

Tal não me impedirá de continuar meu mantra, repetido desde 1995, que carne bovina se tornará cada vez mais um artigo de luxo considerando o nível elevado de recursos naturais (água + terra arável) necessários à sua produção. Isso não impedirá que tenha sua demanda assegurada, visto que há no mundo um “top bilhão” de pessoas que podem ser dar ao luxo de consumir luxo. Além disso, países com tradição de produção de carne bovina habitualmente tem o produto mais acessível, ainda que hoje em dia esta informação possa parecer bizarra ao consumidor brasileiro que tem assistido os preços das carnes bovinas subirem de preços.

Sabemos que no mundo em 2020 o número de pessoas padecendo de subnutrição alcançava 768 milhões, uma situação agravada pelos lockdowns decorrentes do COVID-19 que permearam o mundo em 2019 e 2020. 

Gráfico I – Número de Pessoas Desnutridas em Ascenção no Mundo

Gráfico 1

Não devemos esquecer que 10,1% da população mundial e 3,4% da população brasileira vive com menos de US$ 2,00/dia, fato que merece atenção frequente na mídia e em conferências internacionais. Entretanto, uma análise neutra impõe que se diga que há no mundo 47 países que dispõem de uma renda média de US$ 54,00/capita/dia, faixa em que gastos com alimentação se situam abaixo de 20% do orçamento doméstico, o que aliás também ocorre com parcelas minoritárias mesmo em países em desenvolvimento. São esses que qualifico como “top billion” e são eles que garantem o consumo de carne bovina, irrelevantemente do preço. 

Finalizamos com a carne suína, que até 2018 detinha a liderança do consumo mundial de todas as carnes, posição perdida quando o maior produtor e consumidor mundial dessa carne, a China, foi atingida por inúmeros episódios de PSA (peste ou febre suína africana). Hoje a liderança de produção e consumo é ocupada pela carne de aves, cujo consumo mundial foi estimado para 2021 em 135,4 milhões de toneladas contra 122,0 milhões de toneladas da carne suína. 

Tabela VI       

tabela 6

O consumo per capita no Brasil tem conhecido grande expansão, superando hoje os 17,7 kg/hab/ano e com perspectivas de ampliação aos 25 kg. O grande avanço experimentado em 2021 já situaria o Brasil entre os 15 maiores consumidores per capita mundiais de carne suína.

A campanha “Um Novo Olhar sobre a Carne Suína”, idealizada e conduzida pela ABCS teve um papel decisivo em permitir que o consumidor brasileiro conhecesse mais sobre a saudabilidade desta carne, combatendo um preconceito arraigado de que porco era sinônimo de gordura. 

Além disso, a indústria soube se adaptar à nova realidade social e demográfica brasileira, com famílias cada vez menores, postergação de maternidade em prol do progresso profissional, crescente número de domicílios ocupados por uma ou duas pessoas, casais com renda dupla e sem filhos etc. lançando produtos em porções menores e facílimos de preparar. 

Esses dois fatores, o preço mais elevado da carne bovina e a quase saturação do consumo de frango abriram a porta que levou a carne de porco das ocasiões festivas, lombos em casamentos e pernis no final de ano, para ter seu lugar semanal na mesa do brasileiro.  

As perspectivas de crescimento do consumo de carnes porcinas no Brasil será o vetor principal de crescimento desse segmento. A manutenção dos níveis atuais de exportação e a ampliação do número de mercados para o qual possamos exportar acelerará esse prognóstico, pois um dos méritos maiores e frequentemente esquecido das exportações é a sua contribuição para o desenvolvimento do mercado interno pelo aprimoramento e diversificação da produção. 

Apresentamos como despedida a tabela síntese do consumo per capita de todas as principais carnes e o total. Pedimos que nos encaminhem qualquer dado adicional disponível a ser acrescido e/ou corrigido para o aprimoramento deste trabalho que esperamos lhes seja minimamente útil.

Não obstante o declínio no nosso consumo per capita de carnes no período de 2019-2021, o brasileiro segue como um dos grandes carnívoros mundiais. Alvíssaras para 2022? Não tenho dúvidas sobre o aumento da produção e das exportações de carnes do Brasil, mas não tenho a mesma segurança em relação ao consumo interno, que não deve sofrer nem quedas e nem expansões significativas. Esperemos que eu esteja errado.

Tabela VII               

Tabela 7Gráfico 2

Códigos

Códigos 1

Códigos 2

Códigos 3

Códigos 4

Códigos 5

Códigos 6