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O uso do biodigestor

A produção do biofertilizante e do biogás em granjas suinícolas pode render bons lucros ao produtor.

Redação SI 22/04/2002 – Você sabia que as fezes dos suínos podem render cinco vezes mais que a sua carne? Pois é, em Toledo, no Paraná, uma granja está ressuscitando o velho biodigestor, que produz adubo e gás metano usando os dejetos da granja de suínos. Só com o uso do gás o proprietário está lucrando muito mais do que com a granja.

A principal atividade da granja Bombardelli é a produção de leite. O rebanho deles produz 2 mil litros por dia. Além disso, compram mais 18 mil dos vizinhos para tocar um laticínio, que pasteuriza, empacota o leite e produz alguns derivados.

A granja se dedica também à engorda de 1.200 porcos no sistema de integração. Os negócios são dirigidos por Jandir Bombardelli, que nos faz uma revelação surpreendente. “Nós costumamos dizer que o porco aqui para nós é subproduto. Para você ter uma idéia, essa granja de 1.200 tem uma renda líquida por volta de R$ 1 mil. Com a produção de biogás, nós temos uma economia por volta de R$ 5 mil a R$ 6 mil mensais. Então nós temos uma renda com o biogás cinco vezes maior do que com os próprios suínos”, diz Jandir.

O biogás ou gás metano é produzido a partir dos dejetos dos suínos, armazenados no biodigestor, sistema muito usado na China e na Índia. A fermentação se dá através do processo anaeróbico, isto é, sem a presença do oxigênio. Nesse modelo conhecido pelo nome de biodigestor solar, o gás é armazenado dentro da lona plástica que cobre o depósito de dejetos vedando todas as saídas. As caixas são de concreto em formato retangular e em cima vão os arcos para dar sustentação à lona.

Numa das pontas do biodigestor fica a entrada dos dejetos e na outra a saída. O sol que incide sobre a lona, acelera o processo de fermentação dos dejetos e libera o gás que fica armazenado dentro da lona. Uma caixa lateral serve de depósito para o biofertilizante, adubo orgânico, produzido no processo de fermentação, rico em nitrogênio, fósforo e micronutrientes. Em muitas granjas os dejetos são jogados nos rios, poluindo o ambiente, mas na granja Bombardeli, eles passam pelo biodigestor e se transformam num excelente adubo, o biofertilizante, que é bombeado e distribuído nas pastagens.

A alfafa, usada para produzir feno para os animais, também é adubada com o biofertilizante. Todo mundo sabe que a alfafa é uma cultura extremamente exigente em solo e também em adubação.

Adubação
– O biodigestro foi implantado em 1999 e até agora só foi utilizado na adubação orgânica. O biofertilizante, provindo de dejetos de suínos, não está apresentando nenhuma dificuldade, nenhuma deficiência e a produção em volume também está bem satisfatória pela cor. Foi utilizado calcário antes da implantação para corrigir o ph e a adubação somente orgânica.

A maior economia que o pessoal da granja faz ainda é no uso do gás metano, armazenado no biodigestor. Ele toca todos os motores que distribuem o biofertilizante e é canalizado para o laticínio, onde é queimado na caldeira usada na industrialização do leite.

Na década de 80, muitos produtores investiram na instalação de biodigestores. Sistema que ficou popular no Brasil, mas aos poucos esse sistema foi sendo desacreditado. Agora, principalmente depois da crise energética, o biodigestor está ressuscitando.

“Eu acredito que o fator principal do biogás ficar desacreditado é a não utilização do biogás. Existia o biodigestor, existia a produção de gás, mas não existia onde consumir o gás. É inviável na propriedade fazer um biodigestor gastar 10 a 20 mil reais, simplesmente, tira o gás de cozinha utilizado na família. Isso não dá retorno e inviabiliza qualquer projeto. Hoje, o nosso biodigestor é viável porque nós damos, ao biogás, um uso que traz uma economia muito grande. Então é isso que, na minha opinião, inviabiliza o biodigestor. É a utilização de biogás”.

O Programa Nacional do Meio Ambiente está financiando a instalação de biodigestores em granjas de suínos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. São prioritárias as propriedades situadas nas áreas dos mananciais que fornecem água para o abastecimento público. Os interessados devem procurar os representantes do Ministério do Meio Ambiente em seu Estado.