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Entrevista Exclusiva

Os "S" de um novo mundo, o qual o Brasil deveria ser protagonista

Saúde, sanidade e sustentabilidade serão temas-chave no pós-pandemia, cujas discussões poderiam ser lideradas pelo Brasil de uma forma proativa

Os "S" de um novo mundo, o qual o Brasil deveria ser protagonista

Marcos Sawaya Jank é professor e pesquisador sênior de Agronegócio Global do Insper. Formado engenheiro agrônomo pela Esalq/USP, com pós-graduações no Brasil e no exterior, presidiu entidades como a Unica e Icone; atuou ainda na Ásia

Por Humberto Luis Marques

 

O mundo pós-pandemia terá alguns temas centrais em sua pauta, os quais podem ser resumidos em três palavras que em português começam com a letra “S”: saúde, sanidade e sustentabilidade. Embora sejam assuntos já evidenciados há algum tempo, eles irão saltar para o topo das prioridades e de uma forma inter-relacionada. Os três “S” basicamente representam o conceito One Health, ou Saúde Única, que correlaciona saúde humana, saúde animal e meio ambiente, demonstrando a completa dependência de um em relação ao outro.

Esta temática tende a fazer parte de novas exigências e preocupações em todo o mundo, impulsionadas pela realidade imposta pela disseminação do SARS-CoV-2, que levou a paralização da economia global, colapsos em sistemas de saúde pública e tem uma origem zoonótica. Um bom exemplo do tom que estes três “S” passarão a tomar conta das discussões internacionais pós-pandemia é recente decisão da China em bloquear frigoríficos brasileiros devido a casos de Covid-19 em colaboradores, mesmo sem evidência científica da transmissão via alimentar.

“O fato de os chineses adotarem esta medida de caráter preventivo de uma maneira arbitrária, nos mostra como este assunto irá ganhar relevância daqui para frente”, afirma Marcos Sawaya Jank, professor e pesquisador sênior de Agronegócio Global do Insper, especialista em comércio internacional com ênfase em mercados asiáticos.

A relevância de toda esta temática deveria motivar o Brasil a assumir um papel de protagonista nas discussões internacionais, inclusive de uma forma propositiva. O país é um dos principais fornecedores globais de alimentos, tem bons níveis sanitários em produção animal e experiências bem-sucedidas no modelo de integração produtor-processadora, o que poderia servir de referência a outros países.

Jank lembra que algo próximo a 95% do consumo de carnes, pescados, hortícolas e outros produtos se dão em mercados tradicionais, conhecidos como “wet markets” ou mercados molhados. São ambientes são sem sistemas de refrigeração, que usam gelo e água para manter baixa a temperatura dos produtos e, onde, normalmente, são comercializados e abatidos animais domésticos e até silvestres. “Esta é uma forma dominante de consumo das famílias na Ásia e na África. Esta combinação de muitas pessoas circulando em um ambiente apertado, com produtos frescos, sem refrigeração e onde há animais vivos e o próprio abate, pode ser um campo muito importante de contaminação”, alerta o especialista do Insper.

Segundo Jank, o Brasil pode e deve liderar todas as discussões no cenário internacional, mas, para isto, é preciso estabelecer um diálogo aberto com todos os outros atores globais, tendo como base dados científicos de qualidade e coletados de forma reconhecida. Além disto, o país precisa estabelecer uma maior presença global, com mais representantes em países-chave, num movimento que seja permanente, não esporádico. “É um diálogo que tem de ser realizado no local, nos países-chave dentro dos temas a serem tratados, assim como nos organismos internacionais”, afirma Jank.

 

Avicultura Industrial – O senhor tem afirmado que no mundo pós-pandemia um tema central será o que podemos chamar de três “S”: Saúde, Sanidade e Sustentabilidade. Qual será o impacto deste tema, desta nova realidade, sobre o comércio internacional de alimentos?

Marcos Sawaya Jank – Nós já vínhamos falando há bastante tempo do “S” da sustentabilidade, principalmente com relação às questões ambientais no agro brasileiro. Inclusive, é um aspecto que agora tem ganhado uma grande proeminência global e gerado muito impacto. Sempre tratamos menos dos “S” saúde e sanidade. A saúde estava mais relacionada ao aspecto da dieta, problemas ocasionados pela fome ou obesidade. Não estávamos muito atentos ao tema zoonoses; o impacto das zoonoses na saúde humana. O mundo nunca imaginou que um vírus – assim como qualquer outro do passado: Ebola, SARS, MERS, Gripe Espanhola e tantos outros – pudessem fechar a economia global. Então, este tema da relação entre saúde humana, saúde dos animais e a própria saúde do planeta irá ganhar uma proeminência muito grande; e estas três coisas estão intimamente interligadas. O conceito de Saúde Única nasce com Hipócrates, o pai da Medicina. Há 400 anos antes de Cristo ele já dizia que a saúde das pessoas, dos animais e dos ecossistemas estão integradas; e é disto de que se trata os três “S”, os quais irão ganham proeminência daqui para frente.

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