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Saúde Animal

Pneumonia Enzoótica Suína: biosseguridade e imunização são chaves para proteger o rebanho

A doença é mundialmente difundida e estima-se que mais de 95% do plantel brasileiro seja positivo para o Mycoplasma hyopneumoniae, sendo um dos principais patógenos envolvidos em pneumonias nas granjas brasileiras

Pneumonia Enzoótica Suína:  biosseguridade e imunização são chaves para proteger o rebanho

A pneumonia enzoótica suína, causada pela bactéria Mycoplasma hyopneumoniae, é uma das principais doenças respiratórias dos suínos, não somente na a suinocultura brasileira, mas mundialmente, trazendo consequências para o animal e prejudicando o seu bem-estar.

O analista da Embrapa suínos e aves, Luiz Carlos Bordin, explica que a pneumonia enzoótica (P.E) é uma doença onde o epitélio ciliado das vias respiratórias é colonizado pelo Mycoplasma hyopneumoniae (M.H). Ela ocorre praticamente em todas as produções de suínos ao redor do mundo e é de difícil erradicação.  A P.E. é um dos agentes do chamado Complexo Respiratório Suíno pois, uma vez que ocorra a infecção, a imunidade respiratória fica seriamente comprometida dando oportunidade de outros agentes se unirem e agravarem os quadros clínicos. “Como exemplo temos a Pasteurella multocida, Streptococcus suis, Haemophilus parasuis, entre outros. O M.H. é também um agente potencializador de alguns agentes virais como PRSS, influenza e circovírus.”

Bordin conta que por ser imunossupressor o M.H pode regular a resposta imunitária do hospedeiro pela estimulação dos linfócitos. Através da indução da produção de citocinas pró-inflamatórias como a IL-1 TNF e IL-6. Estas são responsáveis por grande parte das inflamações e pela característica crônica da P.E. “O curso da infecção é lento e assim se manifesta principalmente em animais na fase de crescimento e terminação. Esta enfermidade caracteriza-se por alta morbidade e baixa mortalidade. O rebanho apresenta queda de desempenho observada pela diminuição do ganho de peso diário e aumento da conversão alimentar levando ao atraso para alcançar o peso de abate”.

A P.E. é amplamente prevalente nos rebanhos comerciais brasileiros. Cerca de 95% das granjas comerciais são positivas excetuando apenas algumas granjas núcleo. A bactéria pode persistir por longos períodos no trato respiratório dos suínos e a prevalência em granjas é alta fazendo com que a doença se torne presente constantemente.

Os fatores de risco como   a mistura de lotes e superlotação, poeira e gases tóxicos em altos níveis, temperatura e umidade inadequadas, presença de agentes imunossupressores como as micotoxinas e ausência de vazio sanitário resultam em elevadas prevalências de lesões pulmonares em suínos de abate em nosso país.

O pesquisador conta que o impacto produtivo está relacionado diretamente ao atraso da saída dos animais para o abate. Deste modo os índices de conversão alimentar e o ganho de peso diário estão altamente comprometidos. “Embora não seja uma doença que cause alta mortalidade sua associação a outros agentes levam a uma considerável fonte de mortalidade. Despesas com medicamentos e perdas por condenação de carcaças são igualmente impactantes para o setor produtivo”

Sinais Clínicos e transmissão

“O curso da infecção é lento e assim se manifesta principalmente em animais na fase de crescimento e terminação. Esta enfermidade caracteriza-se por alta morbidade e baixa mortalidade" Luiz Carlos Bordin, analista da Embrapa suínos e avesO analista enfatiza que a P.E. pode causar sinais clínicos desde discretos até mais severos (junto com maiores prejuízos econômicos) de acordo com outros agentes envolvidos – vírus ou bactérias – e também do ambiente a manejo. “Nas infecções não complicadas por M.H. o resultado da pneumonia crônica produz tosse não produtiva, pelo áspero, falta de apetite, queda no desempenho e lotes desuniformes. Já, com infecções secundárias os sinais clínicos são mais graves e assim poderá ocorrer aumento da tosse, dispneia (dificuldade respiratória), febre e prostração”

Ele conta que o suíno parece ser o único hospedeiro do M.S. Este agente tem pouca capacidade de sobrevivência ou resistência no ambiente, porém o suíno contaminado pode excretá-lo por mais de 200 dias. Sendo assim, a transmissão ocorre por contato direto com suínos afetados ou por aerossóis atingindo distâncias consideráveis. “Os animais com mais de 6 semanas são os mais prevalentes pois o período de incubação P.I. é dependente da dose. Doses menores cursam com P.I. acima de um mês a um mês e meio. Já doses altas podem diminuir o período de incubação para em torno de 10 dias”.

Bordin explica que os micoplasmas são caracterizados pela ausência de parede celular e o tratamento, que é baseado na utilização de antimicrobianos, pode não ser eficaz. “Os mesmos não são capazes de eliminar a bactéria das vias respiratórias do suíno. As tetraciclinas, macrolídeos, lincosamidas, pleuromutilinas, fluoroquinolonas e aminoglicosídeos são moléculas utilizadas frequentemente no tratamento da P. E”, completa

A realização de coletas de material e o diagnóstico laboratorial desempenham um fundamental passo no controle da doença para que o médico veterinário possa conhecer a dinâmica da infecção e o envolvimento de outros agentes infecciosos concomitantes.  Outro aspecto importante é a melhoria das condições de manejo e ambiente. Diminuição de estresse, qualidade de aeração e espaço, limpeza e desinfecção, manejo “todos dentro todos fora”, aclimatação, evitar mistura de lotes podem auxiliar positivamente no controle. Ações de biosseguridade são ferramentas importantes no impedimento da entrada do agente nas granjas.

Biosseguridade

Bordin ressalta que ações de biosseguridade devem ser implantadas para minimizar a entrada do M.H em granjas de produção.  A transmissão por aerossóis pode alcançar distâncias em torno de 9 Km e o isolamento das granjas, controle e desinfecção de veículos, desinfecção, adoção de sistemas “all in all out” são ferramentas auxiliares. A adoção de quarentena e aclimatação de reprodutores também são uma forma de eficiente de controle e manutenção de menores taxa de infecção de leitões.

A vacinação é amplamente utilizada e pode ser uma ferramenta fundamental em rebanhos afetados pelo M.H. Embora a vacinação não previna a colonização epitelial e nem reduza a transmissão do agente, o uso de vacinas demonstra uma diminuição da prevalência da doença, dos sinais clínicos e lesões pulmonares. “As estratégias de vacinação dependem das características epidemiológicas de cada granja e o veterinário clínico deverá optar por aquela que seja mais adequada.”

IMUNIZAÇÃO: ferramenta importante na sanidade do plantel

Além das ações de biosseguridade, outra ferramenta muito importante para a prevenção da P.E é a vacinação do rebanho. Brenda Maria Marques, gerente técnica da unidade de Suinocultura da MSD Saúde Animal, conta que o principal benefício da vacinação é manter a sanidade animal, prevenindo que os suínos sejam afetados pela doença. Além disso, há também o ganho econômico, pois lotes afetados pela pneumonia enzoótica tendem a apresentar perdas de peso, aumento na desuniformidade, aumento de gastos com medicamentos e predisposição a outras enfermidades.  “Em média, para cada 10% de pulmões lesionados, o ganho de peso médio diário é reduzido em 37 gramas.” Ela ressalta que a vacina é mais uma ferramenta dentro de um grupo de ações que devem ser tomadas para reduzir o impacto do Mycoplasma hyopneumoniae. “São todas essas ações, em conjunto, que garantem uma granja com suínos saudáveis.”

A gerente técnica explica que a vacina atua estimulando a imunidade ativa dos animais, através da produção de "Deve ser considerada também a vacinação de marrãs de reposição, categoria de fêmeas que participa de forma importante na dinâmica da doença no rebanho”, Brenda Maria Marques, gerente técnica da unidade de Suinocultura da MSD Saúde Animalanticorpos contra o agente infeccioso Mycoplasma hyopneumoniae, contribuindo para a redução dos sinais clínicos e lesões pulmonares, além de criar uma “base de memória imunológica” para quando o suíno estiver exposto ao contágio com o M. hyopneumoniae em sua própria granja. 

“A vacina normalmente é aplicada a partir da 3ª semana de vida do animal, período em que há queda da imunidade passiva transmitida das matrizes para os leitões, mas o protocolo deve ser definido com base na situação sanitária de cada granja. Deve ser considerada também a vacinação de marrãs de reposição, categoria de fêmeas que participa de forma importante na dinâmica da doença no rebanho”, detalha Brenda.

O Mycoplasma hyopneumoniae, é um dos principais patógenos envolvidos em pneumonias nas granjas brasileiras, assim, a vacinação dos animais é indispensável para manter a saúde dos suínos e evitar que a doença se dissemine pela granja e debilite diversos animais. “Por isso, para garantir a produtividade do rebanho, é essencial uma gestão eficiente da sanidade do rebanho, estando atentos a um bom manejo de vacinação dos animais, aliado a cuidados com o manejo, ambiência e transporte”, afirma a gerente da MSD.

Brenda relata que atualmente estão disponíveis vacinas conjugadas (Mycoplasma hyopneumoniae + Circovirus PCV2) com protocolos flexíveis em uma ou duas doses. “Além disso, ja estão disponíveis vacinas para aplicação via intradérmica (IDAL® System), não necessitando de agulhas. Esses avanços possibilitam otimização do processo de vacinação, além de minimizar o estresse nos leitões e reduzir o risco de disseminação de doenças entre os suínos devido à reutilização de agulhas em vários animais durante a vacinação, o que aumenta também o índice de lesões teciduais. Sem as agulhas, os operadores também ficam mais protegidos, pois não há riscos de ferimentos”, finaliza.