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Qualidade e competitividade nos agronegócios

O atributo qualidade já antecede o quesito preço na análise decisória dos compradores e no agronegócio, a qualidade reúne tópicos como apresentação do produto, propriedades organolépticas e segurança alimentar.

Da Redação 30/05/2003 – Houve época em que a decisão de compra era condicionada, quase exclusivamente, pelo critério do menor preço. A especificação técnica, e de outros atributos de qualidade, é uma inserção relativamente recente nas decisões de consumo individuais ou corporativas. Sob a égide da globalização de mercados, a qualidade atinge seu patamar máximo como condicionante das decisões de negócios. Passa a ser o passaporte para a abertura dos mercados mais exigentes e para a manutenção dos nichos de mercados mais disputados. Essa é uma característica marcante nos mercados do Primeiro Mundo, em que o atributo qualidade já antecede o quesito preço na análise decisória dos compradores, e seus reflexos positivos se fazem notar alhures, inclusive no mercado local do Brasil.

Melhorando a qualidade
O Brasil figura entre os países que maior esforço vêm despendendo na perseguição de um padrão internacional de qualidade, vinculado às séries ISO 9000. Esta atitude vai permitir, num futuro próximo, um nivelamento com os demais países que já dispõem de um conceito de qualidade solidificado no mercado. Além da qualidade de apresentação, do design do produto, da embalagem e demais acessórios, os produtos agropecuários necessitam preencher outros quesitos como:

Qualidade visual – É a primeira sensação transmitida ao consumidor, através da cor, da forma, da textura externa e da ausência de defeitos agronômicos, representados por deformações provenientes de técnicas de cultivo ou criação inadequados, ou seqüelas que denunciem status zoo ou fitossanitário impróprio. Neste caso, embora sem a presença do agente causal, o produto pode apresentar manchas, cicatrizes, redução de tamanho ou outra alteração de forma, resultado da ação de pragas agrícolas ou pecuárias, que depreciam o produto. É bom lembrar que a primeira impressão é a que permanece.

Qualidade fisiológica – São as sensações organolépticas de sabor ou perfume ou a reação ao tato. Considera-se nesta categoria a sensação física provocada pela mastigação, o equilíbrio entre os componentes do sabor – incluso o after taste, que é a sensação que permanece na boca após a deglutição. A elevada qualidade fisiológica é responsabilidade primária dos institutos de pesquisa, que criam as novas cultivares e raças, adequadas à demanda dos consumidores. Compete ao produtor e ao processador a observância das condições para que o potencial genético seja expressado em toda a sua amplitude. Entre os constritores dessa expressão encontram-se a inadequação sanitária, que pode alterar profundamente os componentes de perfume, sabor, textura e forma, depreciando a qualidade do produto.

Qualidade sanitária – Os mercados mundiais tornaram-se muito exigentes em relação à qualidade sanitária dos produtos destinados à alimentação humana, sendo a sua inocuidade um pré-requisito comercial. Contaminantes biológicos e químicos, resultado de um baixo nível sanitário das culturas e criações, passam a ser limitantes à penetração nos mercados com níveis de informação e de exigência mais elevados. O mercado hoje entende que um elevado nível sanitário é um patrimônio nacional, um fator que agrega valor aos produtos no mercado internacional. Refugam-se as partidas que venham acompanhadas de contaminantes (pragas) que possam representar uma nova ameaça à sanidade do país importador. O mesmo tratamento é dispensado a uma praga que, embora presente no país importador, possa causar danos à qualidade do produto em análise.

Competitividade e qualidade
Tendo presente que esta é resultante de um elevado patamar tecnológico e sanitário da nossa agropecuária. Aos produtos de qualidade inferior estarão reservados os mercados marginais, instáveis, de baixo valor. E não é este o mercado que interessa ao produtor brasileiro. Muito antes, pelo contrário. O setor agropecuário vem se firmando como o sustentáculo econômico, o baluarte do emprego e da renda dos brasileiros, a bóia de salvação da balança comercial brasileira, onde alcança um superávit que supera os US$ 20 bilhões. O sucesso na conquista dos mercados exigentes lastreou-se em nossa competitividade, a qual, a par das nossas vantagens competitivas naturais, foi alavancada pelo entendimento de que o investimento na qualidade dos produtos representaria a diferença entre liderar o mercado ou ser alijado do mesmo.

por Décio Luiz Gazzoni, Eng Agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja – [email protected]