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Balança

Queda da importação sustenta alta do saldo comercial em 2020

Superávit cresce 6,16%, mas dezembro sinaliza tendência de elevação das compras externas para 2021

Queda da importação sustenta alta do saldo comercial em 2020

Graças à queda mais forte das importações do que das exportações, a balança comercial do Brasil terminou 2020 com superávit de US$ 50,994 bilhões, alta de 6,16% em relação ao saldo de 2019. O mês de dezembro, porém, mostrou reação mais expressiva das compras externas, tendência que deve ganhar fôlego ao longo deste ano, refletindo a melhora da demanda doméstica. Mesmo assim, governo e especialistas esperam novo aumento do saldo comercial em 2021, sustentado pela demanda ainda firme da China, cotações elevadas de commodities e, também, alguma recuperação nas vendas de produtos manufaturados.

Divulgado ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o superávit comercial de 2020 resultou de redução de 6,86% das exportações frente 2019, para US$ 209,92 bilhões, enquanto as importações diminuíram 10,39% na mesma base de comparação, para US$ 158,926 bilhões.

Em dezembro, a balança teve déficit de US$ 41,6 milhões, com alta de 39,9% das importações (para US$ 18,406 bilhões) e retração de 5,3% das exportações (para US$ 18,365 bilhões) em relação a igual mês de 2019.

Segundo o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior, Herlon Brandão, desconsideradas a nacionalização de cinco plataformas de petróleo no período, haveria crescimento de 4% nas importações. “Haveria um superávit comercial como é sazonalmente esperado”.

Mesmo excluindo a influência atípica das plataformas, o avanço das compras externas no último mês do ano marca uma mudança da dinâmica da balança no fim de 2020, avalia Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria. A expansão foi a primeira das importações na comparação anual desde fevereiro, observa Campos Neto. De junho a outubro, acrescenta ele, houve retração média de 26,6% das compras por mês.

“É um sinal importante de melhora da atividade interna, ainda que não seja uma recuperação robusta e acelerada”, diz ele. Em sua visão, a retomada das importações deve seguir de forma gradual ao longo deste ano, acompanhando a recuperação da economia doméstica. No cenário da Tendências, o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer 2,9% em 2021, número que Campos Neto considera moderado.

“Mesmo excluindo as transações envolvendo plataformas de petróleo, as importações seguem em recuperação, refletindo a normalização da demanda doméstica”, apontam os economistas Thales Caramella e Julia Gottlieb, do Itaú Unibanco. Nos cálculos do banco, a média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada das importações avançou de US$ 148 bilhões em novembro para US$ 160 bilhões no mês seguinte. O dado desconsidera as plataformas.

Segundo Campos Neto, as importações devem crescer mais este ano devido à retomada da economia brasileira e a uma taxa de câmbio menos depreciada, que, nas estimativas da consultoria, terminará o ano abaixo de R$ 5.

Na projeção de superávit comercial de US$ 52,1 bilhões para 2021, a Tendências estima alta de 11,2% nas importações ante 2020, para US$ 176,8 bilhões. Já as exportações devem somar US$ 228,9 bilhões no ano. “Do lado das exportações, a melhora das condições econômicas globais, diante da esperada superação da pandemia ao longo do ano, e o impulso ainda trazido pela China e pelas commodities valorizadas explicam a expectativa de alta de 9% em relação a 2020”, afirmou.

De 2019 para 2020, os embarques brasileiros ao país asiático subiram 7,8% pelo critério de média diária, para US$ 67,747 bilhões. Assim, a participação chinesa na pauta de exportações brasileira avançou 4,2 pontos percentuais, para 32,3%. Em sentido contrário, a fatia dos EUA, segundo maior parceiro comercial, recuou de 13,2% para 10,2%. Já a parcela da Argentina teve queda de 0,3 ponto, para 4%.

Para José Augusto de Castro, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), a retomada da economia global, liderada pela China, deve impulsionar as vendas externas do Brasil este ano, ao mesmo tempo em que a reação da demanda doméstica deve dinamizar as importações. Em suas estimativas, a balança terá saldo de US$ 69,018 bilhões em 2021 – aumento de 33% sobre 2020, com alta de 7,3% das importações e de 13,7% das exportações na mesma base de comparação.

“A importação vai depender do mercado interno. Já a alta das exportações depende exclusivamente das commodities”, disse Castro. Em 2020, os embarques de soja cresceram 6% sobre o ano anterior pelo critério de média diária. Já as vendas de minério de ferro aumentaram 14,3%. Nos cálculos do Itaú, enquanto a venda de manufaturados caíram 17,5% no ano passado, as exportações de bens básicos ficaram praticamente estáveis, com incremento de 0,5%.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, afirmou que a recuperação do comércio em 2021 deve ser “relativamente uniforme” entre os setores. Segundo ele, “certamente” haverá crescimento maior das exportações de bens manufaturados do que o observado em 2020. “E também teremos nível de importação maior”, acrescentou.

Nas estimativas da Secex, também publicadas ontem, a balança comercial terá saldo positivo de US$ 53 bilhões no acumulado de 2021. As vendas externas devem totalizar US$ 221,1 bilhões, e as compras, US$ 168,1 bilhões. Se, em 2020, a resiliência das exportações foi bastante influenciada pela economia chinesa, para 2021, há sinalização de reação também de outros parceiros, como EUA, União Europeia e Argentina, defendeu Ferraz.