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R$ 62 bi de 'lucro social' são gerados pela Embrapa

Ainda sem orçamento definido para 2021, estatal ampliou parcerias com setor privado na pandemia

R$ 62 bi de 'lucro social' são gerados pela Embrapa

O impacto da adoção das inovações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) gerou um “lucro social” de R$ R$ 61,85 bilhões em 2020. O número leva em conta o uso de 152 soluções tecnológicas e 220 cultivares desenvolvidas pelos pesquisadores. Como a receita líquida da estatal foi de quase R$ 3,5 bilhões no ano passado, o balanço apresentado ontem mostrou que para cada R$ 1 aplicado a empresa consegue devolver R$ 17,77 em benefícios para a sociedade.

Com o aperto fiscal do governo agravado pela pandemia, a Embrapa tem trabalhado para ampliar a integração com o setor privado, que financia hoje 20% dos projetos de pesquisa e responde por 35% dos investimentos feitos na estatal – a meta é chegar a 40% do portfólio em 2023. Ainda sem orçamento definido para este ano, o presidente Celso Moretti afirmou que ficará satisfeito se conseguir manter os patamares de recursos de 2020. Ele disse também que conseguiu “exorcizar o fantasma da privatização”, medida cogitada no início do governo.

“Trabalhamos bem na exorcização desse fantasma. A Embrapa é uma empresa do Estado brasileiro”, assegurou. “Não é mais questão de segurança alimentar, mas de segurança nacional para o Brasil, é estratégica para o futuro do país”, continuou, ao justificar a importância socioeconômica e ambiental das novidades pesquisadas pela estatal, como a geração de 41,4 mil empregos em 2020. Somente a fixação biológica de nitrogênio, tecnologia lançada em 1993, gerou economia de R$ 28 bilhões no ano passado ao Brasil ao evitar a importação de adubos nitrogenados.

A Embrapa lançou quatro novas tecnologias. São duas cultivares, uma de algodão transgênico e outra de soja convencional – a primeira com resistência à ferrugem asiática e tolerância a percevejos e que pode ser utilizada para o plantio no sistema orgânico – e a Plataforma Aquaplus de análise genética de linhagens de oito espécies de interesse para a aquicultura.

Moretti apresentou ainda o Auras, um produto biológico que pode ajudar na convivência das plantas com a seca e no aumento da produção agrícola em regiões com baixa disponibilidade de água, como o semiárido brasileiro, que tem mais de 100 milhões de hectares. O bioinsumo é produzido a partir de bactérias encontradas no mandacaru, espécie de cacto comum no Nordeste brasileiro, e promove “uma parceria com a raiz” para resistir ao estresse hídrico.

Esse é o primeiro produto biológico registrado no Brasil para essa finalidade. Durante uma década, os pesquisadores observaram a planta do mandacaru e a relação com as bactérias existentes no solo, que foram selecionadas para a criação do insumo.

A tecnologia vai chegar ao mercado por meio de uma parceria público-privada com uma empresa do setor e será indicada, inicialmente, para a cultura do milho, para uso com as variedades resistentes à seca desenvolvidas pela estatal. A expectativa é que o bioinsumo possa ser aplicado também na segunda safra do cereal no Centro-Oeste, mais suscetível a desajustes no clima, e também em outras culturas.

“A ideia é que o bioproduto funcione na planta do milho da mesma maneira que funciona no mandacaru. Ela estabelece essa relação quase que simbiótica e faz com que a planta consiga conviver com essa baixa disponibilidade de água”, explicou Moretti. “A seca você não combate, usa a inteligência e convive com ela. Esse bioinsumo vai ajudar na produção de alimentos, quem sabe não conseguimos agregar a produção de forrageiras adaptadas ao semiárido”, pontuou.

Seguindo tendências de consumo mundiais e as cobranças internacionais feitas ao Brasil na área ambiental, a Embrapa quer ampliar o rol de protocolos para a produção agropecuária com baixa emissão de gases de efeito estufa. Após lançar a carne carbono neutro e a soja de baixo carbono, a empresa iniciou estudos semelhantes para identificar o leite, o café e o algodão brasileiros produzidos com menos impacto ao meio ambiente.

Para o leite, o estudo prevê a criação de calculadoras para contabilizar a redução do carbono por bioma e por sistema de produção, a pasto ou confinamento. “O produtor poderá ser melhor remunerado pela empresa”, concluiu.