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Região Oeste do Paraná é modelo em agricultura conservacionista

Os trabalhos voltados à conservação de solos no Paraná evoluíram do plantio direto para o manejo de microbacias ainda na década de 1980

Região Oeste do Paraná é modelo em agricultura conservacionista

O plantio direto é utilizado em 80% das propriedades produtoras de grãos no estado do Paraná. Contudo, as perdas de nutrientes são estimadas em 242 milhões de dólares por ano pela baixa adoção de práticas da agricultura conservacionista.

A parceria entre a Embrapa e o Sistema OCB contou com a atualização da assistência técnica em agricultura conservacionista e fertilidade do solo, com resultados que estão chegando aos produtores rurais em todo o País. No Paraná, um dos exemplos está na região oeste do Estado, com a promoção da agricultura conservacionista através da atuação do departamento técnico da cooperativa C.Vale.

Os trabalhos voltados à conservação de solos no Paraná evoluíram do plantio direto para o manejo de microbacias ainda na década de 1980.

“O manejo de solo foi orientado pelas microbacias, desconsiderando a divisa das propriedades, pois a água não respeita cercas. O trabalho em microbacias permitiu o planejamento no uso do solo em toda a região com resultados mais efetivos”, conta Enoir Pelizzaro, gerente do departamento técnico da CVale.

Uma das tecnologias difundidas naquela época foi a construção de terraços em nível para conter o excedente de água das chuvas que não infiltravam no solo.

Em Palotina, PR, o produtor Jonas Vendruscolo construiu 24 terraços nos 400 hectares de lavoura ainda na década de 1980. “Sempre achei que estava fazendo tudo certo, com curvas, terraços e rotação de culturas em benefício do solo. Fiquei surpreso quando o pessoal da C.Vale chegou e disse pra tirar todos os terraços, que estavam ali há mais de 30 anos”, lembra Jonas.

Hoje, são apenas 7 terraços na propriedade, que foram reposicionados e redimensionados para melhor adequação às operações agrícolas: “Com as máquinas cada vez maiores, precisamos reduzir o trânsito na lavoura, otimizando as operações com menos entradas nas áreas e maior capacidade e agilidade nos equipamentos”, diz o produtor, destacando que o reposicionamento dos terraços aprimorou a contenção de enxurradas. 

“Logo que implantados, os novos terraços suportaram chuvas de 130 mm numa única noite”, disse, lembrando que a contenção só foi possível com a ajuda da boa cobertura do solo deixada pela palhada na rotação de culturas como milho, trigo e aveia: “Não adianta ter terraços e não ter palha no solo. É preciso reduzir o volume e a velocidade da enxurrada e não apenas tentar conter o que a chuva levou”.

As práticas de agricultura conservacionista foram determinantes para manter a família Dazzi na atividade. Na década de 1970, a produção de grãos começou com uso intenso do arado e da grade e a erosão rapidamente tomou conta da fazenda, em Palotina, PR. “ Sofríamos com perdas na fertilidade do solo, grandes áreas com sulcos abertos pela erosão e consequente queda das produtividades. Foi preciso rever as ações e buscar ajuda na assistência técnica para continuar produzindo”, afirma o produtor Adir Dazzi. Com o manejo correto do solo, a família conseguiu triplicar a área da fazenda em menos de uma década, chegando a 1200 hectares nos municípios de Palotina e Iporã.

Ampliando a divulgação dos terraços

De acordo com estudos da Embrapa Trigo, os terraços previnem perdas de solo, água, corretivos, nutrientes, fertilizantes, restos culturais e matéria orgânica no solo que acabam sendo levados pela erosão.

“A economia com fertilizantes pode chegar a 40%, além de preservar os atributos químicos e físicos do solo que impactam diretamente na produtividade de grãos”, alerta o pesquisador José Eloir Denardin.

Ele lembra, ainda, a importância de conter o escoamento da chuva nas lavouras visando à preservação dos recursos hídricos: “Podemos rapidamente identificar como está o manejo de uma lavoura apenas observando a cor da água do rio mais próximo num dia chuvoso.

Além da turbidez da água suja com o solo, análises químicas certamente vão mostrar a contaminação com resíduos de fertilizantes e defensivos. Ou seja, a erosão implica tanto em impactos econômicos quanto ambientais na produção agrícola”.

Apesar das inúmeras vantagens, o uso de terraços ainda tem baixa adoção no Paraná. Segundo o pesquisador Tiago Telles, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR/IAPAR), vários fatores podem explicar a resistência dos produtores à construção de terraços agrícolas: “É difícil isolar qual fator é o mais impactante. Entre os motivos apresentados estão o uso de máquinas agrícolas cada vez maiores e o cultivo na direção do declive, buscando reduzir o tempo de operação e o consumo de combustível”.

Outro fator que pode explicar a falta de uso ou mesmo a retirada dos terraços visa ampliar a área de cultivo: “A condição econômica da propriedade pode superar as necessidades topográficas durante a tomada de decisão quanto ao uso da terra.

Ainda assim, verificamos que a probabilidade de uso dos terraços é 18% maior para os produtores cujas fazendas estão em declive e os terraços são 24% mais frequentes quando os produtores avaliam que seus solos não são férteis”, explica Telles.

Na área de atuação da C.Vale no Paraná, a conservação do solo possibilitou o uso de áreas marginais para a implantação de açudes, estimulando uma nova fonte de renda com a criação de peixes destinados ao frigorífico da cooperativa.

“Antigamente, a água da lavoura escoava para as estradas, que ficavam intransitáveis, contaminando todo tipo de recurso hídrico. Com o escoamento resolvido, os rios e açudes mantém a água límpida e recebem apenas o reforço da chuva”, explica o engenheiro agrônomo Enoir Pelizzaro.

O quadro técnico da C.Vale conta com 263 agrônomos e veterinários para atender mais de 23 mil associados, com unidades no RS, SC, PR, MS, MT e no Paraguai.

Profissionais do departamento técnico da CVale participaram do módulo de atualização em agricultura conservacionista e fertilidade do solo promovido na série de capacitações na parceria Embrapa e Sistema OCB, com o apoio da Ocepar.

“O papel da pesquisa agropecuária é gerar informações para o campo, mas também transferir os conhecimentos para agentes multiplicadores, como a assistência técnica, que vai levar a pesquisa até o produtor. Esse é o caminho para promover, de modo efetivo, resultados no setor produtivo, com impactos em diversos segmentos da sociedade”, conclui Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo.

Segundo ele, após a qualificação de quase 200 profissionais do cooperativismo em seis anos de capacitações na cadeia produtiva de cereais de inverno, está sendo desenhado um novo projeto de parceria com o objetivo de ampliar ainda mais o alcance dos resultados gerados pela pesquisa agropecuária brasileira.