Redação SI (Edição Regiões 159/2002) – Maior plantel suinícola nacional, maior produtor e exportador de carne suína brasileira, maior consumo per capita do País, sede das principais cooperativas e agroindústrias instaladas no Brasil. Santa Catarina é hoje o maior expoente da suinocultura brasileira. Os números revelam toda a pujança da atividade no Estado e sua importância para a suinocultura nacional.Com um rebanho suíno de 4,7 milhões animais, o Estado obteve uma produção de 665 mil toneladas de carne suína no último ano. É responsável pelo abate anual de 8 milhões de cabeças de suínos, cerca de 30% do abate nacional. O consumo per capita de carne suína é de 22 quilos anuais, cerca de dez quilos a mais do que o consumo médio nacional. Devido à qualidade de seu rebanho e de seu status sanitário, Santa Catarina responde por 80% das exportações brasileiras. Em 2001, das 265 mil toneladas de carne suína exportadas, aproximadamente 210 mil foram produzidas no Estado. As vendas externas renderam a Santa Catarina US$ 231 milhões. Santa Catarina possui atualmente 18 mil propriedades produtoras de suínos para venda industrial. Outro grupo expressivo de produção na região, cerca de 35 mil, é representado pelas propriedades voltadas à produção de animais para consumo próprio, comercializando os excedentes. Principal atividade pecuária do Estado, a suinocultura catarinense participa com cerca de 18% do valor bruto da produção agrícola estadual.O território catarinense conta hoje com sete frigoríficos com inspeção federal, reconhecidos e capacitados ao abate de suínos tanto para o abastecimento do mercado interno quanto externo. Santa Catarina possui ainda 80 pequenos e médios frigoríficos com inspeção estadual. Seu percentual de carne in natura produzida hoje é bastante pequeno. A maior parte da produção suína sofre processamento industrial. “As indústrias oferecem atualmente, em sua grande maioria, cortes de carne suína industrializada, ou seja, temperada, pré-cozida etc.”, explica Paulo Tramontini (foto), presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suíno (ACCS). “Essa transformação é muito importante porque disponibiliza ao consumidor e, principalmente à dona-de-casa, uma proteína de alta qualidade de forma prática, cômoda e fácil”.Tradição suinícola – Mas não é à toa que Santa Catarina ocupa posição de destaque no cenário suinícola brasileiro. A suinocultura está arraigada na cultura do povo catarinense. A forte influência da colonização italiana e alemã, que fixou colonos em pequenas propriedades no Sul do País, possibilitou o grande desenvolvimento da suinocultura na região. A formação do complexo agroindustrial, por meio da instalação das grandes agroindústrias e cooperativas (Sadia, Perdigão, Aurora, Seara, Chapecó, Fricassa, Gumz, Pamplona etc.), permitiu aos suinocultores o escoamento de sua produção, sedimentando a atividade em Santa Catarina. “A pequena propriedade e a vocação natural do catarinense para a suinocultura contribuíram para alavancar a atividade no Estado”, afirma Vicenzo Mastrogiacomo, diretor industrial da Cooperativa Central Oeste Catarinense Ltda., detentora da marca Aurora. “No entanto, a maior vantagem competitiva de Santa Catarina é que o produtor tem para quem entregar a sua produção, tem mercado. Em outras partes do País, os produtores produziam o suíno mas não tinham para quem vender”.Características como clima , território e solo favoráveis à produção também explicam a força da suinocultura catarinense. Por ser sede do maior parque agroindustrial do Brasil, todas as empresas que fazem parte da cadeia suinícola, nos mais variados segmentos (genética, equipamentos, saúde, nutrição etc.), estão instaladas ou possuem representação no Estado.Controle sanitário – Uma das grandes vantagens da suinocultura catarinense se refere à sua condição sanitária. Segundo a ACCS, o Estado é hoje, dentro do contexto nacional, quem detém as melhores condições sanitárias na área de suínos. É o único Estado brasileiro com o reconhecimento dos organismos internacionais como livre de Peste Suína Clássica e de Febre Aftosa sem vacinação. “Esse é o nosso grande trunfo”, comemora Tramontini. “Os organismos internacionais que aqui estiveram, visitaram nossas indústrias, nossas granjas e puderam constatar que cumprimos todas as suas exigências”.Os cuidados com a questão ambiental também recebem bastante atenção no Estado. De acordo com dados da ACCS, mais de 80% do produtores catarinenses utilizam algum processo de tratamento de dejetos. Desde 1990, a entidade instalou um programa que orienta e estimula os suinocultores locais a adotarem algum tipo de sistema de tratamento, assim como a utilização dos dejetos na lavoura. “As pesquisas no setor de utilização e tratamento de dejetos aqui realizadas têm testado vários sistemas com grande eficiência”, comenta Tramontini. “O grande problema é a falta de recursos financeiros a custos acessíveis para que os produtores possam adotá-los em suas propriedades”.De acordo com Tramontini, em recente reunião entre a ACCS e o governo estadual ficou decidido que serão elaboradas novas normas para auxiliar os novos criadores que ainda têm algum sistema deficitário de tratamento de dejetos. “Essas normas visam dar orientação e privilegiar esses produtores por meio da liberação de recursos”, explica Tramontini. Outro assunto que tem merecido atenção especial da ACCS se refere à necessidade de uma legislação que especifique a quantidade de matrizes compatível com a área para a utilização dos dejetos produzidos.Sistema de integração – Composta predominantemente por pequenos e médios produtores, a suinocultura catarinense tem no sistema de integração uma de suas características mais marcantes. Hoje, 13 mil propriedades são integradas a cooperativas e agroindústrias, totalizando o alojamento de 350 mil matrizes. Cerca de 460 mil toneladas de carne suína são produzidas anualmente pelas integrações, ou seja, 90% dos suínos abatidos no Estado.Implementado pioneiramente em Santa Catarina, o sistema de integração na produção de suínos surgiu na década de 60, apresentando grande crescimento nas décadas seguintes.
O sistema proporcionou à suinocultura da época um grande salto de qualidade, uma vez que os produtores começaram a obter, a partir de sua implementação, melhores resultados zootécnicos e econômicos. “O sistema de integração foi importante para a suinocultura catarinense no passado, pois trouxe um nível tecnológico melhor ao meio rural”, afirma Ademir Francisco Girotto, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves (CNPSA) da Embrapa. “A suinocultura, no aspecto de evolução tecnológica, mudou rapidamente com o aparecimento do sistema de integração. Essa transição demoraria um tempo bem maior sem a adoção do sistema”.As integrações promoveram a difusão tecnológica principalmente com a disponibilização dos serviços de assistência técnica. Por meio desse apoio técnico, as integrações promoveram a especialização dos suinocultores, alavancando seus índices de produtividade. Promoveram ainda, uma maior eficiência na compra de insumos, na qualidade da alimentação, além de garantir a comercialização de terminados.Para esclarecer: no sistema de integração o suinocultor concentra-se na produção de leitões e/ou terminados (a maioria também produz parte dos grãos consumidos pelos animais da propriedade), trabalhando geralmente sob contrato com o integrador, que pode ser uma agroindústria ou uma cooperativa. Nessa relação, fica sob responsabilidade do integrador produzir e fornecer o material genético utilizado pelo suinocultor, o fornecimento de parte da alimentação, dos produtos veterinários (caso necessário), o serviço de acompanhamento e assistência técnica e a compra dos suínos terminados. Já o produtor participa da integração com a utilização de sua propriedade e infra-estrutura necessária para a produção dos suínos (equipamentos e instalações), da produção de grãos para parte da alimentação dos animais, de sua mão-de-obra para a entrega dos leitões desmamados ou suíno terminado. Vale destacar que embora na produção integrada exista o compromisso formal do integrado em vender seus animais para o integrador e da parte do integrador em comprar os animais do integrado, não existe garantia referente ao preço pago pelo produto. A pouca participação dos produtores na determinação dos preços e a impossibilidade de escolherem os compradores que pagam os preços mais altos, principalmente em épocas de escassez, são as principais desvantagens apontadas pelos suinocultores em relação ao sistema de produção integrada.Para Paulo Tramontini, embora apresente vantagens e desvantagens, o sistema de integração ainda é a melhor alternativa para o pequeno e médio produtor catarinense. “Principalmente porque a principal dificuldade do médio e pequeno produtor é a comercialização de seus animais”, diz. “Estando no sistema de integração o suinocultor tem mercado garantido para sua produção. Sem falar do serviço de assistência técnica, material genético de excelente qualidade e alimentação fornecidos pelo integrador”.Na opinião de Tramontini, a principal dificuldade do sistema de integração está na falta de um relacionamento mais participativo entre produtores e agroindústrias, ou cooperativas. “As desvantagens também existem dentro de uma integração, desvantagens essas que muitas vezes vêm da falta de organização do próprio produtor integrado”, revela. “Acredito que ainda falte uma maior integração entre produtores e agroindústrias e cooperativas para que eles possam discutir medidas, não só de sobrevivência mas de lucratividade para ambas as partes”, diz. “Já existem em Santa Catarina algumas integrações com associações de integrados que permanentemente se relacionam e discutem seus problemas com as integradoras. O produtor está despertando, acordando para o fato de que ele é o ponto básico de toda a cadeia”, conclui Tramontini.Novo perfil – O perfil do suinocultor integrado está paulatinamente mudando em Santa Catarina. O produtor de ciclo completo está dando lugar ao sistema de produção dividido entre produtores de leitão e terminadores. Segundo dados da Embrapa, existem hoje no Estado cerca de 2284 unidades produtoras de leitão e 1653 unidades terminadoras. Para Tramontini, a busca de uma maior lucratividade é a principal responsável por essa mudança. “O criador que produz leitões tem que ser altamente qualificado e selecionado. Já aquele pequeno produtor, que detinha quatro ou cinco fêmeas em sua propriedade foi transformado em terminador”, diz. “O produtor de leitões pode ganhar mais dinheiro do que se tivesse optado pelo ciclo completo, uma vez que gira um número maior de animais em sua propriedade. O pequeno produtor, que antigamente vendia no máximo 150 animais por ano ao frigorífico, hoje engorda cerca de 300. É lógico que a lucratividade diminuiu, mas ele movimenta muito mais capital”, explica o presidente da ACCS.Um bom exemplo dessa mudança pode ser verificada na Cooperativa Aurora. Maior abatedora de suínos do Estado, a Aurora trabalha com o sistema de integração desde sua fundação, em 1974. Hoje, a cooperativa conta com 130 mil matrizes produtivas distribuídas em 6200 granjas integradas, sendo 50% de ciclo completo e outros 50% divididos entre produtores de leitão e terminadores. Segundo Valdir Schumacher, assessor técnico em suinocultura da Aurora, essa mudança ocorre em função de os suinocultores estarem cada vez mais investindo na especialização, em busca de uma maior produtividade e lucratividade.Dificuldades – Apesar de ostentar números expressivos, a suinocultura catarinense enfrenta uma série de dificuldades que impedem o seu desenvolvimento. O principal entrave diz respeito à constante necessidade de importação de insumos de outras regiões. A dependência de milho e soja, produzidos em outros Estados, elevam substancialmente os custos de produção do suinocultor catarinense. Aliado a esse fato, Santa Catarina ainda sofre com a inexistência de uma estrutura de armazenamento que lhe permita estocar os insumos consumidos pela atividade durante o ano. “Faltam hoje no Estado silos e armazéns, bem como linhas de financiamento para a formação de estoques reguladores de milho”, diz Tramontini.Outro problema enfrentado pela suinocultura catarinense se refere à ausência de linhas de crédito e financiamento para investimentos na modernização das propriedades (adoção de novas tecnologias), melhorias do meio ambiente, treinamento gerencial e administrativo dos suinocultores etc. O problema de descapitalização do produtor o impede de realizar investimentos que o levariam a obter uma maior produtividade e, por extensão, uma maior rentabilidade. “Para que o produtor adote novas tecnologias, que por sinal são geradas permanentemente, seriam necessários recursos financeiros e investimentos a juros que compensassem sua adoção. O problema de financiamentos é bastante sério na atividade”, explica Tramontini.Perspectivas – As perspectivas para a suinocultura catarinense são bastante animadoras. Apesar de consolidada a atividade está em fase de expansão em várias regiões do Estado. O Oeste de Santa Catarina é um exemplo dessa atual expansão. Os municípios de Campos Novos, Joaçaba e Videira, que até pouco tempo não tinham nenhuma tradição suinícola, hoje já contam com um número crescente de propriedades voltadas à produção de suínos. A região Norte vive momento semelhante. Municípios como Mafra e Canoinhas, já comportam um grande número de propriedades voltadas à suinocultura.”A suinocultura está sendo implementada com grande sucesso nessas regiões. Além da possibilidade de ampliação, o positivo é que cada uma dessas áreas já possui empresas de transformação em fase de instalação”, comenta Tramontini. “Respondemos por 1/3 da produção brasileira e temos capacidade de produzir muito mais. No entanto, a preocupação que se deve ter com toda ampliação é a de garantir os insumos necessários para esse tipo de atividade e, principalmente, privilegiar os programas de meio ambiente”, alerta Tramontini.A ACCS prevê um crescimento de 7% na produção de suínos no Estado e de 35% na área de exportação durante o ano de 2002.
Principais empresas de suinocultura instaladas em Santa Catarina
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