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Negociação

Tereza Cristina negocia garantia de fornecimento de insumos da Rússia

Ministra põe em marcha a ‘diplomacia dos insumos’

Tereza Cristina negocia garantia de fornecimento de insumos da Rússia

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, colocou em prática uma “diplomacia dos insumos” e voltou de Moscou, na semana passada, com a garantia de governantes e empresários russos de que o país cumprirá os contratos de fornecimento de fertilizantes ao Brasil sem a aplicação das restrições às exportações anunciadas recentemente pelo Kremlin.

A Rússia prometeu, também, ampliar embarques de potássio e fosfatados para suprir eventuais interrupções no abastecimento brasileiro dos insumos importados de Belarus e China, que enfrentam diferentes crises. Essa garantia pode dar maior segurança aos planos dos produtores para a safra 2022/23.

Embora restem dúvidas e riscos, o compromisso obtido foi considerado uma vitória importante de Tereza Cristina, sobretudo num momento em que sua Pasta é alvo de críticas por causa da demora da China em reabrir definitivamente seu mercado para a carne bovina brasileira.

A situação mais delicada é a de Belarus, de onde o Brasil importa 23% do potássio usado nas lavouras, ou cerca de 2,5 milhões de toneladas por ano. Os embargos econômicos que serão aplicados pelos Estados Unidos e pela Europa a partir de 8 de dezembro podem respingar nos negócios a longo prazo firmados com produtores e empresas brasileiras.

Alguns pagamentos das importações, por exemplo, são feitos por bancos americanos e poderão ser impedidos com as sanções, assim como a contratação de garantias e seguros, o que inibe a ação dos brasileiros. Em Brasília, o risco de interrupção do fluxo dos navios com potássio de Belarus passou a ser considerado bem possível.

Mas o governo brasileiro pisa em ovos. A diplomacia não pretende tomar partido sobre a crise política belarussa. A intenção é evitar uma exposição diante de qualquer negociação ou alinhamento com o presidente do país, Aleksandr Lukashenko, retratado como o último ditador da Europa. Qualquer movimento mais enfático poderia enfraquecer os embargos americano e europeu.

Já as empresas importadoras brasileiras quebram a cabeça para encontrar soluções para o impasse. Entre as alternativas estudadas está uma negociação via China e mesmo uma permuta, como o Brasil faz com o Irã, com a possibilidade do envio de cargas de milho em troca de fertilizantes. Mas o preço alto do insumo e a necessidade de refazer contratos em cima da hora são um problema.

O setor acredita que há disposição da Rússia em ajudar Belarus em caso de novas sanções, mas o uso dos portos russos para exportar os insumos demandaria adequações e investimentos inviáveis no curto prazo. O tempo também é inimigo no caso do Canadá, onde novas minas de potássio foram descobertas, mas a produção só deverá aumentar consideravelmente em alguns anos.

Em outubro, representantes de cooperativas brasileiras e da Belarusian Potash Company (BPC), braço da estatal de exploração de potássio Belaruskali, estiveram no gabinete da ministra Tereza Cristina, em Brasília, para avaliar o cenário. Uma das sugestões do setor no encontro foi que o governo acionasse instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), como forma de pressionar a liberação do fluxo normal das exportações de Belarus, que ocorrem por terminal no porto de Klaipeda, na Lituânia.

O objetivo do governo é tratar a questão de forma generalizada, buscando organizar o ambiente para a negociação privada “assertiva e perene” e visando assegurar o abastecimento interno. Houve um salto no consumo de fertilizantes no Brasil nas últimas safras – de 36 milhões de toneladas, em 2019, para 40,5 milhões em 2020. As previsões mais modestas dão conta de que neste ano serão 44 milhões de toneladas.

A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) segue monitorando o mercado e está otimista de que o abastecimento será preservado em 2022. A reunião da comunidade europeia, no dia 8 de dezembro, para definir punições a Belarus, será determinante para tal, de acordo com o diretor-executivo da entidade, Ricardo Tortorella.

“O risco é haver sanção sobre a circulação de cloreto de potássio. Mas também existe a possibilidade de não acontecer nada”, disse ele. A expectativa de um final feliz aumentou com a atuação de Tereza Cristina e companhia em Moscou. “Foi a melhor ação e a melhor decisão possível. Havia risco de oferta limitada da Rússia, e esse risco agora a gente descarta”, disse Tortorella.

Segundo ele, as empresas de fertilizantes fizeram uma “ginástica” para garantir a distribuição dos adubos aos produtores em 2021. “Mesmo com todas as dificuldades previstas, conseguimos fazer as entregas”, disse Tortorella. O Brasil importa 85% desses produtos para atender à demanda doméstica.

O dirigente afirmou que as negociações para os próximos plantios seguem em ritmo normal. Cerca de 40% dos adubos da safrinha de milho do ciclo 2021/22 já foram negociados, e para a safra de grãos 2022/23 o percentual chega a 20%.